Fiz a imagem
acima em 25 de junho de 2009, durante a 20ª etapa – de Hospital de Órbigo a
Santa Catalina de Somoza (26,6 km) – de minha peregrinação pelo Caminho Francês
a Santiago de Compostela, iniciada em Saint Jean Pied de Port. Foi a
primeira de seis peregrinações a Santiago de Compostela.
Resgatei a
foto em função das pesquisas que faço sobre a eventual – quem sabe? talvez? porque
não? – próxima peregrinação ao universo de Santiago. Alargo para “universo” de
Santiago, pois, na verdade, foco a possível peregrinação pelo Caminho
Lebaniego. E há neste itinerário referências interessantes a Santiago, o
apóstolo de Jesus, cujas relíquias na Catedral de Compostela dão sustentação ao
fenômeno das peregrinações.
Para quem
não sabe, e estou certo que muitas pessoas nada sabem sobre o que vou escrever, o
Caminho Lebaniego é uma das quatro rotas de peregrinação incluídas em Bula
papal que dispõe sobre Ano Jubilar, quando ao peregrino se concede a graça da indulgência
plenária. As outras três rotas para as quais foram editadas Bula levam a
Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela.
A Bula é do
Papa Julio II e data de 23 de setembro de 1512, quando se anunciou o Ano
Jubilar Lebaniego todo ano em que o 16 de abril, Dia de Santo Toríbio de
Astorga – sim o Santo do Cruzeiro da foto, na entrada de Astorga –, cair em
domingo. É o que acontecerá em 2017! O anterior foi em 2006.
Em
Compostela é Ano Jacobeo, ou Ano Santo Compostelano, quando 25 de julho cai em
domingo. O mais recente foi em 2010 – quando lá estive após peregrinar o
Caminho Português – e o próximo será em 2021.
As
relíquias de Santo Toríbio estão no Monastério de Liébana. E, além delas,
também está no Monastério a Lignum Crucis,
ou “madera de la cruz”, que é maior pedaço da cruz de Jesus Cristo, referente
ao braço esquerdo. A madeira é de uma espécie de árvore da Palestina e foi
datada, por carbono 14, da época de Jesus. A datação por carbono 14 determina a
idade de artefatos arqueológicos de origem biológica com até 50 mil anos.
Uma
relíquia e tanto!
O Caminho
Lebaniego compreende um traçado de 72,7 quilômetros. Tem início em San Vicente
de la Barquera, localizado a cerca de 60 quilômetros de Santander, a capital da
Comunidade Autônoma da Cantábria, no Norte da Espanha, e se estende até o Monastério
de São Toríbio, em Liébana, situada aos pés do Maciço Central dos Picos de
Europa, na Cordilheira Cantábrica.
Com
certeza, apesar de curto, o relevo não torna o Caminho fácil de peregrinar. A
sugestão dos guias é desafiá-lo em três dias: o primeiro de San Vicente de la
Barquera a Cades, com 28,5 quilômetros... Ops. Para mim, está completamente
fora de cogitação peregrinar quase 30 quilômetros de uma vez e ainda num
primeiro dia. No meio de uma peregrinação é até suportável, como fiz várias
vezes, mas, no primeiro dia, não. Ainda lembro dos 37 quilômetros de meu
primeiro dia no Caminho Português, de OPorto a São Pedro de Rates, e tudo o que
sofri nos nove dias seguintes até chegar a Compostela. No mínimo, esta
primeira etapa de São Vicente de la Barquera a Cades deverá ser, caso minha
peregrinação se concretize, dividida em duas!
A segunda
etapa é de Cades a Cabañes, com 30,5 quilômetros... Absolutamente, não. Da
mesma forma, este trecho haverá de ser, caso a peregrinação se concretize,
fatiado em dois.
Já a
terceira etapa, de Cabañes ao Monastério de Santo Toríbio, soma 13,7
quilômetros. Assim, em vez de três dias, minha peregrinação pelo Caminho
Lebaniego seria realizada em cinco dias.
Hoje, faltam
197 dias para o início do 73º Ano Jubilar Lebaniego – de 21 de abril de 2017 a 21 de abril de 2018. Tenho algum tempo para
refletir e me preparar para aquela que poderá ser minha sétima peregrinação
pelo universo de Santiago. E aí explico porque envolvo Santiago, o apóstolo de
Jesus.
Liébana
está intimamente ligada ao monge mozárabe denominado Beato de Liébana (Ducado
de Cantábria, Astúrias, 701 – Liébana, 798), que foi abade do Monastério de Santo
Toríbio no século VIII, quando o lugar era denominado Monastério de San Martín
de Turieno.
O Beato de
Liébana é considerado importante personagem na Igreja pela posição intransigente
contra a doutrina adocionista, disseminada especialmente na Espanha a partir do
século II, que questionava a natureza divina de Jesus Cristo, afirmando que o
homem Jesus de Nazaré era filho de Deus apenas por adoção.
Também escreveu
o poema “O Dei Verbum” que exalta e promove o culto a Santiago no Norte da
Espanha, proclamando a “Cabeza refulgente de España” e combinando a necessidade
da ajuda divina contra a ocupação dos mulçumanos. Alguns anos depois, já no
século IX, viria a ser descoberto o túmulo do Apóstolo em Santiago de
Compostela – dando início às peregrinações.
Ou seja,
tudo a ver. Desde já, recorro ao mantra: “Passa à frente, Santiago!”
Buen
Camino!
#pedrasdocaminho
Lindo Luiz o relato..eh possível imaginar o documentário...uma história linda que se perpetua no decorrer dos seculos..e você trouxe este momento ao conhecimento e esclarecimento de todos. Abrcs
ResponderExcluirBuen Camino!
ExcluirBuen camino e passa a frente Santiago.
ResponderExcluirViva, Santiago!
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