quarta-feira, 3 de julho de 2019

Estou pronto...?!


Buen Camino!: clima de despedida nos bosques da Galícia

Faltando muito pouco para chegar a Compostela, há 10 anos, em 3 de julho, realizei a 28ª etapa de minha peregrinação pelo Caminho Francês, de Arzúa a Pedrouzo, com cerca de 21,3 quilômetros...
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#pedrasdocaminho
#xacobeo2021

O texto abaixo foi publicado no primeiro livro da trilogia Pedras do Caminho: Meu Encontro no Caminho de Santiago!

ESTOU PRONTO. ESTOU PRONTO?

Se eu tivesse trazido o... terno preto, certamente o usaria... Hoje, depois da caminhada matinal, entre 6h50 e 11h15, de Arzúa até Pedrouzo, tirei o dia para me preparar para estar junto à tumba do apóstolo Santiago, irmão do apóstolo João, na Catedral de Santiago de Compostela.
Diz-se que a peregrinação só estará completa depois que o peregrino subir a escada que existe atrás do altar maior, abraçar e beijar a imagem de Santiago.
Se tudo estiver favorável e conseguir manter o ritmo de hoje, para uma distância semelhante de 21,3 quilômetros, vou chegar a tempo de participar da missa do meio dia e cumprir esse ritual.
A celebração do meio dia é famosa, especial para peregrinos, quando, alegre (sim, ele deve ficar alegre...), o botafumeiro é a grande atração.
Banhado em prata, pesando 50 quilos, o gigantesco incensário balança na nave durante a missa, por meio de uma corda de 35 metros de comprimento, e, entre outras funções, ameniza o odor das roupas dos peregrinos... Não das minhas, claro, pois, como disse, dediquei a sexta-feira para me preparar – o que incluiu, naturalmente, a raspagem dos pelos da cabeça e da face, um banho reforçado, lavagem com sabonete da bermuda, camiseta, cueca e das três meias (o pé direito exige o uso diário de duas...)
E as botas? Ontem, depois de pisar num atoleiro no bosque, já as havia lavado... Foi um descuido, sem maiores consequências, mas um bom teste para conferir se eram mesmo waterproof, como diz o fabricante.
Estarei pronto!? Hoje, de volta aos bosques da Galícia, o clima foi de despedida... Cruzei com pessoas dos pueblos, a pé e em tratores... vi muitos bichos... pessoal da manutenção do Caminho... Aproveitei para agradecer e saudar especialmente todos os que nele habitam, o que incluiu um grande abraço na maior das árvores que encontrei...
Afinal, segundo o guia do Caminho já alerta, a paisagem vai mudando na medida em que se vai chegando a Santiago. “A beleza, nesta etapa, estará no interior...”, avisa. É que a cidade avança, o Caminho se mistura com a rodovia...
Hoje, como no dia anterior, quando a etapa foi de Palas de Rei a Arzúa, o bosque estava iluminado... e cheiroso. Você é capaz de sentir o cheiro dos bosques galegos? Tente. Feche os olhos, respire fundo, o frescor da mata, pássaros cantando, a vida em tudo, pulsando, em movimento... pense nos Jardins do Éden...
Minha Sandra associou as fotos que viu a sua infância, em Santa Catarina. Veja o que ela escreveu: “O caminho que fazia na infância era assim... havia árvores, animais, estrada estreita de terra ou cascalho, frutinhas, florzinhas, lavouras, rios, riachos, casas antigas, pessoas de todo tipo, mas sempre tudo muito simples. Penso que estás me vendo em todos os lugares por onde tens passado, pois tenhas certeza, isso que estás vivendo fez parte da vida que vivi no Riozinho, every day, lembra? E por isso estou imensamente feliz por essa tua rica experimentação, que é o verdadeiro sentido do princípio da nossa criação. Em todas as árvores, em todas as coisas, como Deus nos criou. Eu e você...”
Pois é... O amigo Ibrahim também deixou uma mensagem interessante no post de ontem... Aliás, agradeço a todos os amigos que se emocionam e me emocionam com suas mensagens, alegres, profundas, de ânimo, sentimentos que fazem parte do espírito do Caminho...
Desta vez fui eu, deixei marcas – como pedras que coloquei em vários pontos e setas que construí para auxiliar futuros peregrinos... –, e em breve vocês estarão fazendo o Caminho, que milhões de pessoas já fizeram ao longo de séculos...
Mudaremos alguma coisa? É possível que sim. Lembrando o ensinamento do monge beneditino, não devemos nos privar do bom exemplo. Devemos exercê-lo. Sempre. Ele tem força, uma força silenciosa e que a história já mostrou que é capaz de gerar transformações colossais...
O movimento é lento. Sim, e daí? Mas quem está com pressa? Eu tenho (?) pressa! Eu tenho mais é que controlar a pressa, a ansiedade, a intolerância... Hoje, também preparei a minha credencial de peregrino para receber o último selo na Catedral de Santiago de Compostela. Será o selo número 30, considerando que o primeiro foi colocado em Saint Jean Pied de Port, no dia 5 de junho – um dia antes de iniciar o Caminho.
Os outros 28 selos foram de lugares onde descansei e me recuperei para no dia seguinte continuar no Caminho. Agradeço a todos os que colaboraram com o meu descanso e continuam me ajudando... Agora mesmo, enquanto escrevia, uma peregrina espanhola (ela contou, enquanto lavávamos roupas, que iniciou o Caminho no ano passado, em Saint Jean, e foi até León. Este ano, o retomou de León e amanhã certamente chegará a Santiago com o marido, que a acompanha...) veio me alertar que estava chuviscando e que minhas roupas... subi as escadas, rápido, até o varal onde as havia estendido e... surpresa... alguém já as havia transferido para um lugar coberto... Teria sido ela? Ou...
Com o selo da Catedral terei direito a receber a Compostela, o documento oficial que confirmará minha peregrinação a Santiago de Compostela...

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