Catedral de Oviedo, início da peregrinação
Há algum
tempo, refletindo sobre o motivo de ter optado pelo Caminho Francês na minha
primeira peregrinação a Santiago de Compostela, levantei uma série de
ponderações, entre as quais, com certeza a principal, o fato de que até então,
em 2009, não conhecia o Caminho Primitivo – como o nome diz, o primeiro,
realizado desde Oviedo pelo primeiro peregrino da história da rota, Alfonso II,
O Casto, rei das Astúrias.
Óbvio, pois
se nada sabia sobre o Primitivo, que afinal detonou o fenômeno das
peregrinações a Santiago de Compostela, não poderia ter sido minha escolha – o
que, porém, desde o momento em que soube de sua existência, passou a fazer
parte de meus sonhos.
Como aceito
a máxima de que Deus escreve certo com linhas tortas, desde então aceitei esta
ordem, mas, ao mesmo tempo, me perguntava porque razão não teria feito primeiro
o Primitivo em vez do Francês em 2009. As considerações são muitas e talvez já
as tenha esgotado no texto postado há mais de um mês e que está mais abaixo. A
lógica parece insofismável: se o Primitivo é o primeiro, o meu primeiro deveria
ter sido o Primitivo. Mas, não foi.
O tempo
passou e hoje, 8 de junho de 2015, estou aqui, neste exato momento, em Tineo,
ao final da terceira etapa do Caminho Primitivo, desde Oviedo, rumo a Santiago
de Compostela.
A primeira
etapa, conforme está em meu plano (também
em post abaixo), que vai se cumprindo, apesar de cada vez mais estar convicto de que muitas informações dos guias, nos quais me baseei, não estavam
corretas, mas, enfim..., foi de Oviedo a Grado, que teria cerca de 23,6 quilômetros.
Para mim foi uma etapa duríssima e classifiquei-a, repetindo um termo muito
utilizado pelos espanhóis, como “rompe
piernas”. Assim me senti, com as pernas rompidas, ao final, após mais de
nove horas de peregrinação.
Diferente de
minhas outras quatro peregrinações, realizadas sempre só, admiti, a pedido de
minha amada Sandra, ter a companhia de outros peregrinos, e assim foi feito. De
Oviedo sai com o italiano Fiore, que havia conhecido no dia anterior, ao final
de sua peregrinação pelo Caminho de San Salvador, desde León. Logo se juntou a
nós a espanhola Maite. Passamos por uma sequência de pueblos, como San Lázaro de Paniceres, Loriana, Escamplero, Premoño,
Peñaflor, atravessando belos bosques, sendo recepcionados por antigos
moradores, como Manoela, de 92 anos, e diferentes animais, cachorros, gatos,
bois, cavalos... até alcançar Grado. Neste pueblo,
que não possui albergue, fomos abordados por um agente, de carro, do albergue
de Cabruñana, distante 5 quilômetros – fora do Caminho Primitivo... –, que
convenceu Maite, que, muito cansada aproveitou a carona e nos deixou... Tudo
bem, eu e Fiore aproveitamos a hospitalidade (nem tanto...) do único hotel de
Grado.
Peregrinando com a espanhola Maite e o italiano
Fiore
Descendo, sempre com cuidado pelo piso escorregadio...
Dona Manoela, 92 anos e muita disposição
Animais dóceis no Caminho
Quase chegando a Grado, no final da primeira etapa
Muito
cansado e abalado pelo longo primeiro dia de peregrinação...
Ops! Aqui dou uma pausa em minhas reflexões, pois,
já na cama do albergue de Tineo, sentindo fortes dores no joelho esquerdo, amanhã
estou programado para a quarta etapa, até Borres...
Já no dia
seguinte... 9 de junho (afinal, hoje), avalio que nem tanto pelas dores, mas pela perspectiva real
de comprometer minha peregrinação, resolvi buscar auxílio médico para saber a
real situação de meu joelho esquerdo. Para tirar a dúvida acionei o seguro, que,
sem atendimento em Tineo, que não possui hospital, me indicou como mais próximo
o hospital de Cangas del Narcea, distante cerca de 40 quilômetros. Fui e voltei
de ônibus, com o diagnóstico de tendinite, após avaliação médica e raio-x.
Tomei uma dose de anti-inflamatório, bolsa de gelo local e orientação para
descansar de dois a três dias.
Se contar
que desde ontem estou aqui, descansarei dois dias..., pois amanhã pretendo
cumprir a quarta etapa da peregrinação até Borres.
Mas,
detalhava sobre as etapas até então realizadas até Tineo.
A segunda
etapa, de Grado a Salas, no domingo 7 de junho, embora me tenha sido
apresentada pelos guias com cerca de 21,6 quilômetros, me pareceu ter 25, ou
mais!!! Trecho difícil, com sequências de subidas e descidas e, realizado em
período em que a região das Astúrias registra chuvas e excesso de umidade no
ar, com muita lama. Logo no início, continuando a caminhar com o peregrino
italiano Fiore, enfrentamos uma subida forte até San Juan de Villapañada, com
muita névoa. Durante o caminho passamos por vários pueblos, como Santa Eulalia de Dóriga, Cornellana, que abriga o Monastério
de San Salvador, fundado em 1024, que está sendo recuperado, Llamas, Quintana,
Casazorrina e, finalmente, Salas, cujo casco antigo destaca a Colegiata de
Santa María la Mayor, gótica e renascentista do século XVI, onde está o
mausoléu do arcebispo Valdés-Salas, e que está localizada junto ao Palácio de
los Valdés.
Adios, Grado: neblina no segundo dia de
peregrinação
Peregrinando com o italiano Fiore
Belos bosques do Principado das Astúrias
Pedras do Caminho Primitivo
Monastério de San Salvador, em Cornellana
Sinais do Caminho Primitivo
Colegiata de Santa María la Mayor, em Salas
Nesta tarde
de domingo, em Salas, despedi-me de Fiore, que, com a disposição dos 43 anos,
continuou sua peregrinação até Bodenaya, somando mais uns cinco quilômetros. Após
instalar-me no albergue de peregrinos, para minha surpresa reencontrei a
espanhola Maite.
Sem bolhas
nos pés, mas já com dores no joelho esquerdo, talvez devido a um quase
escorregão nas pedras do trecho de Grado a Salas, descansei com a certeza que
no dia seguinte, a segunda-feira 8 (enfim, ontem), estaria melhor. E estava!
Meu terceiro
dia de peregrinação compreendeu – segundo os guias – 19,8 quilômetros, entre
Grado e Tineo... Mas, acho que esta distância foi medida pela estrada, porque pelos bosques,
encharcados pelas chuvas, com muita lama, exigindo todo cuidado... é possível
que o percurso passe dos 22 quilômetros, entre tantas subidas e descidas. Enfim,
a etapa oferece belas paisagens, muitos animais, gente simples nos pueblos, passando primeiro por Bodenaya,
após uma forte subida, depois Porciles e La Espina, depois um trecho pela
rodovia atravessando La Pereda, El Pedregal... finalizando com mais 7 ou 8
quilômetros pelos bosques úmidos, com subidas e descidas, muito mais subidas...
até Tineo.
Adios, Salas: peregrinando, como sempre...
Desejo de sorte e buen caminho ao peregrino:
SantiaGO
Peregrinos franceses Sylvia e Ralph
Marcos garantem a boa sinalização do Caminho
Primitivo
Peregrinos espanhóis Marcelo e Antonio
Gina, a peregrina inglesa
Peregrina alemã Josephine
Chuvisco intermitente e muita lama no Caminho
Os sinais do Caminho nas Astúrias
Peregrinos espanhóis Henrique e Yenay
Pronto, e
aqui estou em Tineo – pois, preocupado com o inchaço e as dores do joelho,
dormi a primeira noite, e acordei nesta terça-feira 9 com disposição de tirar a
dúvida com uma avaliação médica – conforme detalhei acima. Diz o médico que foi
uma má pisada, somada ao excesso de esforço, que inflamou, e que com descanso e
medicamentos, meu joelho voltará ao normal, ou ficará melhor. Assim é a tendinite. Não se sabe quando
chega, muito menos quando vai. Tem o seu tempo. Pois, eu também tenho o meu
tempo!!! Quebrar, não quebra, me garantiu o especialista.
A dúvida
permanece nesta retomada de peregrinação, recebendo, contudo, o apoio de amigos
e de minha amada Sandra de que amanhã acordarei bem melhor, podendo, enfim, cumprir
mais uma etapa de meu objetivo, me posicionando em Borres.
Ah! Sobre o
título deste post, cada vez vai ficando mais claro para mim o motivo pelo qual o Primitivo
não foi meu primeiro Caminho. Talvez não tivesse peregrinado outros. Talvez ele
seja, isto sim, meu último...
Santiago,
passa à frente!
#pedrasdocaminho
#pedrasdocaminho
Muito legal o blog! Fotos lindas! Parabéns!
ResponderExcluirAmigo peregrino no próximo Primitivo opte por Bodenaya, como fez o peregrino italiano, aí vai encontrar o verdadeiro espírito jacobeo, não digo mais, vai saber passar por lá! Grato pelos seus belos relatos dos Caminhos de Santiago. Bom caminho sempre.
ResponderExcluirObrigado pela dica. Buen Camino!
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