Machu
Picchu, Peru: mistérios da civilização Inca no Peru
Como em 2011
não peregrinei o Caminho de Santiago, preferindo explorar os mistérios da
civilização Inca no Peru, também não resgatei as memórias no ano passado, por
conta da marca dos 10 anos, o #10yearchallenge
Não é o caso
de 2022, pois em 2012 voltei à Península Ibérica, desta vez para peregrinar o Caminho
Aragonês, cujo resultado apresentei no terceiro livro da trilogia Pedras do
Caminho, “Busca sem fim no Caminho de Santiago de Compostela”.
A linha do
tempo destacada no livro é a mesma que utilizo nos posts que se seguem, em sintonia com as lembranças de 10 anos
atrás... Relê-los é como se atirar mais uma vez à peregrinação – sentimento que
compartilho com alegria e o convite para também mergulhar nesta viagem.
Vamos?
Reitero o
conceito de que números redondos são motivo de celebração, apesar de considerar
um ciclo completo o 12º ano, consoante o horóscopo lunar chinês, que lista os 12
animais que compareceram ao convite de Buda para comemorar o Ano Novo. 2012 foi
ano do dragão; 2022 é ano do tigre...
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#xacobeo2022
Capa
de Busca sem fim: peregrinos no Caminho Aragonês, pouco antes de chegar a
Undués de Lerda
Tudo que sei
Você que lê
esta introdução já deve saber que tem em mãos o terceiro livro da trilogia
“Pedras do Caminho” – a saga que revela a busca de autoconhecimento pelo
místico Caminho de Santiago de Compostela e que, de forma singela, é a parábola
da luta diária de todo ser humano na conquista de uma vida plena de felicidade.
A trilogia
foi inaugurada com “Meu Encontro” no Caminho de Santiago, que relatou a peregrinação
pelo Caminho Francês – 800 quilômetros em 29 dias –, realizada em 2009, e teve
seu segundo momento com o “Sentido do Perdão”, inspirado na peregrinação pelo
Caminho Português – 240 quilômetros em 10 dias –, realizada no Ano Santo
Compostelano de 2010. Foram duas experiências bem distintas e que, em vez de
proporcionar respostas as minhas dúvidas, ao contrário, geraram muitas outras,
ao mesmo tempo em que, de forma aparentemente controversa, tiveram a capacidade
de me oferecer uma nova visão de mundo e despertar necessidades até então
desprezadas no meu dia a dia.
A ideia era
completar o ciclo de peregrinações em 2011, mas uma sequência de fatos alterou
meus planos, e passarei a mostrá-los nas páginas seguintes. Não ouso dizer que
a alteração de datas tenha sido mais ou menos positiva, para não induzir o
leitor ao impacto que pode causar a opção pelos Caminhos de Santiago. O que sei
é que só retornaria em 2012 para enfrentar o Caminho Aragonês, no trecho de
travessia dos Pirineus, de Somport a Obanos, um pouco antes de Puente la Reina,
quando este Caminho se une ao Caminho Francês e segue a Santiago de Compostela.
Um outro
Caminho de Santiago, sem comparação com os dois anteriores. Embora mais curto,
com cerca de 180 quilômetros, que percorri em oito dias, um dos quais
recuperando energia no Monastério de San Juan de la Peña, o Caminho Aragonês
teve o condão de me proporcionar experiências absolutamente inéditas. O
conhecimento adquirido é a marca principal da terceira peregrinação – como se
ainda me restasse um fiapo de dúvida sobre a famosa máxima socrática, de que
tudo que sei é que nada sei...
CERCA DE 17
MESES ANTES...
Postado em
31.12.10, 18h59 >>>>
Em 2011,
peregrinarei
A mancha
roxa agora se limita a apenas a metade da unha do dedão do pé esquerdo. Eu a
carrego nos últimos seis meses como um troféu por peregrinar os 240 quilômetros
do Caminho Português, em junho de 2010, neste bendito Ano Santo Compostelano
que se encerra – o próximo só em 2021. A mancha vai subindo na medida em que a
unha cresce e vai sendo aparada. Chegará uma hora, daqui uns quatro a cinco
meses, se continuar nesse ritmo, que desaparecerá por completo. Ficarão apenas
as marcas desenhadas n’alma, que nunca desaparecerão e continuarão por muito
tempo, quiçá em toda esta breve existência, a influenciar minhas decisões e
opções de vida. Uma influência, aliás, anterior mesmo a esta peregrinação.
Sempre me
pedem para comparar esta e a primeira peregrinação, pelo Caminho Francês, e
sempre tento explicar que, apesar de toda a mística e religiosidade que
permeiam ambas, são dois caminhos muito diferentes – e que proporcionam
emoções, experiências, vivências, da mesma forma muito diferentes. Concluo
quase sempre deixando claro que apesar de o Francês ter sido o primeiro e ter
durado 29 dias, numa média de 28 quilômetros por dia, ele foi “mais suave” que
o Português, apesar de ter sido o segundo e ter durado 10 dias, numa média de
25 quilômetros por dia...
Bolhas nos
pés, os dois caminhos produziram. Assaduras, aqui e acolá, também. Lesões nas
articulações, frio, chuva, fome, sede, cansaço..., assim como alegria,
gratidão, paisagens incríveis, pessoas sensacionais, peregrinos, a meta
atingida... Tudo muito parecido, afora o que atribuo ao psicológico, o meu
psicológico na peregrinação do Caminho Português, mas não só o psicológico,
pois é necessário incluir toda a complexidade que envolveu a segunda
peregrinação... Ano Santo? A solidão do Caminho Português, resultado das
características de sua não tão eficiente infraestrutura? A falta do incentivo
dos hospitaleiros? A falta de hospitaleiros!!! Não adianta, não é mesmo
possível fazer comparações. A convicção que tenho, contudo, e que se
cristalizou com ambas as peregrinações, é que caminhar a Santiago de Compostela
é essencial. Por isso, posso declarar a todos os que me acompanham nesta busca
que, em 2011, peregrinarei o Caminho Aragonês, a partir de Somport, na França.
Veja o que diz o guia de El Pais/Aguilar sobre a primeira etapa, de Somport a
Jaca – cerca de 31,6 quilômetros, que sugere fazer em 7 horas e 30 minutos:
“(...) De
las cuatro grandes vias jacobeas que cruzaban la Europa medieval, três entraban
em la Península por el paso pirenaico de Roncesvalles. La cuarta reunia a los
viajeros del sur de Europa em la localidad francesa de Arlés y desde allí
salvaba los Pirineos por este Summus Portus (como os romanos denominavam
Somport), aprovechando las desgastadas losas de la calzada romana que unia
Burdeos y Zaragoza. Es en este punto, a 1.600 metros de altitud, rodeado por
los majestuosos circos de Candanchú y Riosetas, donde el moderno peregrino
comienza su larga aventura hacia Compostela com una de las etapas más bellas
del Camino Aragonés”.
Primeiro
dia, peregrinar 31,6 quilômetros, descendo de 1.600 metros até 800 e poucos
metros? Você está achando que fiquei louco?!? Ah! Uma das “loucuras” do Caminho
Português, e que pode ter influenciado também na menor suavidade em relação ao
Caminho Francês, foi ter feito uma primeira etapa muito dura, cerca de 37
quilômetros, sim, 37 quilômetros, de Oporto até São Pedro de Rates, caminhando
mais de 8 horas... Acho mesmo que a mancha roxa no dedão do pé esquerdo foi aí
desenhada...
Turismo,
então? Não, acho que não!
Nesses meses
que antecedem o início da jornada, quando busco informações e contato amigos
peregrinos para definir a melhor estratégia para fazer o Caminho Aragonês, já
decidi que peregrinarei esta primeira etapa em dois tempos. Ou seja, de Puerto
de Somport até Villanúa, cerca de 15,9 quilômetros, num dia; e de Villanúa a
Jaca, outros 15,7 quilômetros, no dia seguinte... E assim será em todas as
etapas posteriores; com cautela, paciência, sem sofrimento. Estou pensando até
em insistir para que desta vez minha mulher esteja ao meu lado.
Postado em
12.05.11, 16h43 >>>>
Meu Caminho
será outro
Santiago que
me perdoe e meus amigos e leitores que me desculpem, mas desde já me penitencio
pela decisão de não fazer mais este ano o Caminho Aragonês. Queria estar lá em
junho próximo, como cheguei a cogitar... e como queria – nem tanto para estrear
minha novíssima Timberland (que exigi do fabricante, após devolver a que me
acompanhou pelos Caminhos Francês e Português, neste último tendo o solado
descolado, o que me periclitou bastante e me deixou com os pés encharcados e
repletos de bolhas, muitas bolhas... naqueles dias de chuva e lama pela Serra
da Labruja). E queria, como quero, porque continua e continuará sendo meu sonho
atravessar aquele trecho dos Pirineus, por tudo que li e ouvi de outros
peregrinos que venceram o desafio. Voltarei, sim, mas não ouso dizer, agora ou
mais tarde, quando, até para não criar falsas expectativas aos amigos e, porque
não, ao estimado Apóstolo.
Nada,
absolutamente nada contra o fato de retornar pelo terceiro ano consecutivo à
rota de peregrinação ao santuário de Santiago de Compostela. Estou preparado,
física e psicologicamente, e tenho certeza que sempre voltarei.
Aliás, desde
já esclareço que a decisão não foi apenas minha, mas levou em consideração as
ponderações de minha Sandra, a quem muito gostaria que me acompanhasse nesta
jornada. Apenas isso, já que minha deliberação não teve nada a ver com o fato
de 2011, no calendário santiaguense, não proporcionar qualquer benesse papal,
entre tantas que são possíveis considerar, tal como a indulgência plenária
conquistada em 2010, quando a peregrinação pelo Caminho Português ocorreu em
Ano Santo Compostelano.
Mas, cabe
aqui um parêntese. Pois, embora a peregrinação e o perdão aos pecados tenham
tido, como têm, consequências pessoais e intransferíveis, ontem, apenas ontem,
fiquei sabendo que um amigo, ao me levar uma encomenda em casa – uma encomenda
referente ao Caminho Português, que iria fazer dias após, portanto só se
dirigiu a minha casa por conta da peregrinação! – encontrou uma mulher que se
tornou sua namorada, após ter sofrido a perda da esposa, vítima de câncer, com
quem viveu por 25 anos. Coincidência? Talvez, coincidência. Mas, são tantas as
coincidências que permeiam o Caminho de Santiago que, na maioria das vezes,
creio não serem apenas coincidências...
Portanto,
reitero ao leitor mais apressado que o perdão aos meus pecados, neste momento,
cerca de 10 meses após cumprir o ritual que me garantiu a graça, não surtiria
efeito ou teria tanta necessidade; não que não os tenha praticado nesse
período, eis que pecar, disto já estou convencido, faz parte da condição humana
e, se fosse este o caso, teria que me transferir para um convento – não que num
lapso de tempo, e tive muitos durante a última peregrinação, não tenha pensado
nesta eventual possibilidade. E não também que seja um pecador contumaz...
Definitivamente, este não é o caso!
O que quero
informar aos amigos e, claro, a ele também (que, aliás, e naturalmente, ficou
sabendo antes...), é que, transferindo para outra data o Caminho Aragonês,
ainda que, como disse, apenas os cerca de 180 quilômetros entre Somport e
Puente la Reina, e considerando prós e contras, decidi viajar, ou melhor,
decidimos, eis que irei junto com minha Sandra, em julho, para o Peru.
A escolha do
destino não é puro acaso. Talvez, coincidência... Já havia pensado em fazer a
trilha pela floresta até a Cidade Perdida dos Incas, Machu Picchu, eis que
minha paixão por caminhar não significa tão somente a enfrentar aventuras, daí
o meu envolvimento com o Caminho de Santiago. Desprezando, contudo, esta
característica de uma viagem a Machu Picchu, achamos melhor contratar um
roteiro turístico, por meio de uma operadora especializada, com início em Lima
e, em 9 dias, circular por Arequipa, Puno, Cusco e, finalmente, Machu Picchu.
O momento,
uau!, não poderia ser melhor – especialmente para jornalistas, como nós, sempre
em busca da notícia, da informação de qualidade, do furo jornalístico, ainda
que estejamos viajando a passeio. Neste ano, exatamente em julho, estão sendo
comemorados, sim, comemorados os 100 anos de descoberta de Machu Picchu,
embora, por outro ângulo, marque o início da pilhagem de seus tesouros pelo
eventual historiador norte-americano Hiram Bingham.
Show!!!
Os festejos
já foram marcados, neste mês, pela devolução de parte, uma ínfima parte do
tesouro (lote com 363 peças) saqueado por Bingham e que, muito provavelmente,
apenas uma parte ficou esses anos todos na Universidade de Yale, nos EUA. A
promessa é que até o final de 2012 Yale devolverá as 46.332 peças subtraídas de
Machu Picchu... Uma eventual explicação, qualquer que seja, para manter tal
expropriação por tanto tempo não tem justificativa.
Resumindo,
pelo que apurei em vários textos que leio, procurando me atualizar e, cada vez
mais, me apaixonando, é que Machu Picchu localiza-se a 2.400 metros de
altitude. Sua construção teria sido no século XV e representa um desafio de
engenharia para a época pré-colombiana. Para a sociedade Inca teria o
significado de um tributo à vida, proporcionando conexão entre a terra, nós, os
humanos, e os deuses. Outra teoria afirma que teria o objetivo de servir para o
controle da economia das regiões conquistadas, além de refugiar o soberano Inca
e seu séquito. Teorias, teorias...
O que está
registrado é que hoje apenas 30 por cento da cidade, elevada à categoria de
Patrimônio Mundial da Unesco, é de construção original, ou seja, ruínas, tendo
sido o restante reconstruído, o que seria fácil reconhecer pelo encaixe entre
as pedras, pois a construção original é formada por pedras maiores, com pouco
espaço nos encaixes. Vamos conferir e fotografar.
Agora, em
vez de desejar e ouvir “Buen Camino, Peregrino!”, digo e espero ouvir: “O sol
ilumine sempre teu coração!”.
Postado em
14.08.11, 14h48 >>>>
E o Sol
brilhou em Machu Picchu!
Não é
possível afiançar, de forma categórica, que tenha sido bom ou mau negócio
trocar Machu Picchu, na maravilha de seus 100 anos, em companhia da mulher
amada, pelo Caminho Aragonês, ainda que apenas os cerca de 180 quilômetros
entre Somport e Puente la Reina, absolutamente solitário; friso absolutamente,
pois ficou e está absolutamente fora de cogitação peregrinar o Caminho de
Santiago em companhia de minha mulher!
Esta, pelo
menos, era a convicção dela nos meses que antecederam a decisão de modificar o
roteiro das férias de junho de 2011; e permanece após – sem qualquer
perspectiva de modificar tal ânimo, muito pelo contrário. Aliás, sorte ou azar?
Também não me atrevo a afirmar, de forma peremptória. Afinal, com a relativa
experiência de ter feito o Caminho por duas vezes – primeiro, o Francês, a
partir de Saint Jean Pied de Port, 800 quilômetros em 29 dias, em 2009;
segundo, o Português, desde Oporto, 240 quilômetros em 10 dias, em 2010 (Ano
Santo, diga-se de passagem) – e com, o ainda mais relativo conhecimento sobre
mim, é, como seria, um desprendimento, uma entrega muito grande, superior a
minha capacidade, ajustar meu tempo, meus anseios, minhas necessidades, seja
tudo o que for, a de outra pessoa, ainda que tal pessoa seja, por assim dizer,
minha outra metade.
Não, não
quero acreditar, ou pensar na hipótese, pois não vai dar certo. Ou algo
terrível teria que acontecer para dar – e não sei exatamente o que poderia ser.
É por isso que sempre lembro e, no meu íntimo, tenho um sentimento de doce
inveja pelo peregrino que conheci em 2009 em Saint Jean Pied de Port, e depois
o encontraria em alguns pontos do Caminho, especialmente em Zubiri, onde
ficamos no mesmo albergue – ah! e também em Pamplona, no mesmo albergue – que
estava fazendo o Caminho pela sexta vez, sendo a terceira com a esposa, e o
havia iniciado em Le Puy-en-Velay... Se acha pouco, confira no mapa quantas
centenas de quilômetros a dupla já vinha caminhando junta. Está certo que a
esposa pouco falava e se divertia cozinhando para ele nos albergues...
A viagem
para Machu Picchu foi espetacular. Demos sorte na contratação da operadora, que
trabalha, talvez, com o melhor receptivo do Peru, e tudo saiu perfeito – é
claro que a escolha não foi capaz de parar a incessante garoa de Lima, ou
melhorar seu trânsito, ou ainda amenizar os efeitos da altitude em Arequipa e
Puno, especialmente, ou manter o Sol brilhante em todo o passeio a Machu
Pichu... Detalhes, enfim.
Para marcar
a coincidência sobre os meus, os teus, os nossos demônios (conforme o conceito
aprofundado na primeira peregrinação pelo Caminho de Santiago), embora o
passeio do nosso grupo pelas ruínas de Machu Picchu tenha iniciado com chuva, o
que obrigou cada um a comprar capa, cada qual a 5 soles; e terminado, embora
com o tempo seco, mas com neblina e sem sol; não me conformava em ter que
retornar ao Brasil sem uma boa foto da cidade perdida dos Incas. Tanto que,
acreditando em... como sempre acredito, avisei ao guia que não retornaria com o
grupo; ou seja, não tomaria o mesmo ônibus de volta, pela estrada que
serpenteia Machu Picchu, até a estação de trem que nos levaria novamente a
Cusco. Ficaria mais algum tempo ali. Tempo de ir aos “serviços”, tomar um café
forte e subir outra vez até o ponto inicial do roteiro a pé pela cidade
perdida. Uma boa caminhada; mas quase nada para quem estava com a minha
disposição. Digo minha, porque fui só. E só, ao chegar, pude apreciar uma
magnífica paisagem e ver a cidadela sem nuvens e iluminada pelo Sol – o
precioso Deus daquela civilização que continua tendo muito, mas muito mesmo, a
nos ensinar.