sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dúvidas. Apenas dúvidas...


Estar não estando...., peregrino no Caminho de Santiago

Sentia a magia da peregrinação no Caminho de Santiago – de nele estar não estando (fisicamente); afinal já estive; e quem experimentou sabe do que estou falando... –, naqueles dias de maio, há 10 anos, quando já vivenciava meus passos pelos campos e antigas vias romanas da Península Ibérica rumo ao sepulcro do Apóstolo de Jesus, Tiago Maior...

Como anunciei no post anterior, cumpro o desafio #10yearchallenge, e exatamente naqueles dias de 2010 estava focado no meu retorno ao Caminho de Santiago, agora para peregrinar o Caminho Português, após ter peregrinado no ano anterior o Caminho Francês – que desencadeou em mim uma onda de transformações e a necessidade de aprofundar meus conhecimentos nos mistérios jacobeos.
Depois viriam o Caminho Aragonês (2012), Sanabrês (2013), a travessia de Assis a Compostela (2014) – perseguindo os passos de Francisco em sua célebre peregrinação de 1214 –, Primitivo (2015), Inglês (2016) e Lebaniego (2017) – pura preciosidade, uma rota tangencial do Caminho de Santiago!!! A saga resultou na edição de oito livros, com o relato do Caminho Inglês premiado no concurso internacional promovido pelo Concello de Oroso, na Galícia, e cristalizou minha condição de autor brasileiro com mais livros editados sobre o Caminho de Santiago.
O texto abaixo e os que serão postados nos próximos dias estão publicados no segundo livro da trilogia Pedras do Caminho, que foi denominado “Pedras do Caminho II, Sentido do Perdão no Caminho de Santiago de Compostela” – eis que a peregrinação aconteceu no mais recente Ano Santo Compostelano. O próximo será no ano que vem...
Buen Camino!
#10yearchallenge
#pedrasdocaminho

Postado em 01.05.10, 18h06 >>>>
Dúvidas. Apenas dúvidas...

Minha segunda peregrinação gera mais dúvidas do que a primeira. Talvez os peregrinos mais experientes tenham uma explicação para isso. A questão é que, talvez pelo excesso de informação que consumo nesses dias decisivos, dúvidas, apenas dúvidas não param de surgir.
Como alguém que valoriza a informação, eu não cogito a ideia de me alienar para me aquietar; pelo contrário, procuro cada vez mais.
Dia 28 de maio recebi, pelo correio, da Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago (Aacps), com sede em Ponte de Lima, exemplares de duas publicações sobre o Caminho Português. Uma de 2001 e outra, atualizada, de 2004.
Fiquei agradecido com a atenção e o carinho, não só da secretaria da Aacps, mas, especialmente, do amigo português Pedro Monteiro, pois, entre os muitos que o Caminho teve o condão de me proporcionar, este conheci logo no primeiro trecho de minha peregrinação de 2009, ao atravessar os Pirineus, entre Saint Jean Pied de Port e Roncesvalles.
Pedro, que já havia feito o Caminho Português, estava de bicicleta e, numa das difíceis subidas daquele trecho, caminhamos juntos. Eu, com quase 11 quilos nas costas (NA.: E um Dell 15 polegadas pendurado no pescoço), ele empurrando 25 quilos. Coincidências do Caminho, naquele dia 7 de junho Pedro fazia anos. Ao saber, sem recursos para encomendar um bolo, saquei uma barra de chocolate Lindt e comemoramos...
Tirei fotos dele e nos reencontramos em outros trechos dos Pirineus; como no ponto mais alto – conferido pelo altímetro do Pedro –, quando fizemos mais fotos. Depois dali, aproveitando as descidas e seguindo seu planejamento, nunca mais o vi. Mas, de posse do meu e-mail e endereço do blog, Pedro confirmou sua chegada em casa e incentivou-me a concluir com sucesso minha peregrinação.
Sei que não será fácil, mas tenho esperança de reencontrá-lo este ano...
Estou lendo e relendo as informações das publicações da Aacps, cruzando com outras que já possuía, vasculhando arquivos na Internet, conversando com peregrinos que já fizeram o Caminho Português, e as dúvidas vão surgindo. Para incrementá-las, adquiri no site de El País/Aguilar um exemplar do guia do Caminho Português.
Uma questão que me aflige, repetida por inúmeras fontes, é sobre a pouca estrutura para abrigar os peregrinos no trecho do Caminho em Portugal, de Oporto a Valença, comparando com o trecho na Espanha, de Tui, após a fronteira, a Santiago de Compostela. Um problema, aliás, inexistente no Caminho Francês, farto em opções para o peregrino.
Como os dados disponíveis não são de 2010 ou de 2009, e confiando nos possíveis investimentos alavancados pelo Ano Santo, espero encontrar novidades para tornar minha peregrinação mais segura e, porque não (!), mais confortável.
Isso tudo leva a crer que minhas etapas do Caminho serão não só fruto do planejamento que faço, mas, de forma pragmática, resultado da situação real que encontrarei. O guia da Aacps, por exemplo, em que pese não estar atualizado, garante hotéis e pensões em Oporto, mas veja o que diz sobre a cidade-sugestão para encerrar a primeira etapa, Vilarinho – após 25 quilômetros:
“Não existem unidades hoteleiras. Podes solicitar dormida na Casa Salesiana (Padres Salesianos) ou tomar um táxi para Vila do Conde (8 quilômetros), onde dispõem de diversos hotéis e pensões e regressar no dia seguinte (táxi – ida e volta – cerca de 10 euros)”. Problemão?!
Acho que sim, pois não está em meus planos, durante a peregrinação, andar por qualquer meio que não sejam meus pés. Foi o que fiz na primeira vez e pretendo repetir. Só espero não precisar de outra forma de locomoção, pois admito o imponderável! Torço, na verdade, para que se confirme a informação de outra fonte, a Associação Espaço Jacobeus (AEJ), que diz simplesmente haver “alojamento em Vilarinho”, sem, contudo, especificar.
A propósito, o site desta fonte, que também me foi apresentada pelo amigo Pedro, sugere o Caminho Português em 11 etapas, mais suave que o guia da Aacps, com 9. Como reservei 11 dias para realizar minha peregrinação – após o que descansarei, turisticamente, em terras portuguesas –, essa dúvida já não me causa tanta aflição.
A proposta da AEJ é interessante. Afirma que o Caminho Português Medieval (o Central), de Oporto a Santiago, tem 238,1 quilômetros, e sugere 11 etapas, com observações entre parênteses:
1. Oporto a Vilarinho = 25,3 km (alojamento em Oporto, alojamento em Vilarinho).
2. Vilarinho a Barcelos = 27,3 km (alojamento em São Pedro de Rates, 11,8 km de Vilarinho; 37,1 km do Oporto; alojamento em Barcelos).
3. Barcelos a Ponte de Lima = 33 km (alojamento em Ponte de Lima).
4. Ponte de Lima a Rubiães = 18,2 km (alojamento em Rubiães).
5. Rubiães a Valença do Minho = 16,3 km (alojamento em Valença do Minho).
6. Valença do Minho a Porriño = 19,1 km (alojamento em Tui, alojamento em Porriño).
7. Porriño a Redondela = 15,0 km (alojamento em Mós [Santa Eulália] – 5,2 km de Porriño; 24,3 km de Valença, alojamento em Redondela).
8. Redondela a Pontevedra = 18,2 km (alojamento em Pontevedra).
9. Pontevedra a Brialhos (Portas) = 18,7 km (alojamento em Barro [depois de San Amaro] – 10,4 km de Pontevedra, alojamento em Brialhos).
10. Brialhos a Padrón = 23,4 km (alojamento em Caldas de Reis – 5,1 km de Brialhos; 23,8 km de Pontevedra, alojamento em Hebrón, alojamento em Padrón).
11. Padrón a Santiago de Compostela = 23,6 km (alojamento em Teo – 10,5 km de Padrón; 13,1 km de Santiago, alojamento em Santiago de Compostela).
Vou ler mais as publicações da Aacps, que indicam 9 etapas para o Caminho Português, e detalharei em breve. Enquanto isso, vou somando dúvidas. Apenas dúvidas...

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