sábado, 5 de janeiro de 2019

Adiós, Sabbatical!

Duas cirurgias, num intervalo de cinco meses...

Sabbatical, em hebraico, shabbat (שבת); em latim, sabbaticus; em grego, sabbatikos (σαββατικός), é um período de interrupção que pode variar de dois meses a um ano, cujo conceito tem fonte em shemitá, descrita em diversas passagens da Bíblia.

Não sei exatamente o momento, mas em alguma esquina da vida havia decidido que, após um período intenso de peregrinações pelo Caminho de Santiago, era chegada a hora de meu sabbatical. E no meu caso, haveria de ser o mais amplo possível, afastando-me tanto das peregrinações quanto de seus respectivos relatos por meio de livros, e todas as demais implicações que um e outro geram. Não seria tarefa fácil.
Havia acabado de constatar, em junho de 2018, que desde 2009 havia realizado oito peregrinações pelo Caminho de Santiago, das quais uma resgatando a célebre peregrinação de Francisco (de Assis, na Itália, a Compostela, na Espanha) e outra por uma rota tangencial do Caminho, totalizando algo em torno de 2.100 quilômetros a pé; e, de forma correspondente, havia publicado oito livros-reportagem  e já trabalhava para escrever uma ficção ambientada no Caminho de Santiago!
Era, pois, tempo de sabbatical. E, entre algumas inusitadas referências, encontrei ensinamentos relevantes em Levítico XXV, transmitidos pelo Senhor a Moisés... Naquele instante, ainda traduzindo em mim os efeitos da peregrinação realizada em junho de 2017 pelo Caminho Lebaniego, a citada rota tangencial do Caminho de Santiago que atravessa a Cordilheira Cantábrica, havia acabado de editar um livro alusivo por meio do financiamento coletivo proporcionado entre meus amigos e amigos de Santiago.
Informações sobre todo este processo, desde a peregrinação até a publicação de “Lebaniego”, estão nos posts anteriores, ou abaixo, o mais recente datado de 26 de julho de 2018! Naqueles dias, temperando o conturbado momento, estava focado em me recuperar de uma cirurgia crucial, feita há pouco mais de um mês, em 15 de junho, para colocação de uma prótese de titânio na articulação coxofemoral esquerda; ou, como se diz, uma prótese no quadril, para aliviar a intensa dor provocada pela artrose.
E antes que algum desavisado possa atribuir o mínimo fiapo de culpa ou dolo ao Apóstolo Santiago, esclareço que o desgaste da cartilagem articular do quadril pode ser causado por traumatismos antigos, como pela prática do surfe (desde o final dos anos 60), por alterações congênitas da forma do quadril (o que é fato), por doenças da infância e da adolescência que tenham afetado o quadril (que desconheço), ou pelo desgaste puro da cartilagem sem razão aparente.
Aliás, a leitura que faço agora é exatamente oposta; neste instante em que me recupero de ter colocado prótese semelhante na articulação coxofemoral direita, em 23 de novembro, cinco meses após a primeira, executada de forma magistral pelo mesmo dr. Paulo Rogério Ferreira, que carinhosamente apelidei “Mão Santa”. Hoje, não tenho dúvidas de que se resisti bravamente às duas cirurgias, num intervalo de cinco meses, impressionando positivamente o dr. Paulo Rogério, assim com os profissionais da saúde que trataram e tratam de minha reabilitação (especialmente o fisioterapeuta dr. Carlos Bahir de Andrade Jr., que chamo “Dr. Esperança”), foi exatamente por ter caminhado os mais de 2.100 quilômetros do Caminho de Santiago. Ou seja, se não os tivesse peregrinado, teria inevitavelmente sofrido todo o drama da artrose severa em meu quadril, pois o processo degenerativo já se havia instalado – e não teria tanta certeza se estaria comemorando a graça de voltar a caminhar com minhas pernas. Ah! E certamente não teria a mais remota possibilidade de um dia peregrinar o Caminho de Santiago: nem os últimos 100 quilômetros em troca de uma Compostela, muito menos o emblemático Caminho Francês, com seus estupendos 800 quilômetros, que enfrentei durante 29 dias em 2009!
Obrigado, Santiago!
Se o leitor se atentou para as datas, ou “coincidências” (pois, como já explanei em algum dos meus livros, não existem coincidências no âmbito do sagrado Caminho de Santiago!), em 2019 – exatamente em 6 de junho – estarei completando 10 anos do início de minha peregrinação pelo meu primeiro Caminho de Santiago. Naquele dia, abençoado por uma fina garoa, me despedi de Saint Jean Pied de Port, na França, para atravessar os Pirineus e chegar a Roncesvalles, na Espanha, inaugurando uma saga que mudaria minha vida de uma vez por todas...
Buen Camino!

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