sábado, 9 de julho de 2022

E daí? Fiz o Caminho Aragonês!

Peregrino na Praza do Obradoiro

Texto abaixo foi escrito há 10 anos...

De trem não é a melhor forma do peregrino chegar a Santiago de Compostela. Mas para mim esta foi a alternativa possível de reencontrar a magnífica Santiago de Compostela, após fazer a peregrinação pelo Caminho Aragonês, de Somport a Puente la Reina – pelas minhas contas, cerca de 190 quilômetros a pé. E apenas até Puente la Reina, pois a partir daí, ou melhor um pouco antes, em Obanos, o Caminho Aragonês se une ao Caminho Francês. E foi exatamente o Caminho Francês que inaugurou, em 2009, a série de minhas peregrinações pelos Caminhos de Santiago. Naquela oportunidade, iniciei o Caminho Francês em Saint Jean Pied de Port e peregrinei em torno de 800 quilômetros a pé nos meses de junho/julho, o que está relatado no primeiro volume da trilogia “Pedras do Caminho”.

Por já ter feito o Caminho Francês, e talvez nem tanto por isso..., afinal, penso em fazê-lo outra vez... mas, pelo fato de ter pouco tempo de férias, não teria condições de continuar a peregrinação pelo Caminho Francês por mais de 600 quilômetros e seguir a pé até Santiago de Compostela.

Além do mais, assim é o Caminho Aragonês: apenas um trecho, em torno de 165 quilômetros – embora no meu caso dei uma ampliada e desviei por uma rota tangencial que leva aos Monastérios de San Juan de la Peña... Como foi possível acompanhar, o Caminho Aragonês atravessa os Pirineus, desde Somport, na divisa com a França, para encontrar em Obanos a rota mais famosa a Santiago de Compostela. A travessia dos Pirineus o coloca ao lado do Caminho Francês e, além da beleza da paisagem, é reconhecida a grande importância que sempre teve na condução de peregrinos por aquela região do Aragão, fosse para Santiago de Compostela, fosse para o trabalho contínuo de evangelização e domínio espanhol em outros pontos da Península Ibérica, na guerra contra os muçulmanos.

Não pensava, contudo, que para um peregrino fosse tão decepcionante adotar outro meio, que não os próprios pés, para ir ao encontro de Santiago. Uma decepção, certamente, que não me contagiou naquele momento, nem deixei que me contagiasse, pois o Caminho Aragonês é fantástico, proporciona experiências únicas e eternas... e, afinal, estava agora em Santiago de Compostela.

Na verdade, não importa se cheguei a pé, a cavalo, de bicicleta, de ônibus, trem ou avião, pois sempre defendi, como peregrino, o respeito a todos os peregrinos que chegam a Santiago por qualquer meio. Como, então, iria me martirizar por ter chegado de trem, e ainda mais, depois de ter peregrinado o fantástico Caminho Aragonês?

Cheguei a Santiago no início da noite de 10 de junho, sob uma fina garoa e me instalei num hotel junto ao casco antigo, já pensando no dia seguinte, em adentrar a Catedral, rever e tocar o Pórtico da Glória, dar um forte abraço na cabeça da imagem de Santiago, por trás do altar-mor, agradecer e orar junto às relíquias do Apóstolo de Cristo, na cripta, confessar, comungar, participar na missa do peregrino e, enfim, vibrar com o espetáculo do botafumeiro!

Fotos, filmes, registrei detalhes da Catedral que não percebi nas duas outras vezes que lá estive, em 2009, ao final do Caminho Francês, e em 2010, Ano Santo, após completar o Caminho Português, desde Oporto. Quantos detalhes! Quantos ainda verei nas próximas vezes em que retornar a Santiago.

Após algumas horas, depois de entrar e sair várias vezes da Catedral, experimentando as várias portas, subindo e descendo as escadarias, sempre sob uma fina garoa, aproveitei para me deliciar com a culinária galega e segui, finalmente, para conhecer a Cidade da Cultura. Fiquei deslumbrado com a concepção e a construção, que já tinha visto num especial de tevê no Brasil, e me motivei a escrever reportagem, capa na edição de junho de 2012 no Jornal Perspectiva, disponível no site www.jornalperspectiva.com.br

Estava programado para ficar mais um dia em Santiago de Compostela – antes de partir para Santander, para descansar na casa dos amigos José Antonio Soto Rojas e Luz Maria, e compartilhar também com o filho José Antonio Soto Conde, que havia passado lua de mel no Brasil, em 2011, com a esposa Maria Angeles, e estavam comemorando o primeiro aniversário da filha Sofia.

No dia seguinte, terceiro e último dia em Santiago de Compostela, voltei a caminhar pelas ruas de pedra, fui à nova Oficina de Peregrinos, para colocar o selo em minha credencial que comprova o Caminho Aragonês. Embora não tivesse o direito de obter mais uma Compostelana, como nas vezes em que completei o Caminho em Santiago de Compostela, fiz questão de colocar o selo, pois, afinal, registra minha passagem por Santiago.

Após a missa, pela primeira vez, fui conhecer o Museu da Catedral, o claustro, o Panteão Real, a Biblioteca, onde está uma réplica do botafumeiro e onde, até aquela data, uma réplica do Codex Calixtinus ocupava o lugar do exemplar original, que havia sido furtado e, até então, continuava desaparecido – mas que viria a ser encontrado dias depois, no início de julho, na garagem na casa de um ex-funcionário da Catedral.

Quantos detalhes! Quantos ainda verei nas viagens futuras a Santiago.

Ah! Da próxima vez chegarei a pé!

Cruz de Santiago na Catedral de Compostela

Coluna do Pórtico da Glória

Imagem de Santiago Apóstolo no altar-mor da Catedral de Santiago

Botafumeiro, no interior da Catedral de Santiago

Freira orienta fiéis sobre os cânticos antes da Missa do Peregrino, na Catedral de Santiago

Santiago Peregrino na fachada da Catedral de Santiago, na Praza do Obradoiro 

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