domingo, 20 de janeiro de 2019

#10yearchallenge

06/06/2009: atravessando os Pirineus no primeiro dia de peregrinação pelo Caminho Francês

Algum tempo antes de viralizar #10yearchallenge já havia decidido, no âmbito do meu sabbatical, que este ano o Caminho de Santiago seria em mim revivido por meio de uma singela celebração dos 10 anos de minha primeira peregrinação a Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha, onde repousam as relíquias do Apóstolo de Jesus, Tiago Maior. Números redondos são sempre motivo de festa, embora, cá comigo, considere um ciclo mais consequente a chegada do 12º ano, em referência ao horóscopo lunar chinês e aos 12 animais que compareceram ao convite de Buda para comemorar o Ano Novo...
2009 foi ano do boi.
Em 2009 inaugurei minhas peregrinações pelo Caminho de Santiago e, com pouca noção sobre o estupendo universo que envolve o mistério jacobeo, optei pelos 800 quilômetros do Caminho Francês. Não só pelo fato de ser o mais famoso, ou pano de fundo para o best-seller “Diário de um Mago”, de Paulo Coelho, mas, também, por ter sido o primeiro sobre o qual colhi informações no momento em que estava sendo despertado para o Caminho.
Esse instante mágico, se é possível aprisioná-lo numa linha do tempo, foi quando no final de 2008 o amigo José Roberto Lisbôa Júnior me pediu (aliás, quebrando uma máxima que eu viria a cultivar no Caminho...) que publicasse no meu jornal uma reportagem sobre o Caminho de Santiago.
O fraterno irmão ponderou que havia sido diplomado hospitaleiro no refúgio de peregrinos de Castrojeriz, no coração do Caminho Francês em Espanha, e um de seus compromissos era divulgar a milenar rota de peregrinação cristã. Concordei de imediato e um dia marcamos a entrevista, quando Lisbôa me detalhou a experiência de sua peregrinação em 2006 pelo Caminho Francês e sua atuação como hospitaleiro em setembro e outubro de 2008.
A entrevista foi capa da edição de janeiro de 2009 do jornal Perspectiva, sob o título “Santiago – Caminho da Solidariedade”, em www.jornalperspectiva.com.br/wp-content/uploads/2016/02/1761.pdf

Capa do jornal Perspectiva, janeiro de 2009

Desde então o Caminho de Santiago passou a fazer parte da minha vida, pois havia decidido peregrinar o Caminho Francês. Sem dispor de todos os recursos que hoje transbordam na internet, fiz uma cópia do guia El País/Aguilar (edição de março de 2006) que havia tomado emprestado de Lisbôa e passei a estudar como poderiam ser minhas etapas. Li até o final (ufa!) o exemplar de Diário de um Mago, que adquiri num sebo. Na Decathon comprei botas, mochila, roupas, meias, enfim, tudo o que achava ser necessário para a viagem. Em 15 de abril de 2009 comprei os bilhetes de avião até Pamplona, com conexões em Lisboa e Madri. A ideia era seguir de ônibus para Roncesvalles e pegar uma van até Saint Jean Pied de Port, o início emblemático do Caminho Francês.
Acabou dando tudo certo... Ou mais que certo, pois desde que havia tomado minha decisão as coisas foram acontecendo sem embaraços, numa sequência de “coincidências” (já me referi como não classifico coincidências os fatos misteriosos no sagrado Caminho de Santiago!) e sinais místicos.
O projeto incluiu documentar a peregrinação, considerando minha disposição de editar um livro. Afinal, o ano seguinte, 2010, seria comemorado Ano Santo, ou ano jacobeo, quando o dia do Apóstolo Santiago, 25 de julho, cai num domingo. E os Caminhos de Santiago são invadidos por peregrinos de todo o planeta. Assim, aproveitando a onda de proliferação dos blogs, em 23 de abril de 2009 criei o meu, na plataforma Uol, em www.blogcomcebola.zip.net, com o objetivo de registrar momentos pitorescos da peregrinação.
A experiência do BlogComCebola foi surpreendente durante a peregrinação (além da primeira, ele abriga as três peregrinações seguintes...) e foi muito importante por ter me proporcionado uma forte interação com amigos. Recordo que minha conta no Facebook somente viria a ser criada algum tempo depois, em 29 de setembro de 2009!
Infelizmente, as postagens neste blog só foram possíveis até 18 de julho de 2014, quando contava com mais de 18 mil acessos e o sistema me informou que não havia mais espaço para textos e fotos. A alternativa foi criar em 15 de agosto de 2014 meu segundo blog, em outra plataforma mais adequada, em www.pedrasdocaminhodesantiago.blogspot.com.br, que está ativo e até este momento totaliza 61.390 visualizações.
É aqui que estarei resgatando os 10 anos de minha primeira peregrinação pelos Caminhos de Santiago, agora animado pela campanha #10yearchallenge!
Buen Camino!

sábado, 5 de janeiro de 2019

Adiós, Sabbatical!

Duas cirurgias, num intervalo de cinco meses...

Sabbatical, em hebraico, shabbat (שבת); em latim, sabbaticus; em grego, sabbatikos (σαββατικός), é um período de interrupção que pode variar de dois meses a um ano, cujo conceito tem fonte em shemitá, descrita em diversas passagens da Bíblia.

Não sei exatamente o momento, mas em alguma esquina da vida havia decidido que, após um período intenso de peregrinações pelo Caminho de Santiago, era chegada a hora de meu sabbatical. E no meu caso, haveria de ser o mais amplo possível, afastando-me tanto das peregrinações quanto de seus respectivos relatos por meio de livros, e todas as demais implicações que um e outro geram. Não seria tarefa fácil.
Havia acabado de constatar, em junho de 2018, que desde 2009 havia realizado oito peregrinações pelo Caminho de Santiago, das quais uma resgatando a célebre peregrinação de Francisco (de Assis, na Itália, a Compostela, na Espanha) e outra por uma rota tangencial do Caminho, totalizando algo em torno de 2.100 quilômetros a pé; e, de forma correspondente, havia publicado oito livros-reportagem  e já trabalhava para escrever uma ficção ambientada no Caminho de Santiago!
Era, pois, tempo de sabbatical. E, entre algumas inusitadas referências, encontrei ensinamentos relevantes em Levítico XXV, transmitidos pelo Senhor a Moisés... Naquele instante, ainda traduzindo em mim os efeitos da peregrinação realizada em junho de 2017 pelo Caminho Lebaniego, a citada rota tangencial do Caminho de Santiago que atravessa a Cordilheira Cantábrica, havia acabado de editar um livro alusivo por meio do financiamento coletivo proporcionado entre meus amigos e amigos de Santiago.
Informações sobre todo este processo, desde a peregrinação até a publicação de “Lebaniego”, estão nos posts anteriores, ou abaixo, o mais recente datado de 26 de julho de 2018! Naqueles dias, temperando o conturbado momento, estava focado em me recuperar de uma cirurgia crucial, feita há pouco mais de um mês, em 15 de junho, para colocação de uma prótese de titânio na articulação coxofemoral esquerda; ou, como se diz, uma prótese no quadril, para aliviar a intensa dor provocada pela artrose.
E antes que algum desavisado possa atribuir o mínimo fiapo de culpa ou dolo ao Apóstolo Santiago, esclareço que o desgaste da cartilagem articular do quadril pode ser causado por traumatismos antigos, como pela prática do surfe (desde o final dos anos 60), por alterações congênitas da forma do quadril (o que é fato), por doenças da infância e da adolescência que tenham afetado o quadril (que desconheço), ou pelo desgaste puro da cartilagem sem razão aparente.
Aliás, a leitura que faço agora é exatamente oposta; neste instante em que me recupero de ter colocado prótese semelhante na articulação coxofemoral direita, em 23 de novembro, cinco meses após a primeira, executada de forma magistral pelo mesmo dr. Paulo Rogério Ferreira, que carinhosamente apelidei “Mão Santa”. Hoje, não tenho dúvidas de que se resisti bravamente às duas cirurgias, num intervalo de cinco meses, impressionando positivamente o dr. Paulo Rogério, assim com os profissionais da saúde que trataram e tratam de minha reabilitação (especialmente o fisioterapeuta dr. Carlos Bahir de Andrade Jr., que chamo “Dr. Esperança”), foi exatamente por ter caminhado os mais de 2.100 quilômetros do Caminho de Santiago. Ou seja, se não os tivesse peregrinado, teria inevitavelmente sofrido todo o drama da artrose severa em meu quadril, pois o processo degenerativo já se havia instalado – e não teria tanta certeza se estaria comemorando a graça de voltar a caminhar com minhas pernas. Ah! E certamente não teria a mais remota possibilidade de um dia peregrinar o Caminho de Santiago: nem os últimos 100 quilômetros em troca de uma Compostela, muito menos o emblemático Caminho Francês, com seus estupendos 800 quilômetros, que enfrentei durante 29 dias em 2009!
Obrigado, Santiago!
Se o leitor se atentou para as datas, ou “coincidências” (pois, como já explanei em algum dos meus livros, não existem coincidências no âmbito do sagrado Caminho de Santiago!), em 2019 – exatamente em 6 de junho – estarei completando 10 anos do início de minha peregrinação pelo meu primeiro Caminho de Santiago. Naquele dia, abençoado por uma fina garoa, me despedi de Saint Jean Pied de Port, na França, para atravessar os Pirineus e chegar a Roncesvalles, na Espanha, inaugurando uma saga que mudaria minha vida de uma vez por todas...
Buen Camino!