segunda-feira, 8 de junho de 2020

Sem tirar a capa


Ponte medieval sobre o rio Lima, em Ponte de Lima

Perdão

“Quem tiver praticado o bem receberá o décuplo pelo mesmo; quem tiver cometido um pecado receberá um castigo equivalente, e não serão defraudados”.
Alcorão 6:160, o Livro Sagrado do Islã.

Sem tirar a capa

Acordei para a terceira etapa do Caminho Português, de Barcelos a Ponte de Lima, com tempo chuvoso. Uma chuva, aliás, que me perseguiria nos dias seguintes. Nesta terça-feira, caminhei 33 quilômetros sem tirar a capa. Foi uma etapa difícil, longa, mas a pior do Caminho Português a Santiago de Compostela ainda estava por vir...
Não havia outra alternativa, segundo me indicavam os guias que carregava comigo. Deixei Barcelos por volta das 7h30, após um café da manhã reforçado e levando comigo um bocadilho, frutas e água para um piquenique no Caminho. O perfil do terreno nesta etapa é irregular e logo após a aldeia de Vila Boa há uma subida forte até Portela, que chega a 180 metros de altitude, baixando abruptamente até Ponte das Táboas, passando por Vitorino dos Pães e subindo novamente no Alto da Albergaria, a 175 metros. Depois é uma descida constante até Ponte de Lima, uma vila do distrito de Viana do Castelo.
Apesar da insistente chuva, a paisagem inspira o peregrino à reflexão, com ar puríssimo, muito verde primaveril, propriedades rurais cultivadas e aldeias marcadas pela presença católica, aparentemente perdidas no tempo e espaço... Somente quando estava chegando a Ponte de Lima passei por um grupo de peregrinos espanhóis. Efetivamente, foram os primeiros peregrinos que vi no Caminho desde que iniciei minha jornada em Oporto no domingo.
Após caminhar um pouco mais de seis horas, avisto a ponte nova sobre o rio Lima. Sigo às margens do Lima pelo Caminho dos Plátanos e passo pela Igreja de Nossa Senhora da Guia, para logo me surpreender com a majestosa ponte de pedra que dá nome ao povoado. Integrando a famosa via romana XIX do Itinerário de Antonino, que ligava Bracara, a atual Braga, a Asturica Augusta, hoje Astorga, a ponte foi construída pelo imperador Augusto. Daquele tempo restam os primeiros cinco arcos da margem direita, enquanto os demais 24 arcos são do período medieval, século XIV, durante o reinado de D. Pedro I.
Junto à ponte, integrando os vestígios da muralha que protegia a antiga vila, está a Torre da Cadeia Velha, também conhecida como Torre da Porta Nova, e que até os anos 60 do século passado foi usada para encarceramento, passando em seguida ao Arquivo Histórico e Municipal. Sob a garoa que insistiu em não dar uma trégua atravesso a lendária ponte e passo pela Igreja de Santo Antônio da Torre Velha para chegar ao albergue municipal. Depois de aguardar a chegada do gentil hospitaleiro, e presenciar o “barraco” de uma dupla de brasileiras cariocas, que tentaram furar a ordem no atendimento, fiquei muito bem instalado. Pela primeira vez – e seria a última! – usei meu saco de dormir...
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#10yearchallenge

Rua do Espírito Santo, deixando Barcelos

Presença católica constante nas aldeias

Calçada adoquinada, próximo ao Alto da Portela

Ponte das Táboas: citada em relatos do século XII

Forte vocação agrícola na região de Albergaria

Ovelhas observam o peregrino...

Grupo de peregrinos espanhóis: Buen Camino!

Igreja de Nossa Senhora da Guia

Entrada da Torre da Cadeia Velha

Torre da Cadeia Velha: espaço de encarceramento até os anos 60

Igreja de Santo Antônio da Torre Velha

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