Ponte
medieval sobre o rio Lima, em Ponte de Lima
Perdão
“Quem
tiver praticado o bem receberá o décuplo pelo mesmo; quem tiver cometido um
pecado receberá um castigo equivalente, e não serão defraudados”.
Alcorão
6:160, o Livro Sagrado do Islã.
Sem tirar a
capa
Acordei para
a terceira etapa do Caminho Português, de Barcelos a Ponte de Lima, com tempo
chuvoso. Uma chuva, aliás, que me perseguiria nos dias seguintes. Nesta
terça-feira, caminhei 33 quilômetros sem tirar a capa. Foi uma etapa difícil,
longa, mas a pior do Caminho Português a Santiago de Compostela ainda estava
por vir...
Não havia
outra alternativa, segundo me indicavam os guias que carregava comigo. Deixei
Barcelos por volta das 7h30, após um café da manhã reforçado e levando comigo
um bocadilho, frutas e água para um piquenique no Caminho. O perfil do terreno
nesta etapa é irregular e logo após a aldeia de Vila Boa há uma subida forte
até Portela, que chega a 180 metros de altitude, baixando abruptamente até Ponte
das Táboas, passando por Vitorino dos Pães e subindo novamente no Alto da
Albergaria, a 175 metros. Depois é uma descida constante até Ponte de Lima, uma
vila do distrito de Viana do Castelo.
Apesar da
insistente chuva, a paisagem inspira o peregrino à reflexão, com ar puríssimo, muito
verde primaveril, propriedades rurais cultivadas e aldeias marcadas pela presença
católica, aparentemente perdidas no tempo e espaço... Somente quando estava
chegando a Ponte de Lima passei por um grupo de peregrinos espanhóis. Efetivamente,
foram os primeiros peregrinos que vi no Caminho desde que iniciei minha jornada
em Oporto no domingo.
Após
caminhar um pouco mais de seis horas, avisto a ponte nova sobre o rio Lima. Sigo
às margens do Lima pelo Caminho dos Plátanos e passo pela Igreja de Nossa
Senhora da Guia, para logo me surpreender com a majestosa ponte de pedra que dá
nome ao povoado. Integrando a famosa via romana XIX do Itinerário de Antonino, que
ligava Bracara, a atual Braga, a Asturica Augusta, hoje Astorga, a ponte foi construída
pelo imperador Augusto. Daquele tempo restam os primeiros cinco arcos da margem
direita, enquanto os demais 24 arcos são do período medieval, século XIV,
durante o reinado de D. Pedro I.
Junto à
ponte, integrando os vestígios da muralha que protegia a antiga vila, está a Torre
da Cadeia Velha, também conhecida como Torre da Porta Nova, e que até os anos 60
do século passado foi usada para encarceramento, passando em seguida ao Arquivo
Histórico e Municipal. Sob a garoa que insistiu em não dar uma trégua atravesso
a lendária ponte e passo pela Igreja de Santo Antônio da Torre Velha para
chegar ao albergue municipal. Depois de aguardar a chegada do gentil
hospitaleiro, e presenciar o “barraco” de uma dupla de brasileiras cariocas,
que tentaram furar a ordem no atendimento, fiquei muito bem instalado. Pela primeira
vez – e seria a última! – usei meu saco de dormir...
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#10yearchallenge
Rua
do Espírito Santo, deixando Barcelos
Presença
católica constante nas aldeias
Calçada
adoquinada, próximo ao Alto da Portela
Ponte
das Táboas: citada em relatos do século XII
Forte
vocação agrícola na região de Albergaria
Ovelhas
observam o peregrino...
Grupo
de peregrinos espanhóis: Buen Camino!
Igreja
de Nossa Senhora da Guia
Entrada
da Torre da Cadeia Velha
Torre
da Cadeia Velha: espaço de encarceramento até os anos 60
Igreja
de Santo Antônio da Torre Velha
Nenhum comentário:
Postar um comentário