Celebração de Corpus Christi em Santo Domingo de la
Calzada
Alguns trechos das ruas apertadas de Santo Domingo de la
Calzada foram decorados com tapetes de pétalas de rosa, destacando os 900 anos
de história da cidade... Final do nono dia de peregrinação pelo Caminho
Francês, desde Nájera, que completei nesta data, há 10 anos...
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#pedrasdocaminho
#xacobeo2021
O texto abaixo foi publicado no primeiro livro da
trilogia Pedras do Caminho: Meu Encontro no Caminho de Santiago!
SANTOS, IGREJAS, MILAGRES...
A presença
católica marca as cidades do Caminho de Santiago com seus templos e
edificações, alguns mais simples, outros majestosos – e culminará na Catedral
de Santiago de Compostela. Dedicada ao apóstolo Santiago Maior, ela data de
1128 e tem estilo românico, com elementos posteriores, renascentistas e
barrocos.
É a nova
igreja em homenagem a Santiago, pois a primeira, do século IX, foi construída
pelo rei Alfonso II, o Casto de Astúrias, e o bispo Teodomiro. Depois, no final
do mesmo século, Alfonso III, o Grande, construiu uma basílica muito mais bela,
destruída em 997 por Mohammed ben Abdelah Abuamie, o Almansor, vizir muçulmano
de Al-Andalus.
Após
Fernando III vencer os muçulmanos em 1236, a catedral fui reconstruída por
Alfonso V. Uma parte da igreja foi consagrada em 1105 e o restante em 1211. Não
que a presença católica seja uma novidade, muito pelo contrário, pois é o
grande mote do Caminho e serve para consolidar a fé como forte elemento de
motivação à grande maioria dos peregrinos.
Tal
presença, pois – ao lado das belas paisagens, povo alegre e peregrinos bem
dispostos – é a grande característica do Caminho, pelo menos até agora, neste
domingo 14, dia de Corpus Christi, ao chegar a Santo Domingo de la Calzada,
Província de La Rioja, e completar minha nona etapa, desde que sai sábado, 6 de
junho, de Saint Jean Pied de Port, na França – acumulando 209,1 quilômetros a
pé...
No domingo
passado, ao chegar a Zubiri (completando a segunda etapa, vindo de
Roncevalles), fui surpreendido com uma procissão que anunciava a semana de
Corpus Christi na pequena comunidade navarra. A saída foi da praça da cidade,
tendo à frente meninas vestidas de branco angelical, jogando pétalas de rosas,
seguidas pelo padre e fiéis.
Já em Santo
Domingo de la Calzada, em alguns trechos das ruas apertadas da cidade foram
confeccionados tapetes de pétalas de rosa, entre outros elementos, destacando
os 900 anos de história da cidade – de 1109 a 2009 – e já projetando, em
banners distribuídos em pontos estratégicos, as comemorações do ano jubilar em
2010. Ou seja, quando o dia do apóstolo Tiago Maior, 25 de junho, cai no
domingo, e a Igreja Católica espera levar algo em torno de 6 milhões de fiéis à
Santiago de Compostela – muitos deles peregrinos! Às 12 horas teve início a
missa festiva com a catedral lotada, mas nenhum fiel deixou de ver a
celebração, fosse diretamente, ou por meio de telas de LCD espalhadas pelo
templo. O edifício é exemplo de transição entre o românico e o gótico e teve
sua condição de catedral celebrada em 1232, quando a cidade foi nomeada sede
episcopal.
A igreja
românica começou a ser construída em 1158 e atualmente conserva grande parte da
antiga planta. No século XVI, parte do cruzeiro sofreu importante reforma com a
ampliação do lado esquerdo para abrigar o sepulcro de Santo Domingo.
O sepulcro
foi desenhado por Vigarny e realizado em 1513 por Juan de Rasines, com vários
estilos: românico, gótico e pós-gótico. A igreja está organizada como uma
típica igreja de peregrinação (como a maioria dos modelos ao longo do Caminho),
com várias capelas e a existência de passagem próxima ao altar, o que permite a
circulação.
Entre outros
detalhes, destaca um nicho em lembrança ao peregrino enforcado injustamente e
mantêm vivos numa gaiola um galo e uma galinha para celebrar a tradição e o
milagre da “ressuscitação” para manifestar a inocência do peregrino.
Conta-se que
a filha do dono da hospedaria do pueblo enamorou-se de um peregrino alemão, que
estava acompanhado dos pais. Porém, como ele a desprezou, a jovem mentiu ao
corregedor, acusando-o de furtar um cálice de prata. O peregrino foi condenado
e enforcado (mas, Santiago o teria suspenso para não morrer sufocado). Ao ver o
filho, os pais constataram que ele estava vivo, o que se devia à pronta ajuda
do famoso hospitaleiro do lugar, Domingo, que cuidava de peregrinos. Os pais
foram então ao corregedor contar a novidade e a autoridade, que estava numa
mesa saboreando penosas assadas, zombou, dizendo que o peregrino estava tão
vivo quanto elas. Não é que, embora assadas, as galinhas voltaram à vida!!!
Pois é esse
milagre, ou mera lenda, que a cidade propaga com seriedade e o utiliza para
atrair fiéis, turistas e peregrinos. A marca do santo com a galinha e o galo
está no artesanato, na divulgação oficial etc. Além disso, é muito curioso
ouvir o galo cantar dentro da igreja, especialmente durante as missas.
No domingo,
logo após a celebração de Corpus Christi, houve uma concorrida procissão, tendo
à frente crianças, meninos e meninas, senhores e senhores da sociedade
calceatense e o pároco, que num determinado ponto da rua, sobre um dos tapetes,
fez uma homilia.
Além de seus
900 anos de história, com riquíssimo patrimônio arquitetônico preservado e
ainda a preservar, Santo Domingo de la Calzada explora com toda fé possível o
santo de seu nome.
Nesse
caldeirão de religiosidade católica e valioso patrimônio arquitetônico,
lamenta-se o reduzido vestígio dos 800 anos de dominação árabe na Península
Ibérica, ainda mais quando se sabe que a maioria das igrejas e catedrais de
hoje teria sido erguida sobre mesquitas destruídas...
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