Duas cirurgias, num intervalo de cinco meses...
Sabbatical, em hebraico, shabbat
(שבת); em latim, sabbaticus; em grego, sabbatikos
(σαββατικός), é um período de interrupção que pode variar de
dois meses a um ano, cujo conceito tem fonte em shemitá, descrita em diversas passagens da Bíblia.
Não sei
exatamente o momento, mas em alguma esquina da vida havia decidido que, após um
período intenso de peregrinações pelo Caminho de Santiago, era chegada a hora
de meu sabbatical. E no meu caso, haveria
de ser o mais amplo possível, afastando-me tanto das peregrinações quanto de
seus respectivos relatos por meio de livros, e todas as demais implicações que
um e outro geram. Não seria tarefa fácil.
Havia
acabado de constatar, em junho de 2018, que desde 2009 havia realizado oito
peregrinações pelo Caminho de Santiago, das quais uma resgatando a célebre
peregrinação de Francisco (de Assis, na Itália, a Compostela, na Espanha) e
outra por uma rota tangencial do Caminho, totalizando algo em torno de 2.100
quilômetros a pé; e, de forma correspondente, havia publicado oito livros-reportagem – e já trabalhava para escrever uma ficção ambientada no Caminho de Santiago!
Era, pois,
tempo de sabbatical. E, entre algumas
inusitadas referências, encontrei ensinamentos relevantes em Levítico XXV, transmitidos
pelo Senhor a Moisés... Naquele instante, ainda traduzindo em mim os efeitos da
peregrinação realizada em junho de 2017 pelo Caminho Lebaniego, a citada rota
tangencial do Caminho de Santiago que atravessa a Cordilheira Cantábrica, havia acabado de
editar um livro alusivo por meio do financiamento coletivo proporcionado entre meus
amigos e amigos de Santiago.
Informações
sobre todo este processo, desde a peregrinação até a publicação de “Lebaniego”,
estão nos posts anteriores, ou abaixo, o mais
recente datado de 26 de julho de 2018! Naqueles dias, temperando o
conturbado momento, estava focado em me recuperar de uma cirurgia crucial, feita há pouco mais de um mês, em 15 de junho, para colocação de uma prótese de titânio na articulação coxofemoral esquerda; ou,
como se diz, uma prótese no quadril, para aliviar a intensa dor provocada pela
artrose.
E antes que
algum desavisado possa atribuir o mínimo fiapo de culpa ou dolo ao Apóstolo Santiago,
esclareço que o desgaste da cartilagem articular do quadril pode ser causado
por traumatismos antigos, como pela prática do surfe (desde o final dos anos 60), por alterações
congênitas da forma do quadril (o que é fato), por doenças da infância e da
adolescência que tenham afetado o quadril (que desconheço), ou pelo desgaste
puro da cartilagem sem razão aparente.
Aliás, a
leitura que faço agora é exatamente oposta; neste instante em que me recupero de ter colocado
prótese semelhante na articulação coxofemoral direita, em 23 de novembro, cinco meses
após a primeira, executada de forma magistral pelo mesmo dr. Paulo Rogério Ferreira, que
carinhosamente apelidei “Mão Santa”. Hoje, não tenho dúvidas de que se resisti bravamente
às duas cirurgias, num intervalo de cinco meses, impressionando positivamente o
dr. Paulo Rogério, assim com os profissionais da saúde que trataram e tratam de
minha reabilitação (especialmente o fisioterapeuta dr. Carlos Bahir de Andrade
Jr., que chamo “Dr. Esperança”), foi exatamente por ter caminhado os mais de
2.100 quilômetros do Caminho de Santiago. Ou seja, se não os tivesse
peregrinado, teria inevitavelmente sofrido todo o drama da artrose severa em
meu quadril, pois o processo degenerativo já se havia instalado – e não teria
tanta certeza se estaria comemorando a graça de voltar a caminhar com minhas
pernas. Ah! E certamente não teria a mais remota possibilidade de um dia
peregrinar o Caminho de Santiago: nem os últimos 100 quilômetros em troca de
uma Compostela, muito menos o emblemático Caminho Francês, com seus estupendos 800
quilômetros, que enfrentei durante 29 dias em 2009!
Obrigado,
Santiago!
Se o leitor
se atentou para as datas, ou “coincidências” (pois, como já explanei em algum
dos meus livros, não existem coincidências no âmbito do sagrado Caminho de
Santiago!), em 2019 – exatamente em 6 de junho – estarei completando 10 anos do
início de minha peregrinação pelo meu primeiro Caminho de Santiago. Naquele
dia, abençoado por uma fina garoa, me despedi de Saint Jean Pied de Port, na
França, para atravessar os Pirineus e chegar a Roncesvalles, na Espanha, inaugurando
uma saga que mudaria minha vida de uma vez por todas...
Buen Camino!
Nos veremos!!!!
ResponderExcluirVero, hermanito. Nos veremos! Buen Camino!
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