Ponte de San Paio, em Arcade, 10 arcos semicirculares
Perdão
“Deve-se
perdoar, qualquer que seja o insulto”.
Mahabharata,
o texto sagrado de maior importância no hinduísmo, da qual faz parte o Bhagavad
Gita.
Rías e pontes...
Exatamente
nesta data, há 10 anos, a peregrinação pelo Caminho Português a Santiago de
Compostela reservou uma etapa curta, com 18,2 quilômetros, de Redondela a
Pontevedra. Foram quatro horas e meia de caminhada, marcadas pela travessia de dois
collados, pequenas colinas; pela chuva, que voltou a cair; por bosques
mágicos, perfumados; por peregrinos, muuuuuuitos peregrinos; e pela existência
de duas rías – um acidente geográfico frequente no litoral da Galícia e
que muito se assemelha a um estuário, como um braço de mar que adentra na costa
– atravessadas por pontes medievais.
Desde ontem
peregrino em solo espanhol e vivencio o entusiasmo com o Xacobeo2010, que celebra
o Ano Santo Compostelano. Um ânimo que constato logo no início da jornada
quando avisto um grupo de 100, exatamente isso, 100 peregrinos seguindo para Santiago
de Compostela! A agitação naquele trecho de bosque impressiona e desperta curiosidade,
pelas roupas, tênis em vez de botas, alguns sem mochila... e, além de cajados, guarda-chuvas,
o que cria um animado colorido no Caminho.
Alcanço o
grupo e fico sabendo que a caravana está sendo promovida pelo Partido Popular,
o PP, e é integrada por 120 peregrinos do pueblo de Mos, dos quais 20 haviam
faltado. Andam apenas aos sábados e o objetivo é chegar a Compostela exatamente
na véspera das festas ao Apóstolo Santiago. A organização é impecável. Além de seguranças
com rádio comunicadores, conta com dois veículos de apoio, levando lanches e aparatos
de socorro, tudo combinado com as autoridades policiais, que montaram operação para
bloquear a N-550 – a estrada nacional que corta a Galícia, de Coruña a Tui –,
para dar tranquilidade ao grupo.
Nem adianta
acelerar o passo, pois sei que será difícil me livrar da pequena multidão. Após
a passagem pela N-550 e pelo primeiro collado, o Caminho chega à ría
de Vigo, em Arcade, cuja travessia do rio Verdugo é feita pela Ponte de San
Paio, com 144 metros de extensão e 10 arcos semicirculares. Apesar de sua origem
romana, as características de construção atual datam do período medieval,
quando foi citada como “ponti Sancti Pelagii de Lutto”, ou Ponte de San Paio de
Lodo, propriedade dos condes de Borgoña. No entorno, uma praia fluvial, comunidade
de pescadores e miradouros com vistas para a ría.
Do outro
lado da ponte, ao seguir por um trecho junto à N-550, assisto à passagem de uma
família de viajantes, identificada como Casita Lilellotta, e que seria
procedente da Holanda. O Caminho começa a subir e adentra um bosque, para passar
por Cacheiro – onde observo peregrinos em fila para selar a credencial num
quiosque de lanches. Ando em direção à segunda colina, para atravessá-la e descer
ao pueblo de Santa Marta. Passo pela capelinha de Santa Marta, que data
de 1617, e depois de três quilômetros chego a Pontevedra.
Num momento
de descuido com a sinalização passo pelo albergue de peregrinos localizado na
entrada da cidade, junto à estação ferroviária, e continuo caminhando... Na
Plaza de la Peregrina, fico encantado com a Igreja da Virgem Peregrina de
Pontevedra, construída a partir de 1778, e considerada edificação simbólica da
cidade, obra do arquiteto português António Souto. Tem planta quase redonda em
forma de concha de vieira e fachada barroca arredondada, que combina com elementos
neoclássicos do século XVIII.
Sigo por
calçadas espaçosas e encontro o grandioso Convento de São Francisco, fundado
pelo próprio Francisco após sua célebre peregrinação a Santiago de Compostela, em
1214. Diz a tradição que a ordem franciscana se instalou em Pontevedra no final
do século XIII e construiu o edifício entre 1310 e 1360, contando com ajuda econômica
dos herdeiros do trovador e almirante galego Pai Gomes Charinho. Perto está o Convento
de Santa Clara, também do século XIV.
Continuo
andando e me deparo com a Igreja de São Bartolomeu, datada do mesmo período. Da
ordem jesuíta, o edifício tem estilo barroco e em seu interior guarda um
extraordinário conjunto de retábulos e esculturas atribuídas a artistas das
escolas compostelana e castelhana, como Pedro de Mena, Gregório Fernández,
Pedro de Campo e Bieito Silveira.
Por pouco não
deixo a bela cidade, ao encontrar a majestosa Ponte del Burgo, que atravessa a ría
de Pontevedra na desembocadura do rio Lérez, cujas referências datam de 1165. Decido
voltar e, num cruzamento inesperado, encontro Jeferson, um jovem brasileiro, natural
da Bahia, que
há cinco anos mora na Espanha com a família. Explico a situação e ele me confirma que o albergue fica na entrada da
cidade. Pensei: “não vou voltar”; e ele me indica o Hotel Rúas. Aceito a
sugestão, que foi providencial, pois finalmente tive condições de lavar e secar
minhas roupas, meias etc. e continuar enxugando o interior de minhas botas com
jornal – o que já vinha fazendo desde Rubiães.
Buen Camino!
#pedrasdocaminho
#10yearchallenge
Grupo
de 100 peregrinos de Mos: caminhadas aos sábados
Peregrinação organizada pelo Partido Popular, o PP
Autoridades policiais bloqueiam a N-550 para passagem do grupo
Ponte
de San Paio: uma das mais belas do Caminho Português
Ría
de Vigo, praia pluvial do rio Verdugo e comunidade de pescadores
Hórreo
galego: secar, curar e guardar colheitas e livrá-las de roedores
Casita
Lilellotta: família da Holanda num ponto da N-550
Fila
de peregrinos para selar credencial num quiosque de lanches
Capelinha
de Santa Marta: três quilômetros até Pontevedra
Igreja
da Virgem Peregrina de Pontevedra: edificação simbólica da cidade
Caminho
atravessa calçadão de Pontevedra
Convento
de São Francisco, no centro histórico de Pontevedra
Convento
foi fundado por Francisco após peregrinação a Compostela
Igreja
de São Bartolomeu, da ordem jesuíta
Rua
dos Arcos de São Bartolomeu
Baiano
Jeferson e a colombiana Tatiane: obrigado, Jeferson!
Show meu amigo
ResponderExcluirObrigado pelo incentivo. Buen Camino!
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