domingo, 13 de dezembro de 2020

Despedidas aos franciscanos

Paz e Bem: saudação franciscana no altar-mor do Santuário do Valongo

Lembro do 13 de dezembro, em 2015, ao ser anunciado o Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia de 2016, quando foi aberta a Porta Santa do Santuário Santo Antônio do Valongo, em Santos, numa singela cerimônia presidida por Frei Hipólito Martendal (OFM), que comemorou com a comunidade os 50 anos de seu ordenamento sacerdotal.


Abertura da Porta Santa do Santuário do Valongo

Ao recordar a marcante presença dos franciscanos da OFM em Santos (desde o século XVII) - num trabalho fantástico junto aos pobres da região central da cidade e morros, disseminando o verdadeiro espírito de São Francisco -, a expectativa é grande pela entrega do Santuário (fundado em 25 de janeiro de 1640) à gestão do Instituto Missionário Servos do Senhor, criado em 8 de setembro de 2005, na Bahia, pelo bispo José Edson Santana de Oliveira, atual presidente da Pastoral dos Nômades do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Ao dar despedidas aos irmãos franciscanos e também boas vindas aos iniciados pelo IMSS, o sentimento é de perplexidade pelo desprezo com que está sendo tratada a sociedade católica de Santos e região.


Presença de Francisco em Santos desde 1640: respeito!

Paz e Bem + Buen Camino!

#pedrasdocaminho

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

“Como um rio” revela encontros no Caminho de Santiago

Estarei “ao vivo” no Face nesta segunda 12, a partir das 16h

Após oito livros-reportagem sobre minhas peregrinações pelo Caminho de Santiago, brindo os leitores com minha primeira obra de ficção. Para falar sobre ela, estarei “ao vivo” em minha página no Facebook, em www.facebook.com/CebolaFerraz, nesta segunda-feira 12, a partir das 16 horas.

"Como um rio – Encontros no Caminho de Santiago" traz personagens misteriosos, ora divertidos, às vezes dramáticos, oferecendo curiosas reflexões sobre a tradicional rota de peregrinação cristã.

Criar uma ficção inspirada no Caminho era um sonho antigo, desde minha primeira peregrinação, em 2009. “Como um rio” sintetiza minhas experiências nessas jornadas em busca de autoconhecimento e devoção ao Apóstolo de Jesus.

Admito que desconhecia essa minha veia literária, uma vez que na condição de jornalista sempre me pautei pela verdade e objetividade. Escrever uma ficção exigiu outro exercício mental, mas deveras interessante e desafiador.

O histórico Caminho de Santiago com seus diletantes e por vezes delirantes personagens é capaz de transportar o leitor ao longo dos séculos, desde o período medieval até os dias atuais, envolvendo-o às incertezas geradas pela pandemia.

A obra é uma grata surpresa para quem aprecia uma leitura fluida, repleta de referências, e quer inspirar-se na mística da peregrinação.

A vida do peregrino é como um rio. E assim também é a vida de Manolo, um pescador da Galícia, no noroeste da Espanha, que mergulha num mar de emoções ao peregrinar o Caminho de Santiago. Uma peregrinação carregada de encontros e desencontros, inusitados e inesperados, numa constante fuga das sombras do passado e uma busca que ele próprio hesita em compreender.

É a parábola de uma caminhada que inicia num olho d’água, como uma inspiração, para atravessar veredas inescrutáveis; que deixa à margem o imprestável e carrega apenas o necessário, com a certeza de que ao final alcançará a meta, que pode ser o impreciso mar, assim como a fraternidade do irmão, o amor ao próximo, o perdão dos pecados, enfim, a paz anunciada nas sagradas escrituras.

Sou autor da trilogia "Pedras do Caminho" e de outras cinco obras que relatam minhas peregrinações nos vários itinerários do Caminho de Santiago – como o Francês, Português, Aragonês, Sanabrês, Primitivo e Inglês –, além da rota tangencial, Caminho Lebaniego, e a célebre peregrinação de Francisco, de Assis a Compostela.

O livro no formato e-book está disponível com exclusividade no portal Amazon.

Buen Camino!

 

MEMÓRIA / LIVROS PUBLICADOS

Trilogia “Pedras do Caminho”:

“Meu Encontro no Caminho de Santiago”, sobre o Caminho Francês, peregrinado em 2009, 800 km em 29 etapas (Editora Titan/2013);

“Sentido do Perdão no Caminho de Santiago”, sobre o Caminho Português, 240 km em 10 etapas, feito em 2010 (Titan/2014); e

“Busca sem fim no Caminho de Santiago”, sobre o Caminho Aragonês, 190 km em 7 etapas, realizado em 2012 (Titan/2015).

Série “Descobrindo novos Caminhos”, com 5 títulos:

“Descobrindo novos Caminhos, as pedras do Caminho Sanabrês”, sobre o Caminho Sanabrês, 423 km em 16 etapas, peregrinado em 2013 (Titan/2015);

“Passos do Amor – A Peregrinação de Francisco, de Assis a Santiago de Compostela”, concretizado em 2014 (Titan/2015);

“A Última Peregrinação, Lágrimas no Caminho Primitivo”, sobre o Caminho Primitivo, 312 km em 13 etapas, peregrinado em 2015 (Titan/2016); e

“Juntos no Caminho de Santiago, as pedras do Caminho Inglês”, sobre o Caminho Inglês, 120 km em 7 etapas, peregrinado em 2016 (Titan/2017). O conteúdo de “Juntos no Caminho de Santiago” lhe valeu o segundo lugar, na categoria “Peregrinos”, no II Certame Internacional de Investigação do Caminho Inglês, promovido pelo Conselho de Oroso, na Galícia.

“Lebaniego, Uma rota tangencial do Caminho de Santiago”, sobre o Caminho Lebaniego, 69,4 km em 5 etapas, peregrinado em 2017 (Titan/2018).

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Recuperando...

Caminho: movimento dobrou em relação a julho

Lentamente, o Caminho de Santiago se recupera... Em agosto foram contabilizados pela Oficina de Acolhida ao Peregrino da Catedral de Santiago de Compostela exatos 19.812 peregrinos (10.599 homens e 9.213 mulheres), menos de 1/3 dos 62.814 peregrinos (31.457 mulheres e 31.357 homens) registrados no mesmo mês de 2019.

Em relação ao mês anterior, contudo, o movimento dobrou, pois em julho foram recepcionados 9.752 peregrinos (5.400 homens e 4.352 mulheres) – muito aquém de julho do ano passado, com 53.319 peregrinos (27.541 mulheres e 25.778 homens).

Por outro lado, as últimas notícias de “La Voz de Galícia” informam que... “La Xunta ha extendido las restricciones del aforo de los locales y las reuniones a los municipios de Pontevedra y Ponteceso al tiempo que ha levantado estas limitaciones en gran parte de la comarca de A Coruña y en Santa Comba. Lo hace en un día en el que las cifras de evolución de la epidemia son especialmente malas tanto en la comunidad como en el conjunto de España. En Galicia se han vuelto a superar los 300 positivos diagnosticados en una jornada y son más de 4.300 los casos activos, con otras siete víctimas mortales en 24 horas, cifra que no se registraba desde principios de mayo. Solo en la residencia de O Incio son ya 17 los fallecidos, que se elevan a 671 desde el inicio de la epidemia en la comunidad. En el conjunto del país se han sumado otros 8.866 casos, 4.410 en una sola jornada, 1.728 de ellos en Madrid”.

Buen Camino!

#pedrasdocaminho

sábado, 8 de agosto de 2020

Nunca mais!

Caminho de Santiago: abatido pela pandemia

Por mais doloroso que possa ser, mas se até agora você não peregrinou o Caminho de Santiago, nunca mais saberá o que isto significa ou poderia significar em sua vida. Minha sinceridade poderá incomodar e parecer cruel. Chego a admitir que alguns, talvez muitos, passarão a me odiar por manifestar esta opinião. “Poderia ter permanecido calado”. Sim, poderia. E continuar me sufocando e fazendo planos de como haverá de ser o meu retorno.

A verdade é uma só: a pandemia, efetivamente, acabou com o Caminho de Santiago. Pelo menos do jeito que se tornou conhecido ao longo de 12 séculos.

Este é o meu sentimento após tormentosas reflexões nos últimos meses, nas últimas semanas, nos últimos dias – quando ainda é incerta uma vacina eficiente contra o novo coronavírus. Aliás, mesmo que ela venha, o que pode acontecer em setembro, outubro, ou nas eleições dos Estados Unidos, o fato é que, mesmo com uma, ou mais vacinas, independentemente de sua eficácia, muito pouco, ou quase nada se sabe sobre como é e qual será o comportamento do vírus.

2021 é Ano Jubilar. Lamentavelmente, o Caminho de Santiago vive uma tragédia. Claro que este planeta é outro e ainda é cedo para estabelecer parâmetros do “novo normal” – apenas um eufemismo para uma situação que jamais poderá ser considerada normal. Mas não me importa falar sobre as relações humanas no trabalho, no transporte, nas cidades, no dia a dia. Estou farto do noticiário.

O que me importa é o Caminho de Santiago, sobre o qual reflito e sonho (sem exagero) a cada instante. Seja de noite, e mesmo de dia, me vejo percorrendo o solo sagrado do Caminho Francês, do Português, do Aragonês, do Sanabrês, do Primitivo, do Inglês, do Lebaniego, atravessando bosques, campos de trigo, pisando nas pedras de antigas vias romanas. E após cinco, seis, sete horas de peregrinação, depois de ouvir o som do Caminho e me surpreender em encontros, desencontros e combates comigo mesmo, chegar ao albergue para ser acolhido pelo hospitaleiro, rever peregrinos, trocar experiências.

Da forma semelhante, reflito e ajo a cada instante (sem exagero) diante da pandemia, sobre os cuidados para me prevenir da contaminação do inimigo invisível. Usar máscara, manter as mãos limpas e afastadas da boca, nariz, olhos. Afinal, o vírus pode estar circulando ou estacionado em qualquer lugar e a qualquer hora. Seja no elevador do edifício, na maçaneta de alguma porta, no carrinho do supermercado, na cabine do avião, nos ambientes sob refrigeração, ou flutuando no ar que se respira nas ruas e avenidas. É interminável a lista de possibilidades.

Tenho medo do Caminho de Santiago.

Tenho medo de sair de casa.

Ouço e leio relatos sobre pessoas que foram contaminadas e tenho medo de contrair a Covid-19, ser internado às pressas com dificuldade para respirar, ser rebaixado, entubado a um respirador artificial, se houver, e passar dias, semanas, vegetando num ambiente gelado de UTI. E por algum motivo, depois do abandono total, não voltar mais para casa, para o lado de minha esposa Sandra e de meu cão Billy. E ter, enfim, a certeza de que nunca mais hei de voltar ao Caminho de Santiago; pois estarei morto e mortos não caminham.

Alegro-me, contudo, ao constatar que faço parte de uma geração que teve o privilégio de peregrinar os últimos dias do Caminho de Santiago. Sim, os últimos em que era possível viver intensamente as virtudes que permeiam a tradicional rota de peregrinação, como o amor, a amizade, a fraternidade, a solidariedade. A vontade incontida de retribuir com abraço o peregrino que te estende a mão. O beijo involuntário no hospitaleiro que te acolhe e, a pretexto de te curar as bolhas dos pés, ouve tuas aflições e te aquieta. O toque dos lábios na mão do religioso que te abençoa ou na imagem do santo ou na cruz que te conforta. O cumprimento respeitoso no morador do pueblo, que te oferece uma fruta, um copo d’água, ou apenas lhe deseja Buen Camino!

Dormi em muitos albergues, públicos e particulares, pensões, hotéis, e sei do potencial de contaminação que esses locais são capazes de proporcionar. Alguns oferecem quartos insalubres, mal ventilados, apertados, beliches amontoados, com roupas de cama nunca trocadas, e com apenas um ou dois banheiros para atender 16, 20 pessoas – quando não 50, 100. Em cada espaço é notória a falta de higiene. Muitas vezes sem hospitaleiro, fica a critério do bom senso do peregrino ao lado a manutenção da limpeza. E tudo, absolutamente tudo, acaba sendo deixado para lá; relegado a segundo ou terceiro plano, sob a alegação de que se está em peregrinação, e que se caminha sob a proteção do Apóstolo Santiago, o preferido de Jesus.

Rezemos!

Passada talvez a primeira onda da pandemia, logo após a Espanha vencer o pico das 700 mortes diárias – quando já se anunciava a retomada de atividades – era possível constatar o desespero de donos de albergues do Caminho. O sintoma da insensatez era evidente depois de mais de 100 dias sem trabalho. O convite ao peregrino revelava a disponibilização de um protocolo reduzido de segurança, aparentemente definido pelo proprietário do albergue sem qualquer controle das autoridades sanitárias. Algo como álcool em gel para as mãos; um local para colocar as botas; nenhuma referência sobre máscara; redução no número de beliches, em vez de 10, apenas oito; e muita vontade em receber o peregrino.

Tudo errado.

O apelo agoniado era para o pagamento antecipado de uma eventual estadia.

Evidente que não era possível levar a sério a pretensão de se voltar às atividades sem a definição de um modelo sanitário adequado ao Caminho de Santiago. Afinal, o faturamento sempre aconteceu na bagunça, com a casa cheia.

Paralelamente, a curva da pandemia subia de forma preocupante em vários países, como Estados Unidos e Brasil. Enquanto os americanos sofriam com 2.000 mortes diárias, o Brasil contabilizava 1.000 mortos por dia – números que aqui se mantiveram até o final de julho, quando a pandemia estacionou num elevado índice e fez com que o brasileiro passasse a ser classificado como persona non grata, em vários países, incluindo, desgraçadamente, Espanha e Portugal.

Passou a ser uma contradição continuar convidando o peregrino brasileiro. As próprias companhias áreas, operando com voos reduzidos e pressionadas pela comunidade internacional, começaram a fazer exigências severas para desmotivar uma viagem com a singela finalidade de peregrinar o Caminho de Santiago. Afinal, não se trata de uma viagem “essencial”.

Obrigado. Aviões e aeroportos estão no topo da lista entre os locais com maior risco de contaminação pelo novo coronavírus.

Cada vez mais desmascarado, o debate revelou o cinismo do interesse mercantil, na insana tentativa de sobrepujar o espírito do Caminho de Santiago, quando um esperto da Galícia fez com que a imprensa divulgasse a pretensão do Cabildo do Catedral de Santiago de Compostela de pleitear ao Papa Francisco a extensão do Ano Jubilar de 2021, o Xacobeo2021 – quando, historicamente, a busca por indulgência plenária tende a aumentar a afluência de peregrinos a Compostela. Ou seja, para que Francisco declare Santo, de forma extraordinária, o ano de 2022, embora o Dia de Santiago, 25 de julho, não venha a cair em domingo, mas numa segunda-feira. Seria uma compensação pelo anunciado fracasso financeiro.

Absurdo!

Naturalmente, um ou dois dias depois, instado a confirmar a ambição, o porta-voz do Cabildo tratou de negá-la. Mas, pelo sim, pelo não, a ideia já estava lançada; do tipo, “se colar, colou”. Por ora, não colou. E a Santa Sé está muda.

Visionário, ou buscando me manter coerente com minhas convicções religiosas, olho o Caminho de Santiago como dádiva de Deus, a oportunidade de experimentar a peregrinação ao túmulo do Apóstolo e tornar-se melhor. A ocasião para qualquer um ter a felicidade de encontrar respostas para dúvidas e necessidades espirituais.

Não vejo o Caminho de Santiago como um negócio.

Não, absolutamente, não.

O detrator será ordinário: “Sim, mas você escreve livros sobre o Caminho e ganha dinheiro” – como li num post em rede social, assinado por alguém que tentou se aproveitar da farsa de um tal “Caminho de Santiago brasileiro”.

Reitero o que já registrei neste blog, que não existe e nunca existirá Caminho de Santiago no Brasil, a famosa rota medieval de peregrinação cristã, Patrimônio Cultural de Humanidade.

Escrevi, sim (e continuarei a escrever, pois assim sou...), oito livros sobre o Caminho de Santiago. Sobre sete peregrinações que fiz, uma delas ao lado de minha esposa; e, de forma especial, sobre a peregrinação de São Francisco, desde Assis. E mais: parte da renda da venda desses livros destinei a instituição santista que cuida de crianças portadoras de paralisia cerebral, assim como a santuário franciscano e a igreja anglicana que me ajudaram na divulgação das obras.

Foi assim, com alegria e sem nenhuma pretensão de enriquecer, que compartilhei as experiências conquistadas no Caminho de Santiago e reparti os frutos gerados por elas.

Quero voltar ao Caminho de Santiago, e como quero voltar ao Caminho de Santiago. Sei que não encontrarei mais o Caminho de Santiago que conheci, pois, em harmonia com o que disse no início, este Caminho de Santiago não existe mais. Mas não sei quanto tempo, anos, décadas, durará o impacto da pandemia sobre o verdadeiro espírito do Caminho.

Por ora, como Elias (1 Reis 19, 9-11, 13), espero uma brisa tênue...

Buen Camino!

#pedrasdocaminho

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Não é um Buen Camino!


Uso indevido do nome Caminho de Santiago numa trilha qualquer...

No Brasil dos absurdos, há quem insista em pensar que na pandemia vale tudo!
Pois, no momento em que nos aproximamos da triste marca das 80 mil mortes pela Covid-19 – o que é comparável a um atentado omissivo contra a Humanidade, no quesito Direitos Humanos –, pessoas sem noção pretendem fazer festa, no Sul do país, para cometer tipo semelhante de atentado contra a Humanidade.
No caso, a agressão é contra o Caminho de Santiago, a tradicional rota medieval de peregrinação cristã existente na Europa, e que leva às relíquias do Apóstolo de Jesus, Tiago Maior. Trata-se de um itinerário reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Lamentável que a farsa está sendo anunciada e haverá de ser perpetrada – se não surgir alguém de bom senso que impeça a pantomima! – no próximo dia 25 de julho, quando é festejado o Dia de Santiago. Dia Santo na Espanha, que tem o Apóstolo como seu Patrono.
O uso indevido da denominação e das marcas do Caminho de Santiago numa trilha qualquer em Florianópolis, capital de Santa Catarina, já foi repudiado por este blog (veja o post de 28 de junho de 2017, em http://pedrasdocaminhodesantiago.blogspot.com/2017/06/farsa-em-santa-catarina.html) e mereceu a censura na época do então diretor gerente da S.A. de Xéstion do Plan Xacobeo, Rafael Sánchez Bargiela, que declarou-se indignado: “Não estamos de acordo com isso. O Caminho de Santiago é um caminho histórico, portanto, um caminho que busca recuperar as rotas que os peregrinos fizeram na Idade Média. E na Idade Média não havia peregrinos jacobeos no Brasil”.
Parem com isso!
Inventem outro nome!
Trilha do Manezinho, Trilha Preparatória...
Jamais Caminho de Santiago!
Este não é um Buen Camino!
#pedrasdocaminho

quarta-feira, 1 de julho de 2020

A saga completa em e-book!

Oito títulos sobre o Caminho de Santiago: exclusividade no portal www.amazon.com.br

No mês em que se comemora o Dia de Santiago, 25 de julho, os oito livros de minha autoria sobre o Caminho de Santiago já estão disponíveis na versão e-book com exclusividade no portal www.amazon.com.brA trilogia Pedra dos Caminho aborda as peregrinações realizadas pelos Caminhos Francês, Português e Aragonês, enquanto a série Descobrindo Novos Caminho foca as peregrinações pelos Caminhos Sanabrês, Primitivo e Inglês, incluindo ainda o resgate da peregrinação de Francisco realizada no século XII e a peregrinação pelo Caminho Lebaniego, uma rota tangencial do Caminho de Santiago.
Como diferencial das edições impressas, o formato e-book possibilitou a publicação das fotos originais coloridas, proporcionando mais dramaticidade aos relatos da peregrinação. No total são cerca de 1.000 imagens dos diferentes Caminhos de Santiago. É um presente para quem já tem a versão impressa e uma grande oportunidade de se surpreender para quem ainda não conhece a mística do Caminho de Santiago. Aos que me acompanham, revelo que já escrevo meu primeiro romance. Claro, ambientado, no sagrado Caminho de Santiago!
Buen Camino!


TRILOGIA PEDRAS DO CAMINHO

Livro 1 – Pedras do Caminho, Meu Encontro no Caminho de Santiago de Compostela

No primeiro livro, relato minha peregrinação a pé pelos cerca de 800 quilômetros do Caminho Francês, de Saint Jean Pied de Port, na França, até Compostela, na Espanha, revelando o Caminho de Santiago como um desafio possível a qualquer pessoa. Como eu, como você, como milhões de peregrinos que já trilharam o Caminho, seja por aventura, turismo, ou devoção ao Apóstolo. Como jornalista, utilizo a técnica de reportagem, por meio de observações, opiniões e entrevistas com personagens do Caminho: peregrinos, hospitaleiros, religiosos, os moradores dos inúmeros pueblos que nasceram e se mantém em função da peregrinação a Compostela. O livro pode servir de ajuda a todos que duvidam de sua força interior, pessoas de qualquer idade, classe social, religião.

Livro 2 – Sentido do Perdão no Caminho de Santiago de Compostela

No Ano Santo Compostelano de 2010, voltei ao Caminho de Santiago para peregrinar o Caminho Português, um itinerário de 240 quilômetros, desde o Porto, que foram percorridos em 10 dias. A grande diferença em relação à peregrinação feita no ano anterior, pelo Caminho Francês, é o fato de que o peregrino que realiza o Caminho em Ano Jacobeo, quando o Dia de Santiago – 25 de julho – cai num domingo, recebe indulgência plenária, como a doutrina católica denomina o perdão dos pecados.

Livro 3 – Busca sem Fim no Caminho de Santiago de Compostela

Em busca de autoconhecimento pelo místico Caminho de Santiago – que é a parábola da luta diária em busca da felicidade, ora tirando dúvidas, ora gerando questionamentos, enfim, proporcionando uma nova visão de mundo –, peregrinei o Caminho Aragonês, de Somport a Puente la Reina. No terceiro livro da trilogia Pedras do Caminho, consolida-se três momentos mágicos em minha vida: o livro de estreia, Pedras do Caminho, que revelou meu encontro comigo; o segundo, Sentido do Perdão, que ensinou a misericórdia do perdão, não só pelo que não faço, mas especialmente por aquilo de bom que deixo de realizar; e neste, Busca sem fim, que me projetou um sentimento de busca sem limites.

SÉRIE DESCOBRINDO NOVOS CAMINHOS

Livro 1 – Descobrindo Novos Caminhos, As Pedras do Caminho Sanabrês a Santiago de Compostela

Após a trilogia “Pedras do Caminho” peregrinei o Caminho Sanabrês a Santiago de Compostela. Nesta jornada, iniciei na Vía de La Plata, a partir de Zamora, um dos mansios da formidável rede de vias romanas que funcionou na Península Ibérica e está descrita no famoso Itinerário Antonino. Foram 16 dias de peregrinação, cerca de 423 quilômetros, por paisagens surpreendentes até alcançar Compostela, onde mais uma vez me surpreendi com a mística do Caminho ao me reencontrar comigo mesmo, na minha incessante busca por conhecimento, autoconhecimento, paz interior, momentos de reflexão sobre a existência, sobre o que fiz, o que faço e o que ainda pretende fazer nesta curta, porém, rica, bela, agradável... experiência de vida.

Livro 2 – Passos do Amor, A Peregrinação de Francisco, de Assis a Santiago de Compostela

Em “Passos do Amor” resgato a peregrinação feita por São Francisco no século XIII, entre 1213 e 1215, de Assis, na Itália, a Santiago de Compostela, na Espanha, logo após ter recebido autorização do Papa Inocêncio III para continuar seu trabalho evangelizador junto aos pobres, que deu origem à Ordem dos Frades Menores (OFM). A célebre peregrinação compreendeu cerca de 2.500 quilômetros e está revelada no Capítulo 4 dos “Fioretti”, os famosos relatos medievais sobre os feitos de Francisco e de seus companheiros... Para compor a obra, recriei o itinerário de Francisco e, em junho de 2014, comemorando o oitavo centenário da peregrinação, acompanhado de minha esposa, a também jornalista Sandra Luzia Netto, percorremos de trem, ônibus e carro o trajeto de Assis a Compostela, para pesquisar, fotografar e resgatar a tradição entre moradores e religiosos nas cidades por onde Francisco passou.

Livro 3 – A Última Peregrinação, Lágrimas no Caminho Primitivo a Santiago de Compostela

“A Última Peregrinação” revela a peregrinação pelo Caminho Primitivo. O Primitivo é o primeiro Caminho de Santiago, por meio do qual foi iniciado o fenômeno das peregrinações às relíquias do Apóstolo de Jesus Cristo, Tiago Maior. “Quien va a Compostela y no visita al Salvador, honra al criado y se olvida del Señor”, ensina o provérbio medieval, ao convidar os peregrinos a dirigirem-se a Oviedo, onde está localizada a Catedral de San Salvador, que guarda relíquias valiosíssimas, entre as quais o Santo Sudário. Oviedo, atual capital do Principado das Astúrias e no século IX sede do reino que se estendia por todo Norte da Península Ibérica, é o ponto de partida do Caminho Primitivo, que possui 320 quilômetros e atravessa a belíssima região da Cordilheira Cantábrica e bosques encantados da Galícia.

Livro 4 – Juntos no Caminho, As Pedras do Caminho Inglês

Em “Juntos no Caminho de Santiago” relato a peregrinação pelo Caminho Inglês em companhia de minha esposa, a também jornalista Sandra Luzia Netto. Diferente da totalidade de peregrinos que iniciam o Caminho Inglês em Ferrol ou A Coruña, na Espanha, colocamos o primeiro selo em nossa credencial de peregrino numa igreja dedicada a Saint James, em Londres. Depois fomos de trem a Paris, na França, de onde seguimos de ônibus pela Via Turonensis, passando por Tours e Bordeaux. Em seguida, alcançamos Santander, na Espanha, até chegarmos a Ferrol – de onde iniciamos a peregrinação a pé pelos 120 quilômetros do Caminho Inglês. Ao revelar esta saga em texto inédito, fui premiado no II Certame Internacional de Investigação do Caminho Inglês, promovido pelo Conselho de Oroso, na Galícia. O livro estimula o leitor a vencer desafios, estejam onde estiverem, e demonstra na prática que para trilhar um Caminho, tenha ele 1 ou 800 quilômetros, é preciso apenas dar o primeiro passo.
Leia artigo do jornalista Cristóbal Ramírez, no site La Voz de Galícia, em www.lavozdegalicia.es/noticia/santiago/santiago/2017/06/21/span-langglluiz-carlos-ferrazspan/0003_201706S21C12991.htm
Leia também a resenha feita por Cristóbal no site Periódico del Camino em www.periodicodelcamino.com/se-publica-en-brasil-un-magnifico-diario-de-peregrinos-centrado-en-el-camino-ingles/

Livro 5 – Lebaniego, Uma Rota Tangencial do Caminho de Santiago

Como não acontece em qualquer outro lugar do planeta, duas importantes rotas de peregrinação cristã se enlaçam na Cantábria, Espanha, combinando os mistérios do Caminho de Santiago e do Caminho Lebaniego. Em junho de 2017 – durante o Ano Jubilar Lebaniego –, fui buscar esse conhecimento e experimentar a energia da convergência dos Caminhos, que sintetizam a dualidade característica do Universo. Com o aprendizado de mais uma peregrinação pelo mundo jacobeo, apresento neste livro um pouco da história, tradição e lenda do Caminho Lebaniego, uma rota tangencial do místico Caminho de Santiago, e que leva ao Monastério de Santo Toríbio de Liébana, onde é guardada uma relíquia estupenda, a “lignum crucis”, o maior pedaço da cruz de Jesus Cristo!
Buen Camino!
#pedrasdocaminho

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Sentido do pecado...


Porta Santa da Catedral de Santiago: perdão e pecado

Ao se perseguir a melhor compreensão do sentido do perdão no Caminho de Santiago – após concluir a peregrinação pelo Caminho Português no Ano Santo de 2010, quando ao peregrino é concedida indulgência plenária (veja os posts anteriores) –, é importante entender a natureza daquilo que o exige, ou, a contrario sensu, o redime e o anula, qual seja, o pecado – do ponto de vista como se apresentam as coisas naturais, na dualidade do Universo, no Uno e no Verso, no branco e no preto, no belo e no feio, no gordo e no magro, no homem e na mulher, no doce e no salgado, enfim, no Yin e no Yang, no Princípio Único da Vida. Há de se considerar, especialmente, que esta dicotomia há de ser sempre relativa, jamais absoluta, na busca de equilíbrio fundamental para a nossa existência.
Se há perdão é porque houve pecado – no caso, erro, vício, imperfeição, transgressão a dogmas, regras pré-estabelecidas. Os pecados capitais, por exemplo, seguem uma ordem. E talvez não seja por acaso que nesse ranking a gula está em primeiro e a preguiça em sexto...
1º - Gula.
2º - Avareza.
3º - Luxúria.
4º - Ira.
5º - Inveja.
6º - Preguiça.
7º - Vaidade ou orgulho.
Assim, cometeria pecado maior quem come muito, se comparado ao que é preguiçoso, ou mesmo ao invejoso.
Os 10 mandamentos compõem outra lista de ações que, ao praticá-las, também estar-se-á cometendo pecado – e que, da mesma forma que no outro rol, exigirá penitência para se obter o perdão. Não deve ser por acaso que os três primeiros tratam da religiosidade de cada um:
1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não usar o santo nome de Deus em vão.
3º - Lembrar o dia de domingo para santificar.
4º - Honrar pai e mãe.
5º - Não matar.
6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º - Não roubar.
8º - Não levantar falso testemunho.
9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º - Não cobiçar as coisas do próximo.
Por tais mandamentos é possível admitir que matar é menos grave que se lembrar de santificar o domingo (aliás, o dia em que escrevo este texto...). Assim, se é possível graduar o pecado – da mesma forma como é possível graduar todos os objetos e ações, sejam as más, sejam as generosas –, também seria possível graduar o perdão. Ou não há de se admitir graduações? Não, isso talvez não faça sentido! Então, apenas para refletir, é possível, sim, graduar as ações pecaminosas. Uma relatividade que faz parte do princípio fundamental...
Isto é, aceitando essa relatividade, não se concederá perdão maior do que o tamanho do pecado. E também não se exigirá do pecador mais do que o suficiente para reparar a gravidade de seu ato. O perdão, pois, há de ser proporcional.
Muito menos se aplicará um pequeno perdão para um grande pecado. Se foi tão grande assim, a penitência para obtenção do perdão haverá de ser também gigante!!! O raciocínio terá como parâmetro a lógica, que estabelece uma pena proporcional ao crime, como ensinaram filósofos famosos, como o francês Michel Foucaut, e está estampado nos códigos penais, inclusive o brasileiro.
A pena para quem mata é maior que aquela para quem furta! Enfim, para qual ou quais tipos de pecado haverá de servir o tamanho do perdão concedido por se ter feito a peregrinação a Santiago de Compostela em Ano Santo Compostelano? Eis que a peregrinação nos demais anos, quando o dia consagrado ao Apóstolo Santiago – 25 de julho – não cai em domingo, não tem o condão da indulgência plenária...
A peregrinação a Santiago, por si só, é um movimento de dor, de reflexão e de sofrimento, ou ainda para muitos, de prazer e satisfação, dotado de começo, meio e fim – o fim junto às relíquias do Apóstolo, guardadas na cripta da Catedral de Santiago de Compostela, e a obtenção da Compostela (só entregue a quem peregrinou a pé ou a cavalo os últimos 100 quilômetros até Santiago, ou de bicicleta, os últimos 200 quilômetros).
O perdão será concedido ao peregrino no Ano Santo Compostelano por quem representa a autoridade divina e é responsável em conceder tal graça. Ao proporcionar o perdão, por outro lado, estar-se-á estabelecendo uma espécie de contrato – entre o perdoante e o perdoado –, de que o erro foi anulado (ainda que aparentemente ele não tenha sido reparado), não existe mais, sendo que o perdoado se livrou dele também com o compromisso de não repetí-lo.
Mas, o que aconteceria no caso de uma reincidência: o perdão anterior somar-se-ia ao novo, tornando sem efeito o primeiro perdão? Seria necessário, por exemplo, outra peregrinação a Santiago de Compostela no Ano Santo seguinte?
É o caso, no dito popular, de se estabelecer um preço ao perdão... o que me faz lembrar do poeta Vinícius de Moraes em seu “Samba da Volta”, no qual frisa que “o perdão pediu seu preço”.
Para quem não lembra:
“Você voltou, meu amor. Alegria que me deu.
Quando a porta abriu, você me olhou, você sorriu, ah, você se derreteu!
E se atirou, me envolveu, me brincou, conferiu o que era seu.
É verdade, eu reconheço, eu tantas fiz, mas agora tanto faz!
O perdão pediu seu preço; meu amor, eu te amo e Deus é mais”.
Afinal, a prática cristã ensina que o pecado cometido por qualquer pessoa pode ser perdoado por Deus, por conta do sacrifício feito por Jesus em sua morte.
Porém, como está na Bíblia, é possível admitir o pecado imperdoável, ou pecado eterno, aquele que impede a salvação do pecador. Um exemplo de pecado imperdoável é “blasfemar contra o Espírito Santo”.
Está em Marcos 3:28-30: “Em verdade vos digo: Que aos homens serão perdoados todos os pecados, e as blasfêmias que proferirem; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão, pelo contrário é réu de um pecado eterno.»
Em Mateus 12:31-32: “Por isso vos declaro: Todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não lhes será perdoada. Ao que disser alguma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; porém, ao que falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.”
Em Lucas 12:8-10: “Digo-vos ainda: Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará perante os anjos de Deus; mas o que me negar diante dos homens, será negado perante os anjos de Deus. Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas o que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.”
São Tomás de Aquino, que prestou relevante contribuição à filosofia do Cristianismo, listou seis tipos de blasfêmias ao Espírito Santo, que seriam capazes de caracterizar o pecado eterno; admitindo, porém, o perdão por meio do milagre. Ah, o milagre...
1º - Acreditar que a própria maldade humana é maior do que a bondade divina.
2º - Desejar obter a glória da salvação sem ter méritos (ainda que haja arrependimento no leito de morte), ou perdão sem arrependimento.
3º - Resistir em conhecer a verdade.
4º - Invejar o bem espiritual alcançado pelo próximo.
5º - Vontade específica de não se arrepender de um pecado.
6º - Preso ao seu pecado, estar imune à ideia de que o bem existe dentro de si.
A questão é acreditar ou acreditar.
Aliás, quando é mesmo o próximo ano em que 25 de julho cai num domingo?
Em 2021.
Buen Camino!
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terça-feira, 16 de junho de 2020

Sentido do perdão no Caminho de Santiago


Peregrino agradece junto à imagem do Apóstolo na Catedral

Perder o horário da missa dos peregrinos ontem, às 12 horas, ao final da peregrinação pelo Caminho Português, revelou-se nesta data (há 10 anos!) um estupendo presente, pois pude participar de uma missa muito especial, celebrada pelo arcebispo de Santiago de Compostela, d. Júlian Barrio Barrio, e concelebrada pelo cardeal Juan Sandoval Íñiguez, então arcebispo de Guadalajara, no México, e o alto clero da Galícia. É assim que as coisas acontecem no sagrado Caminho de Santiago...
O ensinamento proporcionado na homilia de d. Barrio foi exemplar para meu entendimento sobre o Xacobeo2010, o Ano Santo Compostelano, e associar o mistério do perdão à mística do Caminho de Santiago. Naquele momento foi selado o segundo momento da saga Pedras do Caminho, iniciada no ano anterior com o encontro comigo mesmo ao peregrinar o Caminho Francês. Uma saga que me traria de volta ao Caminho em 2012, para peregrinar o Caminho Aragonês; em 2013, para o Sanabrês; em 2014, para a travessia de Assis a Compostela visando recriar a peregrinação de Francisco, há 800 anos; em 2015, para o Caminho Primitivo; em 2016, para o Inglês; e em 2017, para ser iluminado com o encontro da “lignum crucis”, o maior pedaço da cruz de Jesus Cristo, ao peregrinar o Caminho Lebaniego, uma rota tangencial do Caminho de Santiago...
Estou em Santiago de Compostela. A cidade está erguida onde foram descobertas as relíquias do Apóstolo Tiago Maior e de dois discípulos, Teodoro e Atanásio, após o eremita Pelayo ter sido alertado por luzes no céu e avisado o bispo de Iria Flavia, Teodomiro, que comprovou o achado. A palavra Compostela pode derivar de Campus Stellae, “campo de estrelas”, ou Composita Tella, “terras bem ajeitadas”, eufemismo de cemitério, pois ali existiu um cemitério pagão, numa antiga cidade celta, quem sabe no ano 44... Neste exato local foi sepultado o corpo do Apóstolo de Jesus... Desde a descoberta, no primeiro terço do século IX, o local tornou-se meta de peregrinação cristã.

Missa dos peregrinos na Catedral de Santiago de Santiago

Enfermos buscam paz e perdão na Catedral

Após a missa, tirabuleiros preparam o incensário gigante...

Momento esperado, o espetáculo do botafumeiro!

Final da missa dos peregrinos, Plaza do Obradoiro

Órgão da Catedral de Santiago de Compostela

Altar-mor da Catedral de Santiago

Cripta sob o altar-mor da Catedral guarda as relíquias do Apóstolo

Coluna central do Pórtico da Glória destaca a figura de Santiago

Postado em 16.06.10, 17h06 >>>>
Perdão pelo que não faço

Juan Sandoval Íñiguez e Júlian Barrio Barrio ao final da missa dos peregrinos

Não há dúvida que o peregrino, o que vai a pé, bicicleta ou cavalo... e o “peregrino”, o que vai, que chega todo dia aos milhares a Santiago de Compostela, neste Ano Santo Compostelano busca indulgência plenária, o perdão aos pecados, conforme bula do papa Calixto II, em 1119, que garantiu a graça ao peregrino que cumprir a jornada em ano jubilar, como é 2010, quando o Dia de Santiago, 25 de julho, cai num domingo (*). A iniciativa funcionou como grande alavanca às peregrinações, tanto que em 1179 o papa Alexandre III tornou perpétuo o Jubileu Compostelano e dois séculos depois, em 1332, o papa João XXII editou bula concedendo perdão aos pecados também às pessoas que ajudassem os peregrinos a Santiago.
Nem adianta o peregrino dizer que não se trata disso, que não veio atrás de indulgência plenária, pois no fundo, no fundo, esta é a motivação principal dessa agitação no Caminho, ainda que inconsciente – além do turismo, aventura, desafio, gastar dinheiro, comer bem... A cúpula religiosa sabe bem disso, tanto que traçou uma espetacular estratégia de marketing para atrair e recepcionar número recorde de peregrinos em Santiago de Compostela neste Ano Santo, o Xacobeo2010.
Se ontem perdi a missa dos peregrinos, hoje tive sorte grande, pois a cerimônia foi celebrada especialmente pelo arcebispo de Santiago de Compostela, d. Julián Barrio Barrio. Concelebrando, d. Julián contou com a atuação do alto clero da Galícia, pois Santiago é a capital da Província, e a presença especialíssima do cardeal Juan Sandoval Íñiguez, arcebispo de Guadalajara, México – que saudou os peregrinos e, entre os comentários, contou que veio a princípio para Roma e aproveitou para dar uma esticadinha a Santiago. Afinal, é Ano Santo...
Para encerrar, claro, o grande espetáculo do botafumeiro!
O anfitrião conduziu a missa de forma polida – o respeito ao peregrino está na alma do povo da Península, especialmente dos religiosos... –, mas, sem meias palavras, não deixou de colocar em primeiro plano a questão da indulgência plenária. E aproveitou para pautar algumas das exigências – o que, aliás, já havia comentando no post de ontem –, para garantir o perdão aos pecados. Ele enfatizou duas (há mais, naturalmente, que compõem o ritual): confissão e comunhão.
No meu caso, comungar já faz algum tempo que busco praticar, embora, verdade seja dita, tenha ficado indignado e até dado um tempo quando soube que um pároco da Capital de São Paulo fazia restrições para dar comunhão a casais que não haviam se consagrado no matrimônio religioso. Ainda que no referido caso, e este não é o meu caso, o homem fosse solteiro e a mulher viúva.
Atitude isolada ou não, já que ao pesquisar fiquei sabendo que isso não era praticado em outras paróquias (“mas é bom dar uma palavrinha com o padre...”, alguém me orientou), fiquei desestimulado em comungar com mais frequência, considerando que no meu caso sou divorciado e vivo em união estável desde 1984 com minha Sandra, que é solteira. Ou seja, sou casado! Confessar, então, nem me lembrava mais da última vez. Com certeza que já havia me confessado. Fiz Primeira Comunhão, acho que tinha uns 6 ou 7 anos; era e é obrigatório às famílias cristãs. E, quem sabe, confessei em alguma ocasião num dos dois anos em que estudei no extinto Colégio Santista, dos Irmãos Maristas.
Nesse contexto, a abordagem do arcebispo Julián Barrio Barrio foi de mestre e deixou à vontade inúmeras pessoas que, como eu, consideram que não devem se confessar pela simples constatação que não praticam, ou praticariam, o que se convencionou chamar de pecado, sejam os capitais, sejam os mais leves – se é possível estabelecer alguma graduação para esse tipo de conduta.
Ledo engano!
E foi nesse ponto que, lembrando do meu falecido avô materno Antonio Carneiro de Arruda, nos tempos de professor lá em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, dei minha mão à palmatória, à eventual prática, contumaz ou não, de pecar.
Pois, sim, articulou o arcebispo, há muitas pessoas com a convicção de que não praticam pecado, eis que bom filho, pai, marido, amigo; que não molestam e nada de ruim fazem a quem quer que seja. Mas, questionou, será que estão fazendo tudo de bom que poderiam e que são capazes?
Eis a questão!
(*) Após 2010, os próximos anos jubilares são 2021, 2027, 2032, 2038, 2049, 2055, 2060, 2066, 2077, 2083, 2088, 2094…
Buen Camino!
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Peregrino comemora a conquista da Compostela: peixe e vinho

Fila para ingresso na Catedral pela Porta Santa, fachada da Quintana

Confessar e comungar para obter indulgência plenária

Catedral de Compostela: Santiago a todos acolhe!

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Enfim, Compostela!


Peregrino diante da Catedral de Santiago de Compostela

Perdão

“A melhor maneira de estar com o seu Espírito é perdoar. Perdoe, pois assim seus pensamentos irão embora... Quanto menos você pensar, mais rápido avançará em sua realização”.
Conselho de Shri Mataji Nirmala Devi, fundadora da Sahaja Yoga.

Enfim, Compostela!

Há 10 anos, nesta data... Os 23,6 quilômetros finais do Caminho Português a Santiago de Compostela foram de alegria, pela conquista, e tristeza, pelo fim da peregrinação de 240 quilômetros durante 10 dias. Embora pudesse ser levado a comparar com os 29 dias, em 2009, quando peregrinei os 800 quilômetros do Caminho Francês, fortalecia em mim a convicção de que cada Caminho é um Caminho, com identidade e aspectos absolutamente distintos, cada um capaz de proporcionar reflexões únicas visando tornar uma pessoa melhor...
Ao deixar Padrón na manhã de terça-feira parecia sentir o peso da peregrinação em Ano Santo, o Xacobeo2010, atravessando as ruas decoradas com banners alusivos ao mito jacobeo. Em um quilômetro cheguei a ponto emblemático desse mistério, a paróquia de Iria Flávia, parte da cidade de Padrón, inicialmente ocupada pelos celtas e depois pelos romanos, e que foi sede episcopal da região quando se descobriu o sepulcro do Apóstolo Tiago Maior... Sua joia é a monumental Colegiata, do século XII, reformada ao longo dos anos até chegar a sua aparência atual, a primeira catedral da Galícia.
O Caminho segue atravessando pequenos pueblos, Pazos, Cambelas, Rueiro, Anteportas, alguns trechos com as famosas corredoiras galegas, antigas vias que ligam as aldeias, estreitas, decoradas com pedras cobertas de limo, até alcançar o Santuário da Escravidão, dedicado a Maria; um magnífico edifício de estilo barroco, com torres gêmeas de 32,5 metros, cuja construção foi concluída em 1886. A tradição diz que a água de sua fonte é milagrosa...
Após uma curta descida até Angueira de Suso parei para descansar e comer o bocadilho de jamón e queijo que trazia comigo. O Caminho volta a subir e passa pelos pueblos Areal, Faramello, Rúa de Francos, onde está a ermita de San Martiño e um interessante cruzeiro gótico, considerado um dos mais antigos da Galícia. O Caminho percorre pueblos que parecem esquecidos, Ameneiro, Galanas, e continua subindo para desembocar em Milladoiro, onde parei para tomar um café. Mais alguns passos e do alto do Monte Argo dos Monteiros, a 250 metros de altitude, considerado o Monte do Gozo do Caminho Português, é possível ver as torres da Catedral de Santiago de Compostela.
O Caminho agora desce ao vale do rio Sar, passando por Rocha Velha, para subir lentamente até retornar aos 250 metros de altitude, onde está Compostela. Estou convencido que não adianta acelerar o passo para chegar a tempo de participar da Missa dos Peregrinos. Então, pelo contrário, caminhei com vagar, desfrutando, e assistindo ao filme que minha mente elabora sobre os últimos dias de minha vida, desde o embarque a Lisboa, a chegada a Oporto, os dias de peregrinação, a minha segunda pelo Caminho de Santiago, o que esta experiência mudará em minha vida...
Ao alcançar a zona urbana de Compostela logo ingresso no casco histórico e chego à Praza do Obradoiro, que exibe a fachada ocidental da Catedral, no momento em que uma multidão descia as escadarias, pois havia terminado a Missa dos Peregrinos. Tudo bem. Permaneci aos pés do magnífico templo, para agradecer o êxito da peregrinação, ao mesmo tempo em que aprecio os detalhes de sua arquitetura. Após fazer o registro em hostal próximo, para deixar minha mochila, e ingressei na Catedral para me reencontrar com o Apóstolo e cumprir o ritual do Ano Santo. Depois, fui à Oficina de la Peregrinacion requerer a Compostela. Após passear algum tempo pelas ruas de pedra de Compostela, parei num pequeno restaurante, e comi frutos do mar com vinho. Na tevê, o Brasil estreava na Copa do Mundo de Futebol contra a Coreia do Norte, com vitória por 2 a 1.
A Missa dos Peregrinos ficou para o dia seguinte, com direito ao espetáculo do botafumeiro... Aliás, uma missa inesquecível, por meio da qual pude compreender, talvez, o sentido do perdão no Caminho de Santiago. E admitir a necessidade de pedir perdão não só pelas coisas que faço, e que nem sempre são as mais corretas, mas, em especial, por tudo aquilo que poderia fazer e, devido minhas imperfeições... não consigo.
Buen Camino!
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Banners nas ruas de Padrón comemoram o Xacobeo2010

Colegiata de Iria Flavia: obra dos séculos XII e XIII

Caminho atravessa vários pueblos...

Concha de vieira indica que estou no Caminho de Santiago

Vias estreitas com paredes de pedras cobertas de limo

Vias são conhecidas como “corredoiras galegas”...

Santuário da Escravitude: construção demorou três séculos até 1886

Entrada do Santuário da Escravitude, dedicado a Maria

Torres gêmeas do Santuário da Escravitude têm 32,5 metros

Curta descida até Anguería de Suso

Porto Rio: os apetrechos do peregrino agora descansam

Esticar as pernas e saborear bocadilho de jamón com queijo

Sombra do peregrino: a certeza de sua companhia...

Faramello: Caminho segue pelo acostamento da N-550

Enxada na mão, cuidando da horta

Despedida dos bosques refrescantes da Galícia

Monte Argo: já é possível avistar as torres da Catedral de Compostela

No Centro de Santiago de Compostela...

Chegada exatamente no fim da missa dos peregrinos

Praza do Obradoiro: fachada ocidental da Catedral de Santiago de Compostela

Postado em 15.06.10, 11h39 >>>>
O Aloisium agora é Ludovicum! Viva Santiago!

Compostela: agora sou Ludovicum Carolum Ferraz

Eu tentei, ah! como tentei. Sai de Padrón às 7h25, com previsão de chegar a Santiago de Compostela após 5 horas e 30 minutos de peregrinação pelo Caminho Português – o que me colocaria na catedral às 12h55 e, caso conseguisse ter acesso ao templo, talvez visse o espetáculo do botafumeiro... Mas nem tudo acontece como a gente quer.
Eis que cheguei na Praza do Obradoiro, a entrada ocidental da Catedral, por volta das 13h10, exatamente no término da missa dos peregrinos, quando o templo já estava sendo esvaziado e uma multidão permanecia parada em frente. Eram peregrinos sentados no chão, pessoas que nunca se viram se cumprimentando, enfim, uma grande festa...
Este é o clima de Compostela neste Ano Santo, quando o Dia de Santiago, 25 de julho, cai num domingo, e as normas canônicas estabelecem que, cumpridas determinadas exigências, o peregrino terá direito à indulgência plenária, ou seja, o perdão de todos os pecados. Falo em exigências, pois, além da peregrinação, o pretendente tem que orar um Pai Nosso, um Credo... e outras tantas coisinhas, algumas das quais guardadas em “caixa-preta”, que trato de garimpar para não esquecer de nada. Ou, ao final, ainda terei de ouvir de uma carola: “Espertinho, mas você não sabia?”
Perdida a missa – não tem problema, já reservei duas noites num hostal a uma quadra da catedral... –, aproveitei para visitar a bela catedral, atentar para inúmeros detalhes que passaram despercebidos na primeira visita, no ano passado, após completar o Caminho Francês e, claro, cumprir alguns itens do ritual do Ano Santo (outros tantos cumpriria na missa do dia seguinte...).
Em seguida, fui solicitar minha Compostela, o documento que prova a minha visita a Santiago de Compostela, mediante a peregrinação documentada pela minha credencial, com selos desde o Oporto, em Portugal – ou melhor, selos a partir de Vilar do Pinheiro, pois ao deixar a Sé, naquele início de manhã de domingo, simplesmente esqueci do importante detalhe, só lembrado por volta da hora do almoço...
Na Oficina de la Peregrinacion, um atencioso rapaz comprovou meus carimbos e, ao pedir que completasse o formulário oficial com meus dados (era o primeiro brasileiro do dia, confirmei com ele!), preparou o documento com sua letra.
O curioso e bota curioso nisso, para não dizer outra coisa, é que, ao preencher o documento em latim, em vez de grafar Dnum Aloisium Carolum Ferraz, como na primeira Compostela, que está pendurada na parede do meu escritório, ele escreveu Dnum Ludovicum Carolum Ferraz... Pois é, se no ano passado achei interessante observar que era outro, desta vez, sou... outro mesmo!!!
Ao alertá-lo para a situação, o jovem admitiu as duas versões para Luiz e até se dispôs a fazer nova Compostela. Mas, aleguei que não era necessário, e, comigo mesmo, considerei que a coincidência reforçou a ideia que já fazia, de que, realmente, sou outro, pois encontrei outro Luiz no Caminho Português...