Estar não estando...., peregrino no Caminho de Santiago
Sentia a
magia da peregrinação no Caminho de Santiago – de nele estar não estando (fisicamente);
afinal já estive; e quem experimentou sabe do que estou falando... –, naqueles dias de maio, há 10 anos, quando já vivenciava meus passos pelos campos e antigas
vias romanas da Península Ibérica rumo ao sepulcro do Apóstolo de Jesus, Tiago Maior...
Como
anunciei no post anterior, cumpro o desafio #10yearchallenge, e exatamente naqueles dias de 2010 estava focado no meu retorno ao Caminho de Santiago, agora para
peregrinar o Caminho Português, após ter peregrinado no ano anterior o Caminho
Francês – que desencadeou em mim uma onda de transformações e a necessidade
de aprofundar meus conhecimentos nos mistérios jacobeos.
Depois
viriam o Caminho Aragonês (2012), Sanabrês (2013), a travessia de Assis a
Compostela (2014) – perseguindo os passos de Francisco em sua célebre
peregrinação de 1214 –, Primitivo (2015), Inglês (2016) e Lebaniego (2017) – pura
preciosidade, uma rota tangencial do Caminho de Santiago!!! A saga resultou na
edição de oito livros, com o relato do Caminho Inglês premiado no concurso
internacional promovido pelo Concello de Oroso, na Galícia, e cristalizou minha
condição de autor brasileiro com mais livros editados sobre o Caminho de
Santiago.
O texto
abaixo e os que serão postados nos próximos dias estão publicados no segundo livro
da trilogia Pedras do Caminho, que foi denominado “Pedras do Caminho II, Sentido
do Perdão no Caminho de Santiago de Compostela” – eis que a peregrinação aconteceu
no mais recente Ano Santo Compostelano. O próximo será no ano que vem...
Buen Camino!
#10yearchallenge
#pedrasdocaminho
Postado
em 01.05.10, 18h06 >>>>
Dúvidas.
Apenas dúvidas...
Minha
segunda peregrinação gera mais dúvidas do que a primeira. Talvez os peregrinos
mais experientes tenham uma explicação para isso. A questão é que, talvez pelo
excesso de informação que consumo nesses dias decisivos, dúvidas, apenas
dúvidas não param de surgir.
Como alguém
que valoriza a informação, eu não cogito a ideia de me alienar para me
aquietar; pelo contrário, procuro cada vez mais.
Dia 28 de
maio recebi, pelo correio, da Associação dos Amigos do Caminho Português de
Santiago (Aacps), com sede em Ponte de Lima, exemplares de duas publicações
sobre o Caminho Português. Uma de 2001 e outra, atualizada, de 2004.
Fiquei
agradecido com a atenção e o carinho, não só da secretaria da Aacps, mas,
especialmente, do amigo português Pedro Monteiro, pois, entre os muitos que o
Caminho teve o condão de me proporcionar, este conheci logo no primeiro trecho
de minha peregrinação de 2009, ao atravessar os Pirineus, entre Saint Jean Pied
de Port e Roncesvalles.
Pedro, que
já havia feito o Caminho Português, estava de bicicleta e, numa das difíceis
subidas daquele trecho, caminhamos juntos. Eu, com quase 11 quilos nas costas (NA.:
E um Dell 15 polegadas pendurado no pescoço), ele empurrando 25 quilos.
Coincidências do Caminho, naquele dia 7 de junho Pedro fazia anos. Ao saber,
sem recursos para encomendar um bolo, saquei uma barra de chocolate Lindt e
comemoramos...
Tirei fotos
dele e nos reencontramos em outros trechos dos Pirineus; como no ponto mais
alto – conferido pelo altímetro do Pedro –, quando fizemos mais fotos. Depois
dali, aproveitando as descidas e seguindo seu planejamento, nunca mais o vi.
Mas, de posse do meu e-mail e endereço do blog, Pedro confirmou sua chegada em
casa e incentivou-me a concluir com sucesso minha peregrinação.
Sei que não
será fácil, mas tenho esperança de reencontrá-lo este ano...
Estou lendo
e relendo as informações das publicações da Aacps, cruzando com outras que já
possuía, vasculhando arquivos na Internet, conversando com peregrinos que já
fizeram o Caminho Português, e as dúvidas vão surgindo. Para incrementá-las,
adquiri no site de El País/Aguilar um exemplar do guia do Caminho Português.
Uma questão
que me aflige, repetida por inúmeras fontes, é sobre a pouca estrutura para
abrigar os peregrinos no trecho do Caminho em Portugal, de Oporto a Valença,
comparando com o trecho na Espanha, de Tui, após a fronteira, a Santiago de
Compostela. Um problema, aliás, inexistente no Caminho Francês, farto em opções
para o peregrino.
Como os
dados disponíveis não são de 2010 ou de 2009, e confiando nos possíveis
investimentos alavancados pelo Ano Santo, espero encontrar novidades para
tornar minha peregrinação mais segura e, porque não (!), mais confortável.
Isso tudo
leva a crer que minhas etapas do Caminho serão não só fruto do planejamento que
faço, mas, de forma pragmática, resultado da situação real que encontrarei. O
guia da Aacps, por exemplo, em que pese não estar atualizado, garante hotéis e
pensões em Oporto, mas veja o que diz sobre a cidade-sugestão para encerrar a primeira
etapa, Vilarinho – após 25 quilômetros:
“Não existem
unidades hoteleiras. Podes solicitar dormida na Casa Salesiana (Padres
Salesianos) ou tomar um táxi para Vila do Conde (8 quilômetros), onde dispõem
de diversos hotéis e pensões e regressar no dia seguinte (táxi – ida e volta –
cerca de 10 euros)”. Problemão?!
Acho que
sim, pois não está em meus planos, durante a peregrinação, andar por qualquer
meio que não sejam meus pés. Foi o que fiz na primeira vez e pretendo repetir.
Só espero não precisar de outra forma de locomoção, pois admito o imponderável!
Torço, na verdade, para que se confirme a informação de outra fonte, a
Associação Espaço Jacobeus (AEJ), que diz simplesmente haver “alojamento em
Vilarinho”, sem, contudo, especificar.
A propósito,
o site desta fonte, que também me foi apresentada pelo amigo Pedro, sugere o
Caminho Português em 11 etapas, mais suave que o guia da Aacps, com 9. Como
reservei 11 dias para realizar minha peregrinação – após o que descansarei,
turisticamente, em terras portuguesas –, essa dúvida já não me causa tanta
aflição.
A proposta
da AEJ é interessante. Afirma que o Caminho Português Medieval (o Central), de
Oporto a Santiago, tem 238,1 quilômetros, e sugere 11 etapas, com observações
entre parênteses:
1. Oporto a
Vilarinho = 25,3 km (alojamento em Oporto, alojamento em Vilarinho).
2. Vilarinho
a Barcelos = 27,3 km (alojamento em São Pedro de Rates, 11,8 km de Vilarinho;
37,1 km do Oporto; alojamento em Barcelos).
3. Barcelos
a Ponte de Lima = 33 km (alojamento em Ponte de Lima).
4. Ponte de
Lima a Rubiães = 18,2 km (alojamento em Rubiães).
5. Rubiães a
Valença do Minho = 16,3 km (alojamento em Valença do Minho).
6. Valença
do Minho a Porriño = 19,1 km (alojamento em Tui, alojamento em Porriño).
7. Porriño a
Redondela = 15,0 km (alojamento em Mós [Santa Eulália] – 5,2 km de Porriño;
24,3 km de Valença, alojamento em Redondela).
8. Redondela
a Pontevedra = 18,2 km (alojamento em Pontevedra).
9.
Pontevedra a Brialhos (Portas) = 18,7 km (alojamento em Barro [depois de San Amaro]
– 10,4 km de Pontevedra, alojamento em Brialhos).
10. Brialhos
a Padrón = 23,4 km (alojamento em Caldas de Reis – 5,1 km de Brialhos; 23,8 km
de Pontevedra, alojamento em Hebrón, alojamento em Padrón).
11. Padrón a
Santiago de Compostela = 23,6 km (alojamento em Teo – 10,5 km de Padrón; 13,1
km de Santiago, alojamento em Santiago de Compostela).
Vou ler mais
as publicações da Aacps, que indicam 9 etapas para o Caminho Português, e
detalharei em breve. Enquanto isso, vou somando dúvidas. Apenas dúvidas...
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