sexta-feira, 30 de junho de 2017

Qualquer semelhança é...

Site da revista Veja com a notícia estrambólica...

Site da Archicofradía Universal del Apóstol Santiago...

Passo 1 – Já havia acessado a página da revista Veja para ler e reler e não acreditar no que estava lendo. O “Caminho de Santiago no Brasil”! Não pode ser. Mas estava lá, e no site de uma das principais revistas do país...
Passo 2 – Na Espanha, ao perseguir rastros da iniciativa me deparei com a Archicofradía Universal del Apóstol Santiago. Fui até sua sala, no prédio onde funciona uma agência dos Correios, a Oficina de Peregrinaciones da Catedral etc. e conversei com a funcionária, que me deu informações, algumas valiosas, outras nem tanto. Uma delas o endereço do site da entidade, que visitei, revisitei e nada encontrei...
Hoje, num lapso, as imagens dos sites se chocaram nas minhas reflexões sobre o que teria motivado a despropositada iniciativa de se criar um “Caminho de Santiago no Brasil”... A imagem da Catedral de Santiago de Compostela, numa foto preto e branco, antiga, talvez de 2008 ou 2009, 2010..., quando ainda não havia sido iniciado o processo de recuperação de sua fachada.
Qual a ligação entre a revista e a entidade?
Para quem defende a hipótese da Teoria da Conspiração, repare na esdrúxula divulgação do improvável "Caminho de Santiago no Brasil" no site da revista Veja (http://veja.abril.com.br/…/floripa-ganha-primeiro-trecho-d…/), e confira a página principal do site da Archicofradía Universal del Apóstol Santiago (http://archicofradia.org/)...
Para os teoristas de plantão, quem sabe, um prato cheio!
Buen Camino!

https://www.facebook.com/CebolaFerraz
#pedrasdocaminho

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Farsa em Santa Catarina...

Caminho Francês a Santiago de Compostela: Patrimônio da Humanidade

Primeiro foi o site Veja.com ao anunciar que “Floripa ganha primeiro trecho do Caminho de Santiago na América”. Depois um jornal local, a Hora de Santa Catarina, sentenciou: “Florianópolis entra na rota oficial do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha”.
Apenas falta de informação? Má fé? Não importa, por ora... O autor da estultice vendeu sua ideia e o clero de Santa Catarina, assim como dirigentes da entidade de peregrinos do Estado e autoridades entraram de gaiatos. Do outro lado do Atlântico, o Plan Xacobeo, responsável pela gestão do formidável patrimônio do Caminho de Santiago na Galícia – um bem declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco!!! – foi pego de surpresa.
Em recente visita a Santiago de Compostela, entrevistei o diretor gerente da S.A. de Xéstion do Plan Xacobeo, Rafael Sánchez Bargiela, que – assim como toda a Espanha – está indignado: “Não estamos de acordo com isso. O Caminho de Santiago é um caminho histórico, portanto, um caminho que busca recuperar as rotas que os peregrinos fizeram na Idade Média. E na Idade Média não havia peregrinos jacobeos no Brasil”.
Leia a matéria completa abaixo e também no jornal Perspectiva, em http://jornalperspectiva.com.br/caminho-de-santiago/o-caminho-nao-esta-no-brasil/
#pedrasdocaminho

O Caminho de Santiago não está no Brasil!

Luiz Carlos Ferraz

É óbvio que o Caminho de Santiago não está no Brasil. Afinal, como se sabe, trata-se de uma rota de peregrinação cristã desenvolvida a partir do século IX, após o achado do sepulcro do Apóstolo de Jesus, Tiago Maior, na Galícia, Espanha. Hoje, alguns itinerários do Caminho na Europa estão reconhecidos como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
O Brasil não faz parte desse universo. Tiago Maior nunca esteve no Brasil e sua adoração não fomentou aqui, ao longo da história, qualquer rota de peregrinação às suas relíquias.
Assim, foi com surpresa e indignação que autoridades da Galícia reagiram a notícias divulgadas por veículos de comunicação daqui de que o Caminho de Santiago está no Brasil, numa trilha em Santa Catarina.
“Não estamos de acordo com isso”, afirma Rafael Sánchez Bargiela, diretor gerente da S.A. de Xéstion do Plan Xacobeo, a empresa responsável pela gestão do Caminho de Santiago na Galícia: “O Caminho de Santiago é um caminho histórico, portanto, um caminho que busca recuperar as rotas que os peregrinos fizeram na Idade Média. E na Idade Média não havia peregrinos jacobeos no Brasil”.
Ele recorda que esteve em Maceió, há alguns anos, num encontro de associações de amigos de peregrinos no Brasil, quando foi informado que no país há trilhas preparatórias para o Caminho de Santiago. “Tudo bem”, concorda Bargiela: “Mas sobre esta iniciativa que se promove em Santa Catarina estamos completamente em desacordo. Quem divulga isso não pode utilizar a denominação de Caminho de Santiago, pois um dos elementos que identifica o Caminho de Santiago é a identidade história”.
Não seria o caso de haver uma manifestação oficial do Plan Xacobeo e da Catedral de Compostela para alertar os desavisados?
“Tenho pendente uma reunião com a Catedral para falar deste tema”, sinalizou-me Bargiela, em junho: “Também tivemos uma consulta da Embaixada da Espanha em Brasil e dissemos o mesmo: que isto não se pode chamar de Caminho de Santiago e que não estamos de acordo com essa divulgação”.
A polêmica foi criada após o Cabildo da Catedral de Santiago de Compostela (*) divulgar comunicado em 22 de dezembro de 2016 referente à emissão do certificado de peregrinação, denominado Compostela, aos peregrinos do Caminho Inglês. Até então, a regra geral determinava que o documento só é emitido ao peregrino que caminhar os últimos 100 quilômetros até Santiago de Compostela. Ocorre que o Caminho Inglês tem dois pontos emblemáticos de início: Ferrol, que dista 120 quilômetros de Compostela, e A Coruña, a apenas 80 quilômetros. Com a nova regra, abriu-se a exceção para ser concedido o documento a quem inicia a peregrinação em A Coruña. Para isso, os 20 quilômetros restantes deverão ser feitos no país ou região de origem do peregrino – já que o morador de A Coruña está dispensado deste complemento.
D. Segundo Leonardo Pérez López, Deão presidente da Catedral de Santiago de Compostela, frisa que a decisão é clara e só aplicável ao Caminho Inglês desde A Coruña.
Este é o comunicado assinado por D. Segundo, no original:
“Vista la petición de varias Asociaciones Extranjeras, Cofradías, la Asociación Gallega de Amigos del Camino de Santiago, así como el Concello de A Coruña y varias Instituciones jacobeas, para que se conceda la Compostela a los peregrinos que parten de la ciudad herculina en peregrinación al sepulcro del glorioso Apóstol Santiago, se acuerda, con el Vº Bº del Sr. Arzobispo, que se pueda expedir dicho documento a los siguientes peregrinos:
- Dada la tradición, históricamente documentada, de la llegada de numerosos peregrinos a través del puerto coruñés, se concede la posibilidad de obtener la Compostela a aquellos que, habiendo hecho parte del Camino en sus países o regiones de origen, hagan a pie la distancia que separa el puerto de A Coruña de la Catedral Compostelana.
- Asimismo, a los habitantes de la ciudad de A Coruña y sus alrededores que, devotionis causa, visiten los espacios jacobeos de su ciudad, y hagan el resto de la peregrinación a pie hasta el sepulcro del Apóstol Santiago.
- En lo referente a los peregrinos o caminantes que no reúnan estas condiciones, podrán recibir, sin embargo, el documento acreditativo de haber visitado la Catedral y el sepulcro del Apóstol Santiago”.
Embora não pareça justa a distinção entre o peregrino habitante de A Coruña e o estrangeiro (ou morador de outra região da Espanha), a questão é que os 20 quilômetros complementares exigidos do estrangeiro podem ser realizados em qualquer lugar e mediante algum tipo de comprovação – que o próprio comunicado não especifica –, o que está a exigir a mobilização das associações de amigos do Caminho de Santiago existentes em diferentes países do planeta. Daí a afirmar que se estará fazendo o Caminho de Santiago é descarado oportunismo.

(*) O Cabildo da Catedral de Santiago é um colegiado de sacerdotes que exercem, em comunhão com o Arcebispo e a Igreja, o ministério sacerdotal na Catedral e que tem como função singular a guarda das relíquias do apóstolo Santiago. Presidido pelo Deão D. Segundo Leonardo Pérez López, o Cabildo é formado por Juan Filgueiras Fernández, José Fernández Lago, Manuel Silva Vaamonde, Antonio Suárez Carneiro, Ramiro Calvo Otero, Víctor Benedicto Maroño Pena, Salvador Domato Búa, Luis Otero Outes, Daniel Carlos Lorenzo Santos e Elisardo Temperan Villaverde, e pelos eméritos Celestino Pérez de la Prieta, José María Díaz Fernández, Alejandro Barral Iglesias, Manuel Gesto García e Manuel Calvo Tojo.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Tormenta no Caminho Lebaniego

Tempo fechou na travessia do Collado de Arceón

Momento crucial de minha recente peregrinação pelo Caminho Lebaniego – uma rota tangencial do Caminho de Santiago de Compostela  enfrentei no quarto dia, quando fui surpreendido por uma tormenta na travessia do Collado de Arceón...
A etapa iniciou em Cicera e encerraria em Cabañes. Mas acabei esticando até Potes, ficando a apenas cerca de 3 quilômetros do Monastério Santo Toríbio de Liébana, onde é guardada a lignum crucis...
Alerto que ainda estou digerindo todo o aprendizado conquistado em mais esta peregrinação pelo universo jacobeo. Aos poucos revelarei tudo, ou quase tudo que aconteceu nos 15 dias de junho que estive na Espanha, pesquisando e me aprofundando na mística do Caminho de Santiago de Compostela.
Buen Camino!
www.facebook.com/CebolaFerraz

#pedrasdocaminho

sábado, 3 de junho de 2017

Xuntos no Camiño Inglés

Marco do Caminho Inglês no Concello de Oroso

Este é o artigo que escrevi especialmente para o II Certame Internacional de Investigación do Camiño Inglés, sob o título “Xuntos no Camiño Inglés, desde Londres...”, e que me premiou com a segunda colocação na modalidade Peregrinos. A inscrição exigia que fosse escrito em galego, espanhol ou inglês. Redigi em português e, com a ajuda do Dr. Google, preparei a versão em galego. Desde já me penitencio por eventuais erros, que, ainda que flagrantes, não devem ter sido considerados pela organização. Para mim foi uma honra participar do concurso e uma grande felicidade ter meu trabalho reconhecido. O texto é uma versão resumida do livro "Juntos no Caminho de Santiago, as pedras do Caminho Inglês", cuja edição tem 140 páginas e é ilustrado com 100 fotos coloridas, e que foi lançado em 22 de abril passado na Igreja Anglicana de Santos. Boa leitura!
Buen Camino!

Unha cuestión que sempre me intriga nos guías impresos ou virtuais que abordan o universo Xacobeo é o feito de que o Camiño Inglés levar unha contradición implícita, cal sexa, ser presentado como o único a ser peregrinado totalmente en Galicia. Como así? O tradicional Camiño Francés, como o nome suxire, ten o seu inicio emblemático en Saint Jean Pied de Port, en Francia. Xa o Camiño Portugués pode ser realizado desde Lisboa, a capital de Portugal, aínda que preferentemente peregrina-lo dende o Porto. Agora, o Camiño Inglés, sosteñen os guías especializados, comeza en España, en A Coruña ou Ferrol...
Non, non e non, pasei a pensar comigo mesmo: o Camiño Inglés hai de ter o seu punto de partida na Inglaterra, como a historia rexistra unhas famosas peregrinacións da Idade Media e como está inmortalizado no poema medieval inglés "The pylgrims 'sea voyage and sea Sickness". De autoría descoñecida, debe ser escrito en 1445 ou os primeiros anos da segunda metade do século XV, segundo arriscan algúns investigadores.
Revela a primeira estrofa do poema:
Men may leue alle gamys
That saylen to seynt Jamys!
For many a man hit gramys,
When they begyn to sayle.
For when they hauve take the see,
At Sandwyche, or at Wynchylsee.
At Brystow, or where that hit bee.
Theyr hertes begyn to fayle.
A estrofa foi traducida polo profesor español Pedro Jesús Marcos, que buscou respectar a literalidade do texto:
¡Pasajeros, olvidaos de toda diversión!,
Pues muchos de los que van a Santiago
empiezan a sentirse mal,
nada más comenzar a navegar.
Tan pronto se hacen a la mar,
ya sea desde Sandwyche o desde Wynchylsee,
desde Brystow o desde dondequiera que sea,
empiezan a desfallecer.
Ao decidir peregrinar o Camiño Inglés procurei levar "ao pé da letra" o ánimo dos peregrinos medievais. Sabía que non sería unha tarefa fácil e ao buscar en Google enumerei algunhas dificultades. O primeiro, a falta dunha ruta marítima viable dalgún porto británico, como Sandwich, Londres, Plymouth, Bristol, ou mesmo de Irlanda, como Galway, ata o litoral de Galicia. Despois, no caso de adoptar un traxecto terrestre, a considerable distancia de máis de 2.000 quilómetros. É dicir, se me dispuxese a andar unha media de 20 quilómetros diarios, serían necesarios polo menos 100 días!
Non, unha camiñada non sería posible, aínda máis tendo en conta que, aínda que esta fose a miña sexta peregrinación ás reliquias do Apóstolo Santiago Maior, que descansan na cripta da Catedral de Compostela, estaría acompañado miña muller Sandra, que faría a súa estrea na mística do camiño. Tecendo esas consideracións, no canto de irmos para A Coruña ou Ferrol, embarcamos do Brasil a Londres para resgatarmos a inusitada ruta de peregrinación.
Londres garda numerosos segredos de Saint James, como se chama Santiago na lingua inglesa. É emocionante, por exemplo, pasear polo encanto parque co seu nome, camiñar na rúa dedicada ao Apóstolo de Xesús e, de forma especial, adentrar en Saint James Church de West Hampstead.
En que pese posibles diferenzas entre a Igrexa Anglicana, creada no século XVI, ea Igrexa Católica, hoxe cada vez máis unha parte significativa de adeptos de ambas busca os puntos en común entre as dúas teologias.
Saint James Church de West Hampstead ocupa un edificio data de 1606 e amosa na súa fachada unha imaxe de Xesús crucificado. Participamos da misa aos pés dunha imaxe de Saint James, a esclavina sobre a túnica mostrando unha cuncha de vieira, unha man sostendo o cajado ea outra abrazando o Evanxeo. A lectura dun dos himnos pareceu ser unha mensaxe para nós:
“GUIDE me, O thou great Redeemer,
Pilgrim through this barren land:
I am weak, but thou art mighty,
Hold me with thy powerful hand:
Bread of heaven,
Feed me till I want no more”.
Ou, en tradución libre:
"Guía-ME, o gran Redentor,
Peregrino a través desta terra estéril:
Eu son débil, pero ti es poderoso,
Manteña-me coa súa poderosa man:
Pan do ceo,
Alimente-me até non querer máis".
En Saint James Church de West Hampstead poñemos a primeira marca en nosas credenciais de peregrino. Na falta dun selo, como é tradicional no Camiño de Santiago, o reverendo Ross Hutchinson fixo unha declaración de propio puño e atestou a nosa presenza na misa. Foron momentos máxicos que nos deron forza e convicción de que estabamos no camiño correcto.
En fin, afastada a hipótese adotarmos o Camiño por mar – e moito menos seguimos camiñando ata Compostela –, tomamos o tren para París para posicionarmos no punto máis emblemático da Vía Turonensis – un dos catro itinerarios que cortan a Francia (os outros son a Vía Lemovicensis, a Vía Podiensis ea Vía Tolosana) e que se atopan en Saint Jean Pied de Port para xuntos seguiren a Compostela co nome de Camiño Francés.
A Vía Turonensis é citada no primeiro capítulo do libro V do Codex Calixtinus – a fenomenal compilación de textos sobre o Camiño de Santiago, datada do século XII. En París, a Turonensis inicia na Torre de Santiago, vestixio da igrexa medieval de Saint-Jacques-de-la-Boucherie, e pasa por Orleans, Tours, Poitiers, Bordeaux...
Construída no século XVI, no estilo gótico Flamboyant, a Torre de Santiago está situada no centro dun parque e as estatuas existentes nos seus catro cantos, feitas por Rault, en 1523, representan Tiago Maior e tres animais que simbolizan os evanxelistas: a aguia, San Xoán; o boi, Lucas, eo león, San Marcos.
Aínda en París, visitamos e selamos nosas credenciais na Église Saint Louis en l'Île, consagrada a San Luís, rei de Francia como Luís IX (1226 a 1270). Entre tantas imaxes, atopamos a de "SCS. Xacobeos-Zeb", é dicir, Saint Jacques, Tiago Maior, fillo de Zebedeo, representado como peregrino, sostendo o cajado nunha das mans e tendo cunchas de vieira decorada seu manto.
De París, seguimos de tren para Tours e encontramos a cidade en festa, celebrando o jubileu do 1.700º aniversario de nacemento de Saint Martin (316-2016), o terceiro bispo de Tours, entre os anos de 371 a 397.
Tours foi capital do reino de Francia nos séculos XV e XVI e é paso do peregrino que utiliza a Vía Turonensis. Estivemos na Catedral de Saint Gatien, de estilo gótico, construída entre os séculos XII e XVI, e no Musée du Compagnonnage, confraría do século XV, situado á beira da Igrexa Saint Julien.
Pasamos pola Colegiata Saint Martin e chegamos por fin na Basílica de Saint Martin. A primeira construción da basílica data do século V. Despois selar nosas credenciais avistamos a imaxe de pedra de Saint Jacques, representando o apóstolo, usando un sombreiro de abas anchas con detalle dunha cuncha de vieira e tendo ás mans do Evanxeo.
Nosa parada seguinte na Vía Turonensis foi Bordeaux, onde fomos de autobús. Coñecemos a Basílica de Saint Michael, que é patrimonio mundial, cultural e natural, no marco do "Les chemins de Saint-Jacques-de-Compostelle (Vía Turonensis) En France", segundo declaración da Unesco, a Organización das Nacións Unidas para a Educación, a Ciencia ea Cultura. Foi edificada nos séculos XV e XVI no lugar dunha igrexa románica construída polos abades de Santa Cruz, que foi erguida sobre os restos dun santuario cristián carolíngeo. O gran edificio posúe 17 capelas, entre as cales unha dedicada a Saint Jacques.
Moitos son os signos da presenza de Santiago no interior da Basílica, como na estupenda Chapelle Saint-Jacques, onde é posible contemplar unha imaxe do Apóstolo.
Seguimos a santuario Primatiale Saint-André, a Catedral de Saint-André, onde o gran portal destaca-se Santiago, representado coa cuncha de vieira no seu bornal.
Rematada a travesía de Francia ingressamos en España de autobús, alcanzando Santander, en Cantabria, paso obrigatoria dos peregrinos do Camiño do Norte. Este camiño ten inicio en Irún, na fronteira con Francia, e ata Compostela suma preto de 850 quilómetros, 550 dos cales pola Costa Cantábrica, ata Ribadeo, en Asturias. Despois converxe á Arzúa, en Galicia, para atoparse co Camiño Francés e seguir un só a Compostela.
Visitamos o Albergue de Peregrinos Santos Mártires e durante encontro cos hospitaleiros tivemos a oportunidade de expoñer o noso proxecto de Camiño Inglés e selar as nosas credenciais.
Finalmente, en tren, chegamos a Ferrol, en Galicia, a terra natal do ditador Francisco Franco, que escollemos para iniciar a nosa efectiva peregrinación a pé ata Compostela. Poderiamos optar por A Coruña, pero o traxecto da romana Portus Magnus Artabrorum, ou o gran porto do Golfo Ártabro, ata o sepulcro do Apóstolo de Xesús non chega a 100 quilómetros, o que non nos daría dereito a obter a Compostela.
Os indicios do Camiño de Santiago son moitos nas rúas de Ferrol. Cunchas de vieira – en azulexos nas cores azul e amarelo, cravados en marcos de pedra, ou en placas de bronce no chan –, frechas amarelas nas paredes... Seguimos na dirección do peirao de Curuxeiras, indicado como o punto cero do Camiño, onde está o monolito de pedra co escudo de Galicia ea placa de bronce coa inscrición "Camino de Santiago Camino Inglés". Alí preto funcionou ata 1780, o Hospital de Peregrinos do Espírito Santo, destinado a pobres e enfermos.
Baixo unha choiva intermitente, ora fina, ora con pingos grosos e ventoso, camiñamos de Ferrol a Neda, o obxectivo da nosa primeira etapa. Un percorrido de 15 quilómetros, ao longo da Ría de Ferrol, que é marcada por instalacións militares da cidade portuaria, un polígono industrial e unha secuencia de pequenos aglomerados urbanos, pueblos, e rechea de edificios relixiosos medievais. Un deles, case ao final de 9 quilómetros de sendeirismo, é o mosteiro de San Martiño de Xubia, que conserva unha igrexa románica de tres naves da primeira metade do século XII, período no que pasou a ser un priorado da Abadía de Cluny.
En medio a ese contexto magnífico, e tendo en conta aínda que cada Camiño é un camiño, polo tanto, a súa identidade e peculiaridades, a marca deste, con absoluta certeza, é a presenza de miña esposa Sandra. A diferenza que iso fai é inmensa. Non só pola compañía, pero por ser exactamente ela que sempre quixo ter ao meu lado desde a primeira peregrinación en 2009.
O segundo día de peregrinación, recibimos a visita da nosa amiga santiaguense Carmen Vázquez Nolasco, que veu de Compostela, a uns 100 quilómetros de distancia, para camiñar connosco esta etapa, con 16 quilómetros, de Neda ata Pontedeume.
Iniciamos nosos pasos co Camiño mollado pola garoa da madrugada. Tras atravesarmos pasarelas de madeira sobre o río Belelle e as súas áreas de mangue, avistamos a Igrexa de Santa María. O inicio de construción é de 1720 sobre unha edificación anterior, posiblemente do século X. Xoia do barroco rural, a atopamos pechada e non puidemos admirar a escultura gótica que garda, denominada "Cristo de la Cadena", de estilo Tudor, cuxa tradición relata que chegou a Neda en 1550 a bordo dunha embarcación británica, fuxindo da persecución da Igrexa Anglicana.
Seguimos por rutas que cruzan pequenos pobos, bosques e zonas reflorestadas, con subidas e baixadas suaves, e chegamos á Playa de la Magdalena, no Concello de Cabanas. Chovía fino. Tras atravesarmos a ponte sobre o río Eume, que desemboca na ría de Ares, chegamos a Pontedeume, a cidade famosa polos feitos da Familia Andrade.
Por un instante estivemos apreciado a actual ponte de 850 metros que dá nome á cidade. Con 15 arcos, foi construída entre 1863 e 1870 e remodelada entre 1884 e 1888. A gótica orixinal foi mandada construír por Fernán Pérez de Andrade, o Bo, entre 1380 e 1386, e chegou a ter 78 arcos, ademais de albergar dúas torres, unha capela e un hospital para peregrinos.
A terceira etapa da nosa peregrinación, de Pontedeume a Betanzos, con preto de 21 quilómetros, foi desas que todo peregrino persegue en soño. Non houbo, por exemplo, a necesidade de camiñar en medio a vehículos. Como moito, o itinerario implica estreitas vías que unen pueblos esparsos e perdidos no tempo, sempre ofrecendo a contemplación de igrexas e edificios medievais, todo circundado por bosques perfumado repletos de paxaros.
Pouco antes de chegar a Miño nos detivemos na ponte sobre o río Baxoi, cuxa construción consta ser do século XIV, por iniciativa Fernán Pérez de Andrade.
Tras Miño, atopamos a Igrexa San Pantaleón das Viñas, que conserva o seu fermoso portal románico. Seguimos o Camiño, atravesando bosques e propiedades esparsas, na rexión do primitivo núcleo de Betanzos, e chegamos á Igrexa San Martiño de Tiobre, románica do século IX, que consta ser consagrada no século XII polo primeiro arcebispo de Santiago, don Diego Xelmírez.
Ao final desta etapa, tras atravesarmos a ponte sobre o río Mandeo, chegamos a Betanzos, a sorprendernos co seu patrimonio arquitectónico, artístico e cultural, que revelan a importancia da cidade galega.
O fantástico casco histórico de Betanzos conserva edificios cuxa arquitectura é referencia en España, xa que reflicten un período de vigor en Galicia. Fundamental ao peregrino é que xunto a estas construcións, tamén ocupando un antigo edificio restaurado, está ben equipado Albergue de Peregrinos "Casa da Pescadería", mantido pola Xunta de Galicia. A localización facilita gozar a beleza das construcións – aínda que, na maior parte das veces, só das fachadas, pois o horario de apertura non sempre coincide co final da peregrinación diaria.
Tivemos a oportunidade de coñecer o interior da igrexa de Santa María de Azougue, erguida durante os séculos XIV-XV. Esta igrexa, xunto coa de Santiago, edificada nos séculos XIV-XV sobre unha estrutura románica anterior, ea de San Francisco, orixinariamente construída no século XIV, son exemplos do gótico galego e conservan numerosos sarcófagos no seu interior.
Para que non sexa desprezada a xeografía da cuarta etapa da nosa peregrinación, de Betanzos a Presedo, con raquíticos 11,8 quilómetros, rizo que o tramo posúe todas as características que fixeron o esplendor da anterior. É dicir, aínda que moito máis curta, houbo preciosos momentos de bosques perfumado, pueblos, a Igrexa de San Esteban de Cos – onde o movemento era grande, por conta dun velorio. Descansamos no albergue de Presedo e puidemos avaliar que, aínda curta, a etapa tamén se chea de subidas e baixadas, unha auténtica rompe piernas.
Nosa quinta etapa do Camiño Inglés – de Presedo a Hospital de Bruma, con 15,1 quilómetros –, tamén debe ser elevada ao status dunha rompe piernas. Ao final, entre subidas e baixadas, tras 7 quilómetros desde Presedo, fomos regalados nun tramo de 2 quilómetros cunha subida, de 147 a 454 metros – de feito, o punto máis alto do Camiño inglés!
Afortunadamente, como as dúas anteriores, enfrontamos ben este paso, felices unha vez coa compañía da amiga Carmen Vázquez Nolasco, que aínda trouxo ao Camiño ao querido pai Lizardo, que en poucos días completaría 75 anos e nos sorprendeu co seu vitalidade. Viva Santiago!
A sexta e penúltima etapa do noso Camiño Inglés, entre Hospital de Bruma e Sigüeiro, levounos ao encontro do que tanto buscamos ao decidimos afrontar este reto. Ao final, moito máis do que unha viaxe física, marcada polo esforzo de camiñar quilómetros por paisaxes fascinantes, a peregrinación nos proporciona unha viaxe espiritual, mística, a un encontro interior, consigo mesmo. Podo dicir que, tanto para min como para Sandra, a comprensión é que se trata de oportunidade única para reafirmarmos nosas conviccións, sobre o que somos eo que queremos para nós e para os que nos son queridos; e, por suposto, intentamos comprender e entender este amor que nos une e nos anima a vivir.
No contexto dunha peregrinación que evoluciona en etapas, desde os nosos primeiros pasos en Ferrol – ou antes, ao desembarcarmos en Londres, para conectarmos co pensamento dos peregrinos medievais que alí iniciaban o Camiño Inglés; ou aínda, ao nos despedirmos do Brasil –, a liña do tempo da sexta etapa tivo seu inicio ao deixarmos o albergue público de Hospital de Bruma. Foi unha etapa ancha, con máis de 25 quilómetros e que durou case sete horas. O tramo final, todo asfaltado, foi camiñado baixo sol forte.
En Sigüeiro, ao optamos polo albergue particular de Delia, nos surpreendemos aínda máis. O albergue é referencia no Camiño Inglés. Fomos acollidos pola hospitalario Maria José, a Pepa, que é filla da señora que dá nome ao establecemento. E que hospitalario! Ela asume o seu papel e fai valer a máxima do Camiño, de que "peregrino non pide, peregrino agradece". E no albergue de Delia, o peregrino non precisa pedir, basta só gracias a Pepa, que coida de todo. Das súas roupas, o seu ánimo, as súas burbullas...
Ao final da tarde, cando o albergue xa estaba todo ocupado, Pepa reuniu os peregrinos para un bate papo. Fixo unha breve charla sobre o Camiño de Santiago, contou curiosidades e sacou dúbidas. Ao final, tras ofrecer exemplar do mapa de Compostela, indicou locais pintorescos e imperdíveis da Cidade Santa, é dicir, fixo de todo para facilitar e coroar de pleno éxito o final da peregrinación.
Durante o encontro, fomos sensibilizados coa presenza do xornalista Cristóbal Ramírez, que, sabendo da nosa chegada en Sigüeiro, chamou Pepa e veu ao noso encontro. Entusiasta do Camiño Inglés, Ramirez fixo unha pequena exposición aos peregrinos sobre os esforzos dos amigos do Camiño, en colaboración coa Xunta de Galicia e os gobernos municipais, para mellorar aínda máis a infraestrutura da tradicional ruta.
O día seguinte, a peregrinación polos últimos 16,5 quilómetros, de Sigüeiro a Compostela, foi pura emoción. Todo ben que neste tramo o Camiño está invadido polo polígono industrial, en fin, o desenvolvemento urbano, pero facer o que? A vontade de chegar é maior... Tras atravesarmos a Praza da Paz, ingressamos no Campo de Pastoriza, logo a Rúa Basquiños, Rúa de Santa Clara, onde está o Convento de Santa Clara, nun edificio barroco do século XVII. Seguimos pola Rúa dos Loureiros, Rúa Porta da Pena e avistamos a igrexa do Mosteiro de San Martiño Pinario, o enorme edificio construído entre os séculos XVI e XVIII. Alcanzamos a Rúa da Acibechería, que dá nome a unha das entradas da magnífica Catedral de Compostela.
Felicidade total por completar a peregrinación do Camiño Inglés – por primeira vez en compañía de miña querida Sandra. Non sei se camiñamos ou flutuamos neses últimos pasos ata a Praza do Obradoiro, onde o movemento de peregrinos é intenso e alí somos só dous; dous peregrinos como millóns de peregrinos que nos últimos 12 séculos veneran o apóstolo de Xesús, Santiago Maior.
No medio da confraternización de todos pola conquista, agradecemos aos pés da Catedral as bendicións recibidas durante os sete días de peregrinación, 120 quilómetros desde Ferrol, ou moito máis desde Londres..., con saúde, moita cousa boa se concretando, coñecendo xente incribles de varias partes do planeta, contemplando paisaxes inesquecibles.
Grazas, grazas, grazas!
Miramos un para o outro e emoción é intensa. Nos abrazamos, nos bicos, agradecemos: si, podemos! Por algún tempo estivemos no centro da Obradoiro, cos pés fincados no marco cero, apreciado a fachada da Catedral. Fermosa, ela está a ser restaurada e quedará aínda máis fermosa. Non se pode afastarse do escenario. E seguen a chegar máis peregrinos, a pé, en bicicleta, en excursión... Damos algúns pasos e sentamos no chan, encostados nunha das columnas do Palacio de Raxoi, onde funciona a Casa do Concello e do Goberno da Xunta de Galicia, un fermoso edificio de estilo neoclásico de finais do século XVIII.
Temos que completar o ritual da peregrinación. Seguimos para as novas instalacións do Taller de Peregrinaciones da Catedral de Santiago, onde nos enfrontamos unha enorme cola para selarmos nosas credenciais e recibimos a Compostela, que certifica a nosa peregrinación. O meu nome é grafado Ludovicum Carolum Ferraz eo de Sandra, Alexandram Luciam Netto.
Si, somos outros, renovados, purificados...
Volvemos á Catedral e dirixímonos á Porta da Misericordia, que foi aberta todo en 2016, neste Ano Santo Extraordinario decretado polo Papa Francisco. Momento de pedir perdón polos nosos erros, grazas todas as bendicións proporcionadas polo incondicional amor de Deus e, de forma especial, gracias a todos os que reservaron un pouco do seu tempo para seguir polas redes sociais, para que tamén sexan bendicidos polo noso querido Apóstolo.
Seguimos o ritual e, pasando por tras do altar maior, damos un forte abrazo na imaxe de Santiago. Descendemos á cripta baixo o altar maior e, ante as reliquias do Apóstolo, oramos. Na Misa do Peregrino, coa Catedral lotada eo espectáculo do botafumeiro, o Evanxeo do día honrou Mateo 7:17-20.
17. Toda árbore boa dá bos froitos; toda árbore mala dá malos froitos.
18. Unha árbore boa non pode dar malos froitos; nin unha árbore mala, bos froitos.
19. Toda árbore que non dá bos froitos será cortada e lanzada ao lume.
20. Polos seus froitos os conhecereis.

Buen Camino!

#pedrasdocaminho

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Premiado por “Xuntos no Camiño Inglés...”

Carmen Vázquez Nolasco recebeu a premiação: diploma e HD externo

Extremamente grato pelo reconhecimento, fui muito bem representado por minha irmã santiaguense Carmen Vázquez Nolasco na premiação do II Certame Internacional de Investigación do Camiño Inglés.
Com o artigo “Xuntos no Camiño Inglés, desde Londres...”, sobre a peregrinação realizada em 2016 pelo Caminho Inglês junto com minha amada Sandra, conquistei o segundo prêmio na modalidade Peregrinos e fui contemplado com um HD externo, além do diploma de participação.
O evento festivo, que reuniu peregrinos e a comunidade cultural do Concello de Oroso, aconteceu na noite desta sexta-feira, 2, no Centro Cultural Fernando de Casas e Novoa, em Sigüeiro, Oroso, A Coruña, Galícia. Gostaria muito de ter estar presente fisicamente.
Muito obrigado, Carmen. Logo nos veremos. Buen Camino!

#pedrasdocaminho

De noooovo?!?!?!

Bula do Papa Julius II, de 23 de setembro de 1512: Ano Jubilar no Caminho Lebaniego

Não é de hoje que ouço a frase, curta e em tom de espanto, toda vez que alguém me pergunta, ou se não me pergunta eu revelo que estou indo para a Espanha peregrinar o Caminho de Santiago de Compostela. Não costumo me aborrecer com tal manifestação, ainda que a incredulidade possa ser interpretada sob diferentes ângulos, que não os relaciono, deixando ao sabor da criatividade de cada um. Prefiro, aliás, o mais singelo, o sincero desconhecimento de meu interlocutor sobre a dimensão do universo jacobeo. Assim tenho a chance de discorrer sobre a famosa rota de peregrinação cristã, desde a descoberta do sepulcro do Apóstolo Tiago Maior, no primeiro terço do século IX, que fomentou os inúmeros itinerários de diferentes pontos da Europa, notadamente da própria Espanha, Portugal e França.
Desta vez, contudo, enfrentar o questionamento é ainda mais complexo, pois, efetivamente, neste mês de junho peregrinarei o Caminho Lebaniego, que não é exatamente um Caminho a Santiago de Compostela...
O queeee?!?!?!
A resposta é outra grande oportunidade, pois diante do aparente interesse passo a relatar o pouco daquilo que nada sei sobre o que alguns historiadores convencionaram chamar de rota tangencial do Caminho de Santiago.
Capturei este conceito quando escrevia “Busca sem fim”, o terceiro livro da trilogia Pedras do Caminho, que trata de minha peregrinação pelo Caminho Aragonês a Santiago de Compostela. Sem ter a plena noção que estava adotando uma rota tangencial, logo após Jaca deixei o itinerário tradicional para alcançar Atarés e chegar ao Monastério de San Juan de la Peña. O lugar é mágico e sua tradição afirma que abrigou o Santo Graal e as relíquias de São Indalécio, discípulo de Santiago e um dos Sete Varões Apostólicos...
Este é o trecho de “Busca sem fim”, no qual o conceito é explicado pelo escritor espanhol Bizén d’o Rio Martínez. Escreveu ele, numa tradução livre:
“A crença na eficácia da intercessão dos santos para o perdão dos pecados foi algo generalizado que se arraigou lentamente, fazendo que, imperceptivelmente, à peregrinação com um objetivo específico, ou seja, Santiago de Compostela, fosse adicionada uma rota tangencial, que levava o peregrino a visitar, às vezes por devoção e outras por obrigação, como no caso dos prisioneiros, um famoso monastério ou santuário, buscando a distância e a dificuldade de acesso...”.
O Caminho Lebaniego leva o peregrino ao Monastério de Santo Toríbio de Liébana, na Cantábria, onde repousam, além das relíquias do então bispo de Astorga, Santo Toríbio (402 - 460), a Lignum crucis, o maior pedaço da cruz de Jesus Cristo, que Toríbio trouxe de Jerusalém. Não bastassem estas motivações, desde 16 de abril passado o Caminho Lebaniego comemora seu Ano Jubilar. O privilégio foi concedido em 23 de setembro de 1512 pelo Papa Julius II (nº 216 da Igreja Católica, de 1503 a 1513), que, por meio de uma bula (leia o texto na íntegra ao final), estabeleceu que todo ano em que o Dia de Santo Toríbio cai em domingo é Ano Santo, quando é aberta a Porta Santa, a Porta do Perdão. Este ano, por conta das comemorações da Páscoa, a abertura da Porta aconteceu no domingo seguinte, 23. A passagem por ela e a obediência a um minucioso ritual garantem indulgência plenária ao peregrino, que no Lebaniego também é chamado cruceño ou cruzeiro.
A rota ao Monastério de Santo Toríbio de Liébana pode ser realizada a partir de dois famosos Caminhos de Santiago. O peregrino do Caminho do Norte, que cruza a Espanha pelo litoral, pode adotar o desvio a partir de San Vicente de la Barquera. Afastando-se do litoral, serão cerca de 75 quilômetros pela Cordilheira Cantábrica, com belas paisagem e uma vista estupenda dos Picos de Europa. Já o peregrino do Caminho Francês, o mais famoso dos itinerários que levam a Compostela, deve utilizar o desvio em Mansilla de las Mulas, seguindo aquele que é denominado Caminho Vadiniense, com cerca de 153 quilômetros até o Monastério.
Naturamente, é possível somar essas duas rotas tangenciais e atravessar do Caminho do Norte para o Francês e vice-versa, venerar a “Lignum crucis”, e continuar a peregrinação a Santiago de Compostela. Este não será o meu caso. Estou programado para peregrinar tão somente o Caminho Lebaniego – o que não considero pouco.
Ooooutro livro?!?!?!
Quem sabe! Creio que sim. Minha busca pelos mistérios do Caminho de Santiago é permanente. Quanto mais encontro respostas mais indagações surgem, o que cristaliza em mim a máxima socrática de que o que sei é que nada sei. Desde a primeira peregrinação a Compostela, em 2009, pelo Caminho Francês, persigo a história do Caminho de Santiago, que compartilho por meio de livros. O fruto de uma série de peregrinações está detalhado em sete livros, sendo o último deles, “Juntos no Caminho de Santiago, as pedras do Caminho Inglês”, lançado em abril num encontro memorável na Igreja Anglicana de Santos.
Sobre as questões que guardo comigo espero refletir com profundidade nos dias em que peregrinarei o Caminho Lebaniego. Este é o meu foco, nesses dias que antecedem meu retorno à Península Ibérica. Daquilo que semear e colher espero ter o discernimento necessário para compartilhar com alegria, colaborando para fomentar ainda mais a mística sobre o Caminho de Santiago.
Sete vezes estive em Compostela e em duas delas não cheguei caminhando. A primeira foi em 2012, quando para lá me dirigi após peregrinar o Caminho Aragonês. Realizei apenas o trecho de 180 quilômetros, de Somport a Puente la Reina, onde a tradição anuncia que o Aragonês se encontra com o Caminho Francês. Um encontro que na verdade acontece um pouco antes, em Obanos... De Puente la Reina peguei um ônibus a Pamplona e de lá o trem que me levou a Compostela. Relato essa experiência em “Busca sem fim”.
A outra vez foi em 2014, ao resgatar a célebre peregrinação de Francisco, no século XIII, quando, em companhia de minha esposa Sandra, percorremos o trajeto de Assis a Compostela. Na ocasião, comemoramos os 800 anos do feito de Francisco e os 30 anos de nossa união. Atravessamos esses 2.500 quilômetros de ônibus, trem e carro. E foi de carro que chegamos à Plaza do Obradoiro. “Passos do Amor”, da série Descobrindo Novos Caminhos, relata os detalhes da peregrinação do poverello e de nossa viagem.
Nas outras cinco vezes fui caminhando a Compostela e posso assegurar que é emocionante chegar exausto à Plaza do Obradoiro e ajoelhar-se aos pés da magnífica Catedral, onde na cripta repousam as relíquias do Apóstolo Tiago Maior. Os dias peregrinando são verdadeiramente os grandes momentos em que o peregrino se depara consigo e festeja o seu reencontro. É no Caminho que se proliferam os questionamentos, as dúvidas e muitas vezes se encontram as respostas, capazes de gerar novas e consequentes dúvidas. Contudo, nada se compara ao fim, ao instante fatal, ao enfrentar-se a metáfora da morte. Sucumbir e viver na plenitude o instante da transformação, extasiado com a energia do Campo Santo e podendo compartilhar este renascimento com outros peregrinos.
Estou chegando. Santiago, Passa à Frente!
Buen Camino!

Esta é a íntegra da bula do Papa Julius II:
Julio, Obispo, Siervo de los siervos de Dios, a los amados hijos abades de los monasterios de San Facundo y de San Salvador de Onís, de la diócesis de León y Burgos y de San Vicente de Oviedo, salud y apostólica bendición.
Hemos recibido la querella de los amados hijos prior y comunidad del Monasterio acostumbrado a gobernarse por el prior de Santo Toribio de Liébana, de la Orden de San Benito, de la diócesis de León, en que se contiene que es lícito por indulto de la autoridad apostólica al prior y a la comunidad y al Monasterio predichos que todos y cada uno de los fieles de ambos sexos que visitaren devotamente la iglesia de dicho Monasterio en que descansa el cuerpo del mismo Santo Toribio, en otro tiempo Obispo de Astorga, y donde se guardan una gran parte de la Cruz del Señor que allí resplandece con continuos milagros, en la fiesta del predicho Santo Toribio, y cuando cae en domingo en los siete días inmediatamente siguientes  a la fiesta, puedan ganar indulgencia plenaria y remisión de todos sus pecados, de que estuvieren contritos de corazón y confesados; y que los predichos prior y comunidad estuvieron en pacífica posesión de estas facultades desde tiempo inmemorial más allá de cuyo principio no hay memoria entre los hombres.  Sin embargo de esto Juan Sánchez (Saneii), Pedro González (Gundisalvi) y Alfonso Martínez (Marini) y algunos otros clérigos, aún constituidos en dignidad eclesiástica, y religiosos y seglares de las ciudades y diócesis de León, Astorga y Burgos, pretendiendo falsamente que el predicho indulto no se extiende a los siete días inmediatos siguientes a dicha fiesta, han tratado de impedir contra justicia que el prior y comunidad puedan usar y gozar este indulto; y sobre esto han intentado inferir y de hecho han inferido e infieren ciertas graves molestias, perjuicios, impedimentos, inquietudes y perturbaciones con daño de sus almas y perjuicio y gravamen no escaso de los mismos prior y comunidad. Por lo cual de parte de los mismos prior y comunidad humildemente se nos ha suplicado que juzguemos y declaremos que conforme a lo contenido y a tenor de este indulto los dichos fieles cristianos que visitaren dicha iglesia en la fiesta de Santo Toribio y cuando esta fiesta ocurriere en domingo tanto la fiesta como los siguientes siete días inmediatos, en la forma dicha, puedan ganar indulgencia plenaria en remisión de todos sus pecados; y que los dichos clérigos y laicos que se oponen, sean obligados y compelidos a desistir de estos impedimentos, perturbaciones, gocen de este indulto, y que nos dignásemos proveer lo oportuno en benignidad apostólica. Por esto mandamos a vuestra discreción por letras apostólicas que llamados los que hubieren  de llamarse y oídos, juzguéis lo que fuere justo en apelación remota, haciendo que lo que decretareis se observe firmemente por censura eclesiástica. Y a los testigos que se nombraren, si por gracia o por oído o temor evadiesen el cumplimiento de su deber, compeledlos con censura semejante, cesando la apelación, a dar testimonio de la verdad. Y si no pudiereis intervenir todos en estas ejecuciones, intervengan dos o uno de vosotros.

Dado en Roma, junto a San Pedro, año de la Encarnación del Señor, mil quinientos doce, día nono de las calendas de octubre (23 de septiembre), de nuestro Pontificado año nono.

www.facebook.com/CebolaFerraz
#pedrasdocaminho