sexta-feira, 5 de junho de 2015

Viva a Fraternidade!

Com o grupo de peregrinos: Pilar, Rosa, Amparo, Pepe e Fiore

Oviedo estampa em seu escudo inúmeros títulos, na verdade estupendas virtudes, de “muy noble, muy leal, benemérita, invicta, heroica y buena”, e isso pode até parecer coincidência pois resumi, dias atrás, minha busca, uma busca sem fim no Caminho de Santiago, por virtudes – visando, evidentemente, assimilá-las, incorporá-las, cultivá-las, enfim, utilizá-las como um cinzel na lapidação de meu ser. Não é fácil, por isso insisto. E hoje, às vésperas de iniciar minha peregrinação pelo Caminho Primitivo, quando as oportunidades florescem neste final de Primavera europeu, o dia foi pródigo em me enfatizar as virtudes, a principal delas, talvez, a fraternidade.
Aliás, esta palavra me persegue há alguns anos. Numa dessas vezes, em 2008, ao entrevistar meu irmão peregrino José Roberto Lisbôa Jr., sobre sua diplomação como hospitaleiro em Castrojeriz, no Caminho Francês, pedi que me sintetizasse o Caminho de Santiago e ele disse “fraternidade”. Utilizei a palavra na manchete da reportagem e, inspirado, seis meses depois peregrinei o Caminho Francês, disparando minha busca pelo espírito do Caminho, enfim, pelas virtudes...
Se fosse detalhar todas, absolutamente todas as situações que aconteceram hoje comigo em que a fraternidade, entre outras virtudes, esteve presente, teria que contar encontro por encontro, desde a gentil garçonete no café da manhã, passando pela atenciosa ovetense na rua, a religiosa que me convidou à missa que iria acontecer naquele instante na capela da Catedral..., o encontro com o peregrino espanhol Pepe na porta da Catedral.
Oviedo permite o encontro de alguns Caminhos. Pepe havia acabado de peregrinar o Caminho de San Salvador, de León a Oviedo. Também é possível recepcionar peregrinos do Caminho do Norte... Conversamos e logo nos identificamos. Fomos entrevistados por uma universitária que realizava pesquisa sobre o movimento de peregrinos na cidade. Tomamos café. Retornamos à Catedral para reencontrar o peregrino italiano Fiore, que Pepe conheceu no Caminho. Sentamos na mesa de um bar na praça da Catedral e logo chegaram as três peregrinas espanholas, Pilar, Rosa e Amparo, que completavam o grupo formado no Caminho de San Salvador.
Foram muitas impressões trocadas e, entre tantas manifestações de carinho e solidariedade, Amparo levou seu nome ao pé da letra e foi buscar no hotel para  mim um tubo de vaselina, garantindo que o produto impediu as bolhas em seus pés, assim como nos das amigas. Eu, como sempre colecionei bolhas em todas as peregrinações, classificando-as como “troféus”, agradeci o presente e vou testá-lo. Após três horas de papo, nos despedimos, cada um deles se preparando para retornar para casa, com exceção de Fiore que, com tempo, ficou de avaliar a possibilidade de se reencontrar comigo amanhã às 8 da manhã, em frente à Catedral, o ponto emblemático que simbolizará o início de minha peregrinação. Não acredito, mas, enfim...
O dia continuaria me surpreendendo com situações desconcertantes e, após descansar um pouco, resolvi conhecer o albergue de peregrinos de Oviedo. Os bons encontros foram se sucedendo até localizar o albergue, conversar com a jovem hospitaleira, que me auxiliou indicando no mapa o trajeto perfeito do Caminho, a partir da Catedral, demonstrando muito boa vontade, já que a sinalização é um dos pontos fortes do Primitivo, mas, enfim, pude sentir no ambiente o espírito do Caminho... Nos despedimos e, ao retornar pelas ruas de pedras de Oviedo para procurar outros pontos de visita, como as muralhas, o Museu de Arqueologia..., me deparei com dois peregrinos parados numa esquina, um deles com mapa na mão, tudo indicando dúvida para onde seguir. Abordei-os, constatei que o mapa estava invertido, e identificaram-se franceses em busca do albergue. Ora, havia acabado de visitá-lo! Indicar o caminho correto e ver a alegria estampada no rosto dos dois me deixou emocionado e assim caminhei durante algum tempo... Quem sabe os encontro amanhã. Santiago, passa à frente!

#pedrasdocaminho

Pepe entrevistado na porta da Catedral

Albergue El Salvador: espírito do Caminho...

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