Peregrino
agradece junto à imagem do Apóstolo na Catedral
Perder o
horário da missa dos peregrinos ontem, às 12 horas, ao final da peregrinação
pelo Caminho Português, revelou-se nesta data (há 10 anos!) um estupendo presente,
pois pude participar de uma missa muito especial, celebrada pelo arcebispo de Santiago de Compostela, d. Júlian Barrio Barrio, e concelebrada
pelo cardeal Juan Sandoval Íñiguez, então arcebispo de Guadalajara, no México,
e o alto clero da Galícia. É assim que as coisas acontecem no sagrado Caminho de
Santiago...
O ensinamento
proporcionado na homilia de d. Barrio foi exemplar para meu entendimento sobre
o Xacobeo2010, o Ano Santo Compostelano, e associar o mistério do perdão à
mística do Caminho de Santiago. Naquele momento foi selado o segundo momento da
saga Pedras do Caminho, iniciada no ano anterior com o encontro comigo mesmo ao
peregrinar o Caminho Francês. Uma saga que me traria de volta ao Caminho em
2012, para peregrinar o Caminho Aragonês; em 2013, para o Sanabrês; em 2014,
para a travessia de Assis a Compostela visando recriar a peregrinação de
Francisco, há 800 anos; em 2015, para o Caminho Primitivo; em 2016, para o Inglês; e em 2017, para ser iluminado com o encontro da “lignum crucis”, o maior pedaço da
cruz de Jesus Cristo, ao peregrinar o Caminho Lebaniego, uma rota tangencial do
Caminho de Santiago...
Estou em
Santiago de Compostela. A cidade está erguida onde foram descobertas as
relíquias do Apóstolo Tiago Maior e de dois discípulos, Teodoro e Atanásio, após
o eremita Pelayo ter sido alertado por luzes no céu e avisado o bispo de Iria
Flavia, Teodomiro, que comprovou o achado. A palavra Compostela pode derivar de
Campus Stellae, “campo de estrelas”, ou Composita Tella, “terras bem
ajeitadas”, eufemismo de cemitério, pois ali existiu um cemitério pagão, numa
antiga cidade celta, quem sabe no ano 44... Neste exato local foi sepultado o corpo
do Apóstolo de Jesus... Desde a descoberta, no primeiro terço do século IX, o
local tornou-se meta de peregrinação cristã.
Missa
dos peregrinos na Catedral de Santiago de Santiago
Enfermos
buscam paz e perdão na Catedral
Após
a missa, tirabuleiros preparam o incensário gigante...
Momento
esperado, o espetáculo do botafumeiro!
Final
da missa dos peregrinos, Plaza do Obradoiro
Órgão
da Catedral de Santiago de Compostela
Altar-mor
da Catedral de Santiago
Cripta
sob o altar-mor da Catedral guarda as relíquias do Apóstolo
Coluna
central do Pórtico da Glória destaca a figura de Santiago
Postado
em 16.06.10, 17h06 >>>>
Perdão pelo
que não faço
Juan
Sandoval Íñiguez e Júlian Barrio Barrio ao final da missa dos peregrinos
Não há
dúvida que o peregrino, o que vai a pé, bicicleta ou cavalo... e o “peregrino”,
o que vai, que chega todo dia aos milhares a Santiago de Compostela, neste Ano
Santo Compostelano busca indulgência plenária, o perdão aos pecados, conforme
bula do papa Calixto II, em 1119, que garantiu a graça ao peregrino que cumprir
a jornada em ano jubilar, como é 2010, quando o Dia de Santiago, 25 de julho,
cai num domingo (*). A iniciativa funcionou como grande alavanca às
peregrinações, tanto que em 1179 o papa Alexandre III tornou perpétuo o Jubileu
Compostelano e dois séculos depois, em 1332, o papa João XXII editou bula
concedendo perdão aos pecados também às pessoas que ajudassem os peregrinos a Santiago.
Nem adianta
o peregrino dizer que não se trata disso, que não veio atrás de indulgência
plenária, pois no fundo, no fundo, esta é a motivação principal dessa agitação
no Caminho, ainda que inconsciente – além do turismo, aventura, desafio, gastar
dinheiro, comer bem... A cúpula religiosa sabe bem disso, tanto que traçou uma
espetacular estratégia de marketing para atrair e recepcionar número recorde de
peregrinos em Santiago de Compostela neste Ano Santo, o Xacobeo2010.
Se ontem perdi
a missa dos peregrinos, hoje tive sorte grande, pois a cerimônia foi celebrada
especialmente pelo arcebispo de Santiago de Compostela, d. Julián Barrio
Barrio. Concelebrando, d. Julián contou com a atuação do alto clero da Galícia,
pois Santiago é a capital da Província, e a presença especialíssima do cardeal
Juan Sandoval Íñiguez, arcebispo de Guadalajara, México – que saudou os
peregrinos e, entre os comentários, contou que veio a princípio para Roma e
aproveitou para dar uma esticadinha a Santiago. Afinal, é Ano Santo...
Para
encerrar, claro, o grande espetáculo do botafumeiro!
O anfitrião
conduziu a missa de forma polida – o respeito ao peregrino está na alma do povo
da Península, especialmente dos religiosos... –, mas, sem meias palavras, não
deixou de colocar em primeiro plano a questão da indulgência plenária. E
aproveitou para pautar algumas das exigências – o que, aliás, já havia
comentando no post de ontem –, para garantir o perdão aos pecados. Ele
enfatizou duas (há mais, naturalmente, que compõem o ritual): confissão e
comunhão.
No meu caso,
comungar já faz algum tempo que busco praticar, embora, verdade seja dita,
tenha ficado indignado e até dado um tempo quando soube que um pároco da
Capital de São Paulo fazia restrições para dar comunhão a casais que não haviam
se consagrado no matrimônio religioso. Ainda que no referido caso, e este não é
o meu caso, o homem fosse solteiro e a mulher viúva.
Atitude
isolada ou não, já que ao pesquisar fiquei sabendo que isso não era praticado
em outras paróquias (“mas é bom dar uma palavrinha com o padre...”, alguém me
orientou), fiquei desestimulado em comungar com mais frequência, considerando
que no meu caso sou divorciado e vivo em união estável desde 1984 com minha
Sandra, que é solteira. Ou seja, sou casado! Confessar, então, nem me lembrava
mais da última vez. Com certeza que já havia me confessado. Fiz Primeira
Comunhão, acho que tinha uns 6 ou 7 anos; era e é obrigatório às famílias
cristãs. E, quem sabe, confessei em alguma ocasião num dos dois anos em que
estudei no extinto Colégio Santista, dos Irmãos Maristas.
Nesse
contexto, a abordagem do arcebispo Julián Barrio Barrio foi de mestre e deixou
à vontade inúmeras pessoas que, como eu, consideram que não devem se confessar
pela simples constatação que não praticam, ou praticariam, o que se
convencionou chamar de pecado, sejam os capitais, sejam os mais leves – se é
possível estabelecer alguma graduação para esse tipo de conduta.
Ledo engano!
E foi nesse
ponto que, lembrando do meu falecido avô materno Antonio Carneiro de Arruda,
nos tempos de professor lá em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, dei minha mão
à palmatória, à eventual prática, contumaz ou não, de pecar.
Pois, sim,
articulou o arcebispo, há muitas pessoas com a convicção de que não praticam
pecado, eis que bom filho, pai, marido, amigo; que não molestam e nada de ruim
fazem a quem quer que seja. Mas, questionou, será que estão fazendo tudo de bom
que poderiam e que são capazes?
Eis a
questão!
(*) Após
2010, os próximos anos jubilares são 2021, 2027, 2032, 2038, 2049, 2055, 2060,
2066, 2077, 2083, 2088, 2094…
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#10yearchallenge
Peregrino
comemora a conquista da Compostela: peixe e vinho
Fila
para ingresso na Catedral pela Porta Santa, fachada da Quintana
Confessar
e comungar para obter indulgência plenária
Catedral
de Compostela: Santiago a todos acolhe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário