quinta-feira, 16 de junho de 2016

O espírito do Caminho

Com Sandra e Carmen, chegando a Pontedeume:
alegria em rever e peregrinar com nossa amiga

Desde que convenci minha Sandra a peregrinar comigo a Santiago de Compostela, tinha certeza (?) – logo eu, um cético! – de que, apenas por isso, esta peregrinação seria ainda mais imponderável. Pois hoje, no segundo dia de nosso Caminho Inglês, recebemos a visita de nossa amiga santiaguense Carmen Vázquez Nolasco, que veio de Compostela, a cerca de 100 quilômetros de distância, para peregrinar conosco esta etapa, com cerca de 15 quilômetros, de Neda até Pontedeume.
Havia visto Carmen pela última vez no ano passado, ao completar o Caminho Primitivo. A reencontrei na Plaza do Obradoiro, aos pés da Catedral de Santiago, acompanhada da sobrinha e afilhada Maria. Foi um momento mágico, pois, ao mesmo tempo, também reencontrei duas peregrinas lituanas que conheci no Primitivo, Deimante Blagniene e Bozena Bienkunska (que viria a falecer tragicamente pouco mais de um mês após aquele dia e a quem dedico meu próximo livro, “A Última Peregrinação”, a ser lançado em 23 de julho, na Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos) –, e lá também apareceu o estimado frei franciscano Enrique Roberto Lista García, que eu e Sandra conhecemos em 2014, ao final da travessia de Assis a Compostela, perseguindo os passos de Francisco, em sua célebre peregrinação de 1214. Foi em 2014 que Sandra conheceu Carmen.
Com todos esses (poucos) detalhes que fiz questão de elencar, nem é preciso dizer quantos filmes passaram na minha cabeça ao reencontrar Carmen... Hoje, nas cinco horas de peregrinação que estivemos juntos tive a oportunidade de reviver muitos deles, reforçando nossos laços de amizade, que vão um pouco além disso e me fazem considerá-la a irmã que não tenho e que me foi presenteada por Santiago. Foi assim que a identifiquei na dedicatória do livro de “Passos do Amor”, que resgata a citada peregrinação de Francisco a Compostela.
Conheci Carmen num momento crucial do Caminho Sanabrês, que peregrinei em 2013 desde Zamora, ainda na Vía de la Plata. Havia feito a opção por uma variante do Caminho, que passa por Verín e outros pueblos raianos da Galícia, junto a Portugal, o que alargou minha peregrinação em alguns quilômetros, e deixei transparecer minha agonia, não só por isso mas por outras dificuldades desse Caminho (relatadas no livro “Descobrindo novos Caminhos”), num post do blogcomcebola.zip.net, que foi sucedido por este pedrasdocaminhodesantiago.
Pois Carmen, que acompanhava minha peregrinação, leu e, tal como fez hoje – embora agora o ânimo tenha sido de confraternização –, saiu de Compostela, a 200 quilômetros de distância, e foi ao meu encontro em Laza. Era noite, eu acabara de comer um menu e retornava ao albergue sozinho. Neste primeiro encontro, Carmen me levou remédio para as bolhas de meus pés, um par de meias de patinação, uma caixa de biscoitos feito por monjas de Compostela, alguns dos quais compartilhei com os peregrinos do albergue, e a cruz de Santiago que carrego comigo.
Hoje, mais uma vez, Carmen largou todos os seus compromissos, para nos reencontrar e celebrar o espírito do Caminho de Santiago.

#pedrasdocaminho

2 comentários:

  1. Olá Luiz.

    Em Zabaldika, próximo a Pamplona, na Igreja de San Esteban, recebi as Bem-Aventuranças do Peregrino. São vária, todas têm muito a haver com o espírito do Caminho, mas principalmente as abaixo:

    - Bem-aventurado és, peregrino, se o que mais te preocupas não é chegar, e sim chegar com os outros;

    - Bem-aventurado és, peregrino, se descobres que um passo atrás para ajudar ao outro vele mais que cem passos à frente sem olhar ao seu redor;

    Vou acrescentar mais uma, que recebi de Pepe, um morador de Villoveico, na manhã do domingo de Páscoa. Quando pedi para ele carimbar minha credencial ele escreveu nela:

    - Bem-aventurado és se encontras Jesus e O segues.

    Buen Camino!

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