Desfrutar a magia do Caminho e encontrar o que
tanto se busca numa peregrinação
A
evolução de nossa peregrinação pelo Caminho Inglês a Santiago de Compostela, ao
completarmos ontem (na verdade, este “ontem” foi 20 de junho!!! É que, após
chegar a Santiago, só agora estou tendo tempo de completar este texto...) a
sexta e penúltima etapa, entre Bruma e Sigüeiro, só poderia nos levar ao
encontro do que tanto buscamos ao decidirmos enfrentar este desafio. Afinal, nossa
peregrinação – muito mais do que uma viagem física, marcada pelo esforço de
caminhar quilômetros por paisagens fascinantes da Galícia –, nos proporciona uma
viagem de reflexão, para um encontro interior. Posso dizer que tanto para mim
quanto para Sandra, o entendimento é que esta é uma oportunidade única para
reafirmarmos nossas convicções, sobre o que somos e o que queremos para nós e para
os que nos são queridos, e, naturalmente, tentarmos entender e compreender este
amor que nos une e nos anima a viver.
No
contexto de uma peregrinação que evolui em etapas, desde nossos primeiros
passos em Ferrol – ou antes, ao desembarcarmos em Londres, para nos conectarmos
com o pensamento dos peregrinos medievais que ali iniciavam o seu Caminho
Inglês; ou ainda, ao nos despedirmos do Brasil... –, a linha do tempo da sexta
e reveladora etapa tem seu início ao deixarmos o albergue público de Bruma,
caminharmos cerca de 25 quilômetros durante quase sete horas, e sermos
acolhidos no albergue particular de Délia, sob as mãos da hospitaleira Maria
José, que é filha da senhora que dá nome ao estabelecimento.
Após
uma noite de descanso em Bruma, num albergue absolutamente lotado – e que não
teve capacidade para acolher um grupo de jovens peregrinos que foram alojados
no centro poliesportivo... –, não ao acaso, adotando nosso ritmo e princípio
peregrino de “desfrutar e buscar”, fomos os penúltimos a deixar o local. Era
por volta das 7h40 e uma neblina ainda cobria a rua principal da bucólica
Bruma. Quem saiu antes, efetivamente, saiu no escuro. Os primeiros saíram com
pequenos faróis na cabeça, podendo gerar dúvidas consequentes sobre o que
desfrutar do Caminho ao peregriná-lo no escuro... Mas, enfim, cada um faz o seu
Caminho...
Para
mim, que somo alguma experiência por outras cinco peregrinações a pé pelos
Caminhos de Santiago, e para a Sandra, que está estreando, foi uma etapa dura –
não uma “rompe piernas” como as três
anteriores, mas um trecho largo, muitas vezes com nossos passos sobre o asfalto
de estradas vicinais; mas também belo, atravessando pueblos esquecidos e bosques perfumados – num dos quais ouvimos,
pela primeira vez neste Caminho, o canto do cuco. E, ao contrário das etapas
interiores, que nos presenteou com chuva e temperatura amena, desta vez
sentimos na pele o sol estupendo desta Primavera galega.
Em
síntese, uma perfeita integração entre este ambiente favorável e nosso ânimo
peregrino, de desfrutar e buscar... Afinal, levando ao máximo a ideia de que o
turista, viaja; o andarilho, anda; e o peregrino, busca!
Além
de tudo, ao optarmos pelo albergue de Délia, nos surpreenderíamos ainda mais...
#pedrasdocaminho