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Leandro Ayres
“Santiago é Aqui!”, na Pinacoteca Benedicto
Calixto, em Santos: mais um bom sinal...
Calixto, em Santos: mais um bom sinal...
Valorizando
os sinais que me interessam, ao mesmo tempo em que reduzo a importância
daqueles que podem me induzir ao erro, refletindo quase que imediatamente uma
forma de manipulá-los e, antes de qualquer estrago, desclassificá-los como tal,
levando ao exagero a máxima de me fixar sempre no lado bom dos fenômenos,
fiquei extremamente feliz com a resposta que obtive, ainda que esteja baseado
no feedback de parentes e amigos, no lançamento de dois novos livros sobre o
Caminho de Santiago – já referidos no post anterior, mas que vale a pena
lembrar, até para facilitar quem acessa este blog pela primeira vez e... quer
saber, também para corrigir informações divulgadas de forma equivocada, talvez
mal compreendidas, tantos são os detalhes que envolvem o Caminho de Santiago,
e, entre os quais, que fique bem claro: Santiago de Compostela não se localiza
no Chile, mas na Espanha!
Dos dois
títulos lançados no sábado 14 de março, no belo casarão branco da Pinacoteca
Benedicto Calixto, na orla da praia do Boqueirão, em Santos, “Busca sem fim”, o
terceiro da trilogia “Pedras do Caminho” (os dois primeiros foram lançados em
2013 e em 2014), relata a peregrinação que realizei em 2012 nos quase 190
quilômetros do Caminho Aragonês, vencidos em oito dias, iniciado em Somport, na
fronteira entre França e Espanha, até Puente la Reina, quando ele se
encontra... (o que na verdade hoje acontece em Obanos!)... com o Caminho
Francês. Sou suspeito, mas considero o conteúdo deste livro fantástico, à
altura do que ele representa na trilogia proposta e na revelação singela de que
a busca por autoconhecimento, por também exigir a aquisição de conhecimento
geral, ainda que no âmbito da simbologia do Caminho – que pode ser considerada
uma parábola da vida –, é mesmo sem fim...
“Descobrindo
novos Caminhos” reafirma a constatação de que essa busca é realmente sem fim e
enfatiza o fiapo de coerência (como se uma eventual coerência fosse
necessariamente importante...) que me fez retornar à Península Ibérica no ano
seguinte, 2013, para reencontrar Santiago e peregrinar o Caminho Sanabrês –
optando para iniciá-lo em Zamora, ainda na Vía de la Plata, e desviar à Oeste
em Granja de Moreruela, percorrendo cerca de 420 quilômetros em 16 dias. Um
Caminho maravilhoso e que, me sentindo amadurecido pelo conhecimento dos três
Caminhos anteriores, me fez adotar a rota alternativa por Verín, junto aos
pueblos e aldeias raianas do Norte de Portugal, e depois desviar do Caminho
tradicional e ir ao encontro do Monastério de Oseira, enfim, agregar ainda mais
valor à peregrinação.
Não
tenho dúvidas de que o contexto do evento da Pinacoteca é um bom sinal, tanto
pelas coisas boas que aconteceram antes, que permitiram sua viabilização, e
mesmo com os percalços, ainda mais neste momento econômico em que está
mergulhado o Brasil, estes apenas serviram de bons ensinamentos e fazem parte
de todo e qualquer Caminho; como pelas que aconteceram durante, pela presença
efetiva de amigos, parentes e pessoas que, para mim desconhecidas, atenderam ao
chamado de se surpreender com a mística do Caminho de Santiago, e, inclusive,
este é o momento de celebrar a chuva que caiu (em Santiago de Compostela “la
lluvia es arte”) e não interferiu na disposição das pessoas que realmente
desejavam participar...; e até pelas coisas que ocorreram após, e continuam a
me impressionar, seja pela repercussão que o encontro ainda projeta na mídia,
seja entre as pessoas que não tiveram a oportunidade de comparecer e lamentam,
ah! como gostariam, e que demonstram isso por meio de mensagens pessoais e nas
redes sociais, ou através da efetiva compra dos livros.
Assim,
na esteira de tantos bons sinais, que, como tentei relacionar, continuam a me
perseguir – aliado ao efetivo ânimo pelo lento, mas constante, fortalecimento
físico, o que é fundamental, ao lado da saúde mental –, decidi programar para
logo meu reencontro com Santiago, especialmente, mas também comigo mesmo, em
mais uma peregrinação a Santiago de Compostela. Como se sabe, no ano passado
adiei o projeto da quinta peregrinação para viajar com minha amada Sandra, sob
o pretexto de comemorar os 30 anos de nossa união e, claro, aproveitar para
celebrar a peregrinação de Francisco, de Assis a Santiago de Compostela,
realizada em 1214, portanto, há 800 anos – que, aliás, tem sido e ainda será,
até julho próximo, motivo de festa e muito júbilo no Caminho de Santiago.
Afinal, iniciar minha Sandra nos mistérios de Santiago me proporcionou uma
imensa alegria, que agradeço a cada manhã ao acordar, e toda noite quando oro e
me preparo para sonhar e descansar.
Mas –
pondera alguém e, às vezes, eu mesmo –, há tanto países para conhecer e você
vai voltar para a Espanha? E outra vez para o Caminho de Santiago?
De tão
singela que é minha convicção, às vezes me parece difícil explicar mais uma vez
a dimensão do que representa a fé na peregrinação, ainda que só para mim –
apesar de que a experiência é universal e, portanto, capaz de transformar quem
quer que esteja disposto. Tento novamente com paciência e me cobro a exigir
moderação, e meu interlocutor (ainda que seja eu), que ousa me questionar,
parece que não quer entender, ou parece que não consigo me fazer compreender.
Então, evito o entusiasmo, não deixo transparecer a agonia, controlo minha
ansiedade, e insisto em tentar sorrir – como se meu sorriso fosse capaz de me
auxiliar nesta tarefa, quem sabe missão, compromisso, comprometimento, de me
inspirar e inspirar pessoas à peregrinação pelos Caminhos de Santiago.
Enfim, o
que você ganha com isso? – teima o, o, o..., o demônio.
Nada,
ora! – respondo, logo me contrariando: Não, não, não... Ganho tudo, tudo,
tudo!!!
E o
abismo entre o nada e o tudo se apresenta inexorável, ou apenas se complementa,
como o yin e o yang na representação do Princípio Único da Vida. O movimento é
muito tênue, reconheço, mas insisto na metáfora de que, me melhorando, ou seja,
me lapidando, e cada qual se melhorando – perseguindo o melhor modelo a seu
modo e assim envolvendo e influindo a quem possa convencer –, o mundo será melhor.
Como uma onda, que não parará jamais... Em última análise, esta é a base do que
hoje considero o sentido da vida.
Sim, já
adquiri os bilhetes e volto ao “meu deserto” em junho para peregrinar o Caminho
Primitivo, desde Oviedo, percorrendo a primeira rota de peregrinação às
relíquias de Santiago, que foi inaugurada por Afonso II, o Casto (759/760 –
842), Rei das Astúrias de 791 a 842. Conta a tradição que em 813, ao ser
informado pelo eremita Pelayo, a quem foram revelados sinais no céu... na
região que viria a ser chamada de Campus Stelae, ou Compostela, o bispo
Teodomiro, de Iria Flávia, anunciou o achado a Afonso II, que, acompanhado de
seu séquito, deixou a capital do reino, em Oviedo, e rumou ao local indicado,
onde mandou construir uma igreja, hoje a fantástica Catedral – dando início ao
fenômeno das peregrinações...
Sim,
estou de volta ao começo.
Sim,
desde já, passo a evocar meu mantra: Santiago, passa à frente!