quinta-feira, 4 de julho de 2019

Viva Santiago!


Fim da peregrinação: junto às relíquias do Apóstolo Tiago Maior

Cheguei à Catedral de Compostela, junto às relíquias do Apóstolo Tiago Maior, há 10 anos, em 4 de julho, a meta do Caminho de Santiago!!! Foi o final da 29ª e última etapa de minha peregrinação pelo Caminho Francês, de Pedrouzo a Santiago de Compostela, com cerca de 21,3 quilômetros. Viva Santiago!
#10yearchallenge
#pedrasdocaminho
#xacobeo2021

O texto abaixo foi publicado no primeiro livro da trilogia Pedras do Caminho: Meu Encontro no Caminho de Santiago!

AGORA, AO FIM DO MUNDO... (*)

Engana-se quem acredita que a peregrinação à Santiago de Compostela termina na Catedral, após a missa das 12 horas, com aquele espetáculo do botafumeiro – inesquecível! –, a visita à tumba do apóstolo, o abraço e o beijo à imagem atrás do altar, a conquista da Compostela... Cada vez mais, os peregrinos continuam o Caminho a Finisterre, no galego Fisterra, no latim Finis Terrae, ou seja ao “fim do mundo”... É para lá que estou indo – depois da festa deste sábado em Santiago de Compostela, com o reencontro de inúmeros peregrinos que topei no Caminho, ora na Catedral, ora nas ruas, onde estava montada uma feira medieval, com barracas vendendo quinquilharias alusivas ao período, a Santiago, ao Caminho...
Finisterre é um cabo, um acidente geográfico, que avança no Oceano Atlântico como um dedo, e que foi considerado um lugar místico para os celtas, fenícios e romanos, que celebravam ritos solares e de fertilidade... Diz-se que o mar é violento em Finisterre, tanto que o Noroeste da Galícia é também conhecido como Costa da Morte, em alusão aos naufrágios registrados – como o do petroleiro Prestige, em 2002, que causou o derramamento de mais de 70.000 toneladas de petróleo, com prejuízos ambientais que atingiram também Portugal e França. Assim, da mesma forma que Finisterre representou ritos de fertilidade e início, é considerado marco para o reinício da vida renovada, após a peregrinação, visando o retorno. Tanto que se tornou famoso o ritual do peregrino queimar suas roupas, após devolver sua concha ao mar, e, pelado, mergulhar na água fria e ver o pôr do Sol... Pronto, está renascido.
Vou com calma, naturalmente... Afinal, são lendas, e lendas... são lendas. Tanto que, enquanto dizem que o peregrino deve seguir a Finisterre a pé, acrescentando mais 87,2 quilômetros à caminhada – o que pode ser feito em mais três etapas... – eu vou de ônibus, ou de trem, ainda decido...
Por ora, minha peregrinação pelo Caminho Francês, saindo de Saint Jean Pied de Port, na França, somou 798,9 quilômetros. Isso, pelo menos, é o que garante o guia Rother – diferente de outras fontes, que divergem e divulgam quilometragens diferentes, ora para mais, ora para menos. Mas essa é apenas uma questão numérica, pois o Caminho é feito por cada um, considerando as muitas opções de parada, de acordo com a condição física e o interesse, seja ele arquitetônico, artístico, religioso etc.
Para os cálculos do meu Caminho adotei o guia alemão, que é objetivo e me parece mais organizado que o espanhol, editado por El País/Aguilar. Fiz o meu Caminho em 29 etapas e as respectivas distâncias estão baseadas no Rother. A mais pedreira foi a 21, que cumpri no dia 26 de junho, de Santa Catalina de Somoza até Molinaseca, e que somou 39,9 km! – ou seja, quase uma maratona, que tem 42.195 metros. Já a mais leve foi a etapa 9, feita no dia 14 de junho, de Nájera até Santo Domingo de la Calzada: só 20,6 km...
É um roteiro possível, eis que consegui realizá-lo, bastando apenas um pouco de disciplina, antes de dar o primeiro passo e, principalmente, durante o Caminho...
Confira as etapas:
01 – 06/06 – Saint Jean Pied de Port (França)/Roncesvalles (Espanha) – 24,8 km
02 – 07/06 – Roncesvalles/Zubiri – 21,2 km (46 km)
03 – 08/06 – Zubiri/Pamplona – 21,1 km (67,1 km)
04 – 09/06 – Pamplona/Puente la Reina – 23,1 km (91,2 km)
05 – 10/06 – Puente la Reina/Estella – 24 km (114,2 km)
06 – 11/06 – Estella/Los Arcos – 21,3 km (135,5 km)
07 – 12/06 – Los Arcos/Logroño – 28,7 km (164,2 km)
08 – 13/06 – Logroño /Nájera – 30,7 km (194,9 km)
09 – 14/06 – Nájera/Santo Domingo de la Calzada – 20,6 km (215,5 km)
10 – 15/06 – Santo Domingo de la Calzada/Belorado – 23,5 km (239 km)
11 – 16/06 – Belorado/Agés – 27,9 km (266,9 km)
12 – 17/06 – Agés/Tardajos – 34,7 km (301,6 km)
13 – 18/06 – Tardajos/Castrojeriz – 32,0 km (333,6 km)
14 – 19/06 – Castrojeriz/Frómista – 25,9 km (359,5 km)
15 – 20/06 – Frómista/Calzadilla de la Cueza – 37,3 km (396,8 km)
16 – 21/06 – Calzadilla de la Cueza/Sahagún – 22,8 km (419,6 km)
17 – 22/06 – Sahagún/Reliegos – 30,7 km (450,3 km)
18 – 23/06 – Reliegos/La Virgen del Camino – 32,5 km (482,8 km)
19 – 24/06 – La Virgen del Camino/Hospital de Órbigo – 28,7 km (511,5 km)
20 – 25/06 – Hospital de Órbigo/Santa Catalina de Somoza – 26,6 km (538,1 km)
21 – 26/06 – Santa Catalina de Somoza/Molinaseca – 39,9 km (578 km)
22 – 27/06 – Molinaseca/Cacabelos – 25,1 km (603,1 km)
23 – 28/06 – Cacabelos/O Cebreiro – 36 km (639,1 km)
24 – 29/06 – O Cebreiro/Samos – 28,5 km (667,6 km)
25 – 30/06 – Samos/Portomarín – 33,7 km (701,3 km)
26 – 01/07 – Portomarín/Palas de Rei – 24,5 km (725,8 km)
27 – 02/07 – Palas de Rei/Arzúa – 30,5 km (756,3 km)
28 – 03/07 – Arzúa/Pedrouzo – 21,3 km (777,6 km)
29 – 04/07 – Pedrouzo/Santiago de Compostela – 21,3 km (798,9)

(*) Hoje, faço mea culpa sobre este entendimento, após retornar outras sete vezes a Compostela e ter tido a experiência de peregrinar o Caminho Português (2010), Aragonês (2012), Sanabrês (2013), Primitivo (2015) e Inglês (2016) – sem contar o Caminho Lebaniego (2017), uma rota tangencial do Caminho de Santiago, e a travessia, de Assis a Compostela (2014), resgatando os passos de Francisco em sua célebre peregrinação em 1214...
NÃO! Não se engana quem acredita que a peregrinação à Santiago de Compostela termina na Catedral. SIM, a peregrinação à Santiago de Compostela termina na Catedral, de joelhos junto às relíquias do Apóstolo Tiago Maior!
Buen Camino!

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