Detalhe
na Catedral de Compostela: em busca do sentido do perdão...
Um dia antes
de iniciar o Caminho Português a Santiago de Compostela, há 10 anos, elaborei os
textos que se seguem... Estava em Oporto, o exônimo espanhol e inglês que insisto
em adotar para a cativante cidade portuguesa... Relendo-os, neste momento de
pandemia, avalio que, aparentemente desconexos, eles revelam isto sim a alegre
e indisfarçável ansiedade que me abraçava diante na jornada solitária rumo ao
sepulcro do Apóstolo Tiago Maior naquele Ano Santo de 2010. Friso solitária,
mas repito que nunca me senti só em nenhuma das seis vezes em que fui sozinho
peregrinar o Caminho de Santiago.
Aliás,
talvez este seja o momento de reiterar a você, que se dispõe a acompanhar meus
passos e quer inspirar-se, para que peregrine só.
Não tema,
pois não se sentirá só.
Confie e empodere-se!
Não adianta
escorar-se em frágeis desculpas para justificar seu medo, sim medo, alegando,
por exemplo, que vai “ajudar” um amigo... Se quer mesmo ajudar seu amigo, vá só
e incentive-o a ir só.
Isto, é
claro, se o que você verdadeiramente busca é sentir a poderosa energia que
permeia a peregrinação pelo sagrado Caminho de Santiago, de ser acolhido pelo Espírito
do Caminho (não estou falando do hospitaleiro!!!), que te proporcionará
sentimento único, exclusivo, muito, mas muito diferente do que acontecerá se for
acompanhado – mesmo que com aquele que consideras o melhor amigo; ou ainda com
a amada esposa.
Após cinco das
seis peregrinações só, fui com minha amada esposa em 2016 (quando completávamos
32 anos de feliz união) – e peregrinamos o Caminho Inglês, com relatos no livro
“Juntos no Caminho” – e posso assegurar que sei o que estou escrevendo... A
propósito, nosso amor é cada vez mais forte!
Agora,
evidentemente, se o que pretendes é simplesmente andar, ou viajar, para curtir
o período de férias, não é mesmo preciso que estejas só. Afinal, como o Caminho
ensina: o caminhante, anda; o turista, viaja; e o peregrino, ah! este busca. E
se você quer experimentar toda a mística da peregrinação pelo Caminho de
Santiago, não há outra alternativa...
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#10yearchallenge
Bonde
elétrico de Oporto
Postado
em 05.06.10, 09h38 >>>>
Eu e mais...
Hoje, ao
despertar, 3 de junho (neste momento, já no Aeroporto Internacional de São
Paulo), dia em que dou mais um passo ao Caminho, busquei sinais. Nada que me
qualifique como uma vítima do TOC, aquele Transtorno Obsessivo Compulsivo que
ficou conhecido na pele do Rei Roberto Carlos. Algo místico, talvez, apenas
para sinalizar que o dia será coroado de êxito, como se todos os dias não o fossem,
pela simples comprovação numa primeira suspirada.
Caiu a
casquinha de minha penúltima espinha do rosto! A unha do dedão da mão direita
cresceu o suficiente e fez desaparecer a marca do hematoma que havia abaixo,
causado por uma mordida despretensiosa da Lady. Pelo sim, pelo não, mantive a
rotina e fui para o escritório trabalhar numa última (¿) (por onde anda a tecla
do sinal de interrogação¿¿¿) tarefa...
Desta vez,
em vez do tijolo de 15 polegadas, viajo com um net de 10 polegadas que, entre
poucos inconvenientes, tem o teclado mais compacto, o que faz com que esbarre
em teclas indesejáveis, e ainda não descobri como se grafa o referido sinal de
interrogação de forma correta.(NA: Tudo bem, corrigi os próximos na
revisão...).
O último dia
no Brasil também foi reservado para arrumar a mochila. E para isso contei com a
eficiente colaboração da paciente Sandra, minha mulher; claro, depois de
indicar exatamente o necessário. Afinal, sou eu quem vai carregar! E o primeiro
parâmetro é a utilização.
Mas ela sempre
me convence a levar algumas quinquilharias a mais, ou as introduz
sorrateiramente, como o cortador de unhas que vi entre os produtos de higiene!
Minutos
atrás (já em Madri), conferindo o que carrego na balança do check in da TAP, no
Aeroporto Barajas, constatei que a mochila pesa exatos 9 quilos e 500 gramas.
Mais a bolsa com o net, carregador, o pesado guia da El País/Aguilar... e estou
transportando, além dos meus 78 quilos, mais... 13 quilos e 400 gramas.
A conta vem
a propósito de que várias pessoas me questionam sobre o que se leva numa
peregrinação pelo Caminho de Santiago. Eu mesmo já li várias dessas listas,
dicas de peregrinos mais experientes, pois a composição da mochila é mesmo um
dado crucial para o sucesso da viagem.
Na primeira
peregrinação – em 2009, pelo Caminho Francês, 800 quilômetros em 29 dias – não
tive o cuidado de preparar uma lista e, apesar dos alertas e pelo excesso de
zelo de minha querida Sandra, atravessei os Pirineus e caminhei cerca de 100
quilômetros carregando cerca de 4 quilos absolutamente desnecessários, que, ao
final do 5º dia, em Estella, despachei para o amigo José Antonio Soto Rojas, em
Santander, na casa de quem fui descansar alguns dias após completar a
peregrinação.
Estou usando
e carrego (já pensando no que posso descartar...) um par de botas e um par de
chinelos, três pares de meias de algodão grossas, mais um par de meias para
caminhada, uma calça/bermuda e uma bermuda, de tecido fino, quatro cuecas, uma
sunga, uma malha grossa, duas camisetas dry fit de manga longa, duas camisetas
dry fit de manga curta, uma camiseta dry fit sem mangas, uma polo, um lenço,
uma bandana, chapéu de abas, um gorro, duas máquinas fotográficas, com
respectivos carregadores, celular com carregador, este net com carregador, guia
da El País/Aguilar, guia da Associação dos Amigos do Caminho Português de
Santiago, cerca de 10 folhas de papel com vários impressos, meia dúzia de
canetas, um saco de dormir, uma toalha de banho, uma capa, dois sabonetes em
barra, desodorante bastão, perfume, pasta e escova de dente, fio dental,
cortador de unhas, agulha e linhas, cartelas de remédios, carteira com
documentos, passaporte, credencial de peregrino, 50 cartões deste blog,
adaptador de tomada, três barras de chocolate (única compra no duty free do
Brasil), três óculos, sendo um de sol, protetor solar, uma bolsinha da TAM com
alguns bagulhinhos, entre os quais um pente (no meu caso, uma verdadeira
provocação)...
Amanhã,
domingo 6, inicio (efetivamente...) a peregrinação pelo Caminho Português, rumo
a Santiago de Compostela. A propósito, já estou em Oporto, no Residencial
Oporto Novo. Dei uma circulada pelas ruas da cidade – como é possível, vias de
paralelepípedos perfeitamente alinhados? –, e procurei com muito esforço um
local com wifi público. Demorou, mas achei, na Avenida dos Aliados, onde se
realiza uma feira de livros; esvaziei minha caixa de e-mails e, embora tenha
tentado responder alguns, a conexão não me permite.
Personagens
do Centro Histórico, Oporto
Oporto
Ah! Que
delícia a Francesinha de Oporto. O que se dizer das tripas, os vinhos, e do
povo então! Situada no Noroeste da Península Ibérica, Oporto originou-se de um
povoado pré-romano e, chamado Portus Cale, deu nome a Portugal, vindo a
tornar-se capital do Condado Portucalense...
Perdão
“Se um
homem mau te ofende, perdoa-lhe, para que não haja dois homens maus”.
Santo
Agostinho de Hipona.
Praça
da Batalha, tendo ao fundo a Igreja de Santo Ildefonso
Interior
da igreja dedicada a Santo Ildefonso de Toledo
Torre
dos Clérigos, ícone de Oporto
Igreja
dos Carmelitas e Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo
O
tradicional Café Majestic
Ainda os
touros...
Depois de um
dia lindo em Oporto, com tudo dando certo – até a Claro voltando a funcionar,
após admitir que deixou na mão todos os seus clientes que estavam fora do
Brasil, por mais de 24 horas, desde a sexta-feira 4 até a tarde de sábado 5...
–, antes de dormir liguei a televisão, no canal ATP1, e fiquei estupefato, e
sempre ficarei, com a versão 46 da “Corrida de Touros” da emissora, transmitida
ao vivo direto do Coliseu do Redondo, na Vila do Redondo, Portugal.
A corrida é
diferente da tradicional tourada espanhola. Para uma plateia que não poupa
sequer a presença de crianças, um toureiro montado a cavalo armado com espetos
se esmera na arte de sangrar o touro até que..., sofrendo muito, o animal (?)
ainda tem que enfrentar um grupo de toureiros que executa o que chamam de
“pega”. Às vezes o touro resiste e não se deixa pegar, mas o seu destino está
selado, vai morrer, não na frente de todos.
Tudo é
classificado como uma grande festa, um evento que vai gerar desenvolvimento e
promete mais seis apresentações, finalizando com a premiação da “melhor” pega.
Cultura? Karma? Para tentar entender mais a tal corrida, em vez de desligar,
decidi ver a apresentação seguinte. O coitado do touro, contudo, já estava com
problemas de saúde e mancava com a pata traseira direita. Salvou-se. Pois, como
alegou o árbitro, para “preservar a qualidade do espetáculo” e a “integridade
do animal”, foi retirado da praça e substituído por outro, cujo fim todos já
sabiam.
Fui
dormir...
Morador
de rua...
Motorneiro
de bonde numa das muitas linhas de Oporto
Farol
da Senhora da Luz, na foz do Rio Douro
Fachada
de casas antigas no Centro Histórico
Ponte
Luís I, sobre o Rio Douro
Pelourinho
da Sé
Sé
de Oporto
Painel
na Estação de São Bento, em Oporto: Egas Moniz IV de Riba Douro, dito O Aio,
apresenta-se com sua família ao Rei de Leão
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