quarta-feira, 2 de março de 2022

Parece a primeira vez #10yearchallenge

Postado em 29.02.12, 17h07 >>>>

“Busca sem fim”: livro sobre a peregrinação pelo Caminho Aragonês encerrou a trilogia Pedras do Caminho

Texto abaixo foi escrito há 10 anos...

Para quem me conhece, e nem precisa me conhecer muito, já não é mais possível esconder minha ansiedade para iniciar a peregrinação pelo Caminho Aragonês, em junho, no final da Primavera europeia. Evidente que nos últimos dias, ou melhor, nos dias mais recentes... continuo procurando aparentar absoluto equilíbrio, sem exagerar, é claro; mas, vira e mexe, me flagro em demorado silêncio, quase paralisado, já em viagem, ou buscando informações sobre mais detalhes do Caminho, avaliando as sugestões de guias, sites e peregrinos que já trilharam o Aragonês, enfim, fazendo cálculos, ajeitando aqui e ali.

Neste exercício contínuo, as dúvidas, felizmente, vão sendo dissipadas; as providências antecipadas; e a ansiedade, ah! a ansiedade, arrefecida... Nesta semana, após vários dias de pesquisa, defini o melhor caminho até Somport, o ponto emblemático de onde iniciarei a peregrinação, acreditando que consegui amenizar minhas principais necessidades, pelo menos as que consegui prever. Assim, e também desprezando uma certa angústia, adquiri bilhetes da Air France, para Paris, com conexão para Lourdes, de onde seguirei para Somport, com retorno de Madri.

Disse angústia porque acompanhei em 2009, dias antes de embarcar para fazer o Caminho Francês – naquele ano, via TAP –, a queda, no Oceano Atlântico, na passagem de 31 de maio para 1º de junho, do Airbus A330-203, voo 447 da Air France, entre Rio de Janeiro e Paris, que matou 228 pessoas...

Antes de formalizar a compra, refiz o plano de viagem, selando a data de embarque e chegada, considerando os dias que negociei com minha amada Sandra, desde os dias no Santuário de Lourdes, um instante para circular Somport, a peregrinação de Somport a Puente la Reina, o reencontro com Santiago de Compostela, a esticada até Santander, para rever amigos, e momentos finais em Madri, antes de voltar ao Brasil. Não, não se trata de um roteiro turístico. Essa ideia não me é confortável; afinal estarei só e isto faz uma grande diferença!

De posse do e-ticket, preenchi formulário com dados pessoais, depositei as despesas postais e solicitei à Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, com sede na capital paulista, a emissão de minha credencial de peregrino, o que deve chegar dentro de alguns dias. Aproveitei também para contatar o albergue de Somport e anunciar que pretendo passar uma noite lá. Mas isso são detalhes e, fora os dias de peregrinação, posso alterar todo o plano. Nos próximos dias, em meio aos treinamentos físicos para fortalecer músculos e suportar a caminhada e o peso da mochila, continuarei atento a outros encaminhamentos e necessidades que faltam ser supridas; e, claro, sempre aguardando dicas bem-vindas dos amigos peregrinos dispostos a colaborar.

Sim, já realizei duas peregrinações a Santiago de Compostela: em 2009, os 800 quilômetros do Caminho Francês, desde Saint Jean Pied de Port, e em 2010, os 240 quilômetros do Português, a partir de Oporto. Apesar da relativa experiência, parece – e acho que sempre parecerá – a primeira vez.

O melhor Caminho até Somport #10yearchallenge

Postado em 25.01.12, 18h45 >>>>

Caminho Francês: a partir de Saint Jean Pied de Port, na França, cruza a Espanha de Leste a Oeste
Outra travessia dos Pirineus (no detalhe, em verde), o Caminho Aragonês inicia em Somport e se encontra com o Francês em Obanos, pouco antes de Puente la Reina...

Estação de esqui junto ao Parque Nacional dos Pirineus, na França, fronteira com a Espanha, Somport há muito tempo é estratégica na circulação de pessoas entre os dois países, desde tropas militares e comerciantes a peregrinos.

Há evidências, citadas em guias e coladas na internet, que vândalos e visigodos invasores utilizaram a passagem, da França para a Espanha, nos séculos IV e V d.C. À região também se integra uma estrada romana, conhecida como Via Tolosana, ou Caminho de Arles, que foi usada por muçulmanos invasores no século VIII, na tentativa frustrada de conquistar a França... Outras muitas histórias espetaculares envolvem o lugar, que estimulam ainda mais a moderna peregrinação pelo Caminho Aragonês – além, é claro, das motivações de cada um.

É emblemático iniciar o Caminho Aragonês em Somport, mas a rota de peregrinação a Santiago de Compostela pode fazer da estação apenas a travessia dos Pirineus, assim como Saint Jean Pied de Port, que marca o início do Caminho Francês. Ambas são ramificações das rotas que vêm de outros pontos da Europa. Na França, por exemplo, 800 quilômetros para o interior está Le Puy-en-Velay, onde milhares de peregrinos iniciam o Caminho, até Oloron-Sainte-Marie. Neste ponto, é possível fazer a opção: à direita, via Saint Jean Pied de Port; ou à esquerda, por Somport!

Em 2009, ao iniciar o Caminho Francês em Saint Jean Pied de Port conheci peregrinos que vinham de Le Puy com uma disposição impressionante. Eu estava iniciando minha peregrinação de 800 quilômetros e eles já haviam caminhado 800 quilômetros, projetando outros 800 quilômetros pela frente. Pessoas simples, simplesmente peregrinos, pela fé em Santiago, pela necessidade de superar limites. Um dia, quem sabe, começo em Le Puy.

Meu Caminho Aragonês terá início em Somport e desde que tomei esta decisão penso a melhor maneira de me posicionar para a peregrinação. Preocupação semelhante tive em 2009, quando, para chegar em Saint Jean Pied de Port, tomei voo de São Paulo até Lisboa, depois outro voo até Pamplona, em seguida ônibus até Roncesvalles e, finalmente, uma van até Saint Jean Pied de Port. Para descansar, refletir, me preparar, fiquei duas noites em Saint Jean e curti um pouco a cidadela medieval francesa. Conheci moradores e empresários, voluntários da Les Amis Du Chemin de Saint-Jacques Pyrénées-Atlantiques, peregrinos...

Em 2010, ao peregrinar o Caminho Português desde Oporto, não houve tanta dificuldade, embora tenha chegado por Madri, por conta de ter sido presenteado pelo amigo-irmão, comandante Waldir Câmara, com o bilhete São Paulo-Madri. Da capital espanhola fui de avião para o Oporto, onde fiquei duas noites, com tempo para pensar e conhecer a cidade, sua gente, bondes, a foz do Rio Douro, pratos típicos, como as Tripas ao Porto, regada por um bom vinho verde da região.

Desta vez, como pesquisei nos últimos dias, inclusive com a ajuda de peregrinos que já fizeram o Caminho Aragonês, entre os quais Lisbôa e Synésio, não é simples chegar a Somport. Uma boa opção me foi oferecida pelo amigo espanhol Soto Conde: de Madri pegar ônibus para Irun, no Norte da Espanha, e depois ir de trem de alta velocidade, o TGV, para Lourdes. Sim, Lourdes, pois em vez de aproveitar a estrutura de Somport, resolvi que será na cidade abençoada que buscarei momentos de paz e reflexão, e me prepararei para a travessia dos Pirineus. Lá, ficarei duas noites, seguindo para Somport, para iniciar minha peregrinação pelo Caminho Aragonês até Puente la Reina.

Contudo, em vez das seis etapas sugeridas pelos guias, conforme citei anteriormente, estou programando realizá-lo em 11 dias, a partir das etapas abaixo – mas, claro, minhas condições, as condições do Caminho, Santiago, enfim, serão responsáveis por confirmar ou não meus planos: Somport - Villanúa – 15,9 km; Villanúa - Jaca – 15,7 km: Jaca - Santa Cilia de Jaca – 14,9 km; Santa Cilia de Jaca - Arrés – 9,6 km; Arrés - Artieda – 18,3 km; Artieda - Ruesta – 10,4 km; Ruesta - Sangüesa – 22,1 km; Sangüesa - Izco – 18,4 km; Izco - Monreal – 8,6 km; Monreal - Tiebas – 13,5 km; Tiebas - Puente la Reina – 17,7 km (165,1 km).