terça-feira, 31 de maio de 2022

Somport. “Oui, Saint Jean Pied de Port”!

Mosaico no interior da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Lourdes, na França

Fiéis, muitos em cadeira de rodas, esperam a vez de passar a mão na parede da gruta, sob a Basílica

Texto abaixo foi escrito há 10 anos...

Não sei se exatamente pela minha pronúncia, mas o fato é que mais de uma vez, em minha passagem por Lourdes, na França, tive que repetir o destino pretendido: Somport. “Oui, Saint Jean Pied de Port!”. Não, Somport, o outro ponto da travessia dos Pirineus, entre França e Espanha, na peregrinação a Santiago de Compostela, que ficou conhecido como Caminho Aragonês, por acompanhar o curso do Rio Aragão e, claro, adotar o nome do antigo reino e atual comunidade autônoma, formada pelas Províncias de Huesca, Teruel e Zaragoza.

O chamado Caminho Aragonês compreende exatamente o trecho entre Somport e Obanos (pouco antes de Puente la Reina), quando se encontra com o Caminho Francês, este sim, cuja travessia dos Pirineus é feita a partir de Saint Jean Pied de Port. Foi o Caminho que fiz em 2009, inaugurando minha aproximação, simpatia, diria respeito ao Apóstolo Santiago o Maior, reforçada em 2010, diga-se de passagem Ano Santo, ao peregrinar o Caminho Português, desde Oporto.

De Lourdes, onde decidi passar antes de continuar o Caminho até Santiago de Compostela não é simples alcançar Somport. Apesar de todas as dicas e possibilidades fornecidas gentilmente por peregrinos, curiosos, taxistas, entre outros, na prática a solução me foi dada pela atenciosa funcionária da SNCF, a rede ferroviária da França, em Lourdes.

“Oui, Saint Jean Pied de Port”, me disse ela, para logo ser corrigida: Não, Somport! Consultou o sistema e me detalhou: de trem até Pau; outro trem, minutos depois, até Oloron-Sainte-Marie; e, finalmente, mais alguns minutos depois, de ônibus, até Somport. Incrédulo pela facilidade, pedi que emitisse os bilheres, o que fez e me esclareceu todos os horários de partida e chegada, para a viagem que seria feita na manhã do dia seguinte.

Ao agradecer com o recorrente “merci”, que foi respondido no mesmo tom – como estão gentis os franceses! –, antes de sair da estação fui abordado por uma jovem brasileira, que não sei exatamente como me reconheceu. “Você é brasileiro?”. Meio desconcertado, concordei: “Também”. Ela queria saber se eu estava indo para os Pirineus.

“Somport”, disse. “Sim, Saint Jean Pied de Port”! Não, repeti: “Somport. Caminho Aragonês”. Embora ela tenha me garantido ter feito o Caminho Francês, a partir de Saint Jean Pied de Port, confessou desconhecer Somport. Desta vez, disse que faria um tour pela região dos Pirineus. Buen Camino!

Basílica de Nossa Senhora do Rosário em Lourdes

Demonstração de fé com o passar da mão na rocha da gruta onde apareceu a Imaculada Conceição

terça-feira, 10 de maio de 2022

Você está com medo, peregrino?

Postado em 10.05.12, 15h23 >>>>

Vou fazer o Caminho de Santiago neste ano...

Texto abaixo foi escrito há 10 anos...

Estaria mentindo se não admitisse que fiquei abalado, e muito provavelmente ainda estou, desde que foi noticiado, no último dia 2 de maio, que na véspera um grupo de peregrinos havia sido assaltado na cidade de Guarujá, ao fazer a rota Passos dos Jesuítas, de Itanhaém a Ubatuba, lançada pelo governo do Estado de São Paulo, e que visa divulgar o caminho que era feito pelos missionários da Companhia de Jesus, no século XVI, tendo José de Anchieta como um dos mais notórios, na tarefa de catequizar os índios do litoral paulista.

Fiquei abalado sim, apesar de que, para mim, o crime era anunciado, uma questão de tempo, considerando os índices de violência na região e a fragilidade de quem se dispõe a fazer a peregrinação. Aliás, num briefing para eventual entrevista de tevê que serviria para reforçar a divulgação da rota, fui logo avisando: “Posso falar sobre o Caminho de Santiago, sem problemas. Mas, sobre este projeto, com certeza, hoje não ousaria fazer peregrinação pelo Litoral de São Paulo”. Um ou dois dias depois, sob alegação de problemas na agenda etc. e tal, coincidência ou não, a entrevista foi cancelada... Minha preocupação, contudo, já havia deixado clara a vários amigos peregrinos, que recordaram desse detalhe quando divulguei o link de acesso ao famigerado noticiário.

Caso isolado? Pode ser que sim. Pelo menos, tendo peregrinos como vítimas e com registro policial, teria sido o primeiro. Mas, com absoluta certeza, foram muitos os episódios de ataques contra pessoas na região, especialmente atletas que utilizam as estradas do litoral para a prática esportiva – seja por meio de bicicleta ou a pé.

Pois não é que, refletindo sobre tais estatísticas, uma semana depois, ou dias atrás, um ultramaratonista (atleta que disputa provas com distância acima dos 42.195 km de uma maratona tradicional), que buscava a quebra de um recorde de resistência e era acompanhado por um ciclista, foi alvo de assaltantes na cidade de Praia Grande, incluída na rota de peregrinação!!!

Meu abalo – e insisto em não dizer medo, pois, assim como não tenho medo, também não sou burro – é compreensível, nesses dias que antecedem meu retorno ao Caminho de Santiago, ainda que não me perturbe relato de assalto a peregrinos na tradicional rota, e não tenha me abalado com essa possibilidade nas duas vezes em que fiz a peregrinação, em 2009, pelo Caminho Francês, e em 2010, pelo Português. Não pretendo ter o extremo cuidado, como cheguei a constatar com este ou aquele peregrino (seja por questão de segurança ou superstição, não me interessa!), de encobrir qualquer informação sobre eventual plano de peregrinação.

Sim, estou me preparando e vou fazer o Caminho de Santiago neste ano... Quando mesmo?!?!?

Pois é, agora tenho algumas dúvidas: executarei o plano inicialmente traçado? Irei só ou acompanhado? Afinal, qual dos caminhos me levará a Santiago de Compostela: Francês, Português, Aragonês, Do Norte, Inglês, Sanabrês, Salvador, de La Plata...? A partir de onde? Iniciarei em qual dia? Qual horário? Até quando?!?!?

Bem, confio no lapso do tempo para retomar minha costumeira tranquilidade...