Aos pés
da Catedral de Santiago: agradecer,
agradecer e agradecer...
Mantendo
a estratégia revelada no post
anterior, neste final de peregrinação pelo Caminho Primitivo tentei caminhar os
restantes 55 quilômetros, de Melide a Santiago de Compostela com o mínimo de
planejamento... Assim, em vez de três dias, consegui realizar o trecho em duas
etapas: de Melide a Salceda, 25,2 quilômetros (ou seriam 21,8...), e de Salceda
a Santiago de Compostela, 28 quilômetros (ou seriam 26,3...), perfazendo
(considerando, afinal, as medições do site Gronze) 312,6 quilômetros (ou menos?
ou mais?) desde Oviedo, embora a Oficina de Peregrinaciones da Catedral de
Santiago registre que este Caminho Primitivo tem cerca de 350 quilômetros...
Na
quinta-feira 18, a partir de Melide, atravessei Arzua e dei uma boa esticada
até Salceda, onde fiquei no albergue turístico. Ah! Se todos fossem iguais a
você... Seria esticar demais continuar até Pedrouzo.
Diz o
marco oficial do Caminho, em Salceda, que deste pueblo a Santiago de Compostela a distância é de 26,3 quilômetros –
quase a mesma divulgada pelos guias e sites, que afirmam, de modo geral, que o
percurso tem 26,6 quilômetros, sendo 21,8 quilômetros, de Salceda ao Monte do
Gozo, e mais 4,8 quilômetros, do Monte do Gozo a Santiago.
Sexta-feira
19, ainda pela manhã, cheguei a admitir fazer apenas o primeiro trecho e no dia
seguinte, sábado 20, peregrinar do Monte do Gozo a Santiago, com bastante tempo
para cumprir o ritual na Oficina de Peregrinaciones, visando obter minha
Compostela – o diploma que certifica minha peregrinação –, e estar preparado
para a missa das 12 horas, dedicada aos peregrinos, sempre finalizada com o
espetáculo do botafumeiro, depois saudar o Apóstolo, visitar as relíquias na
cripta da Catedral...
Mas não foi
exatamente assim que aconteceu. No último dia de peregrinação foram mais de 8 horas
caminhando... Iniciei por volta das 7h15, e após sair de Salceda, atravessei uma
sequência de pueblos, como A Brea,
Santa Irene, Pedrouzo...
Para em
Pedrouzo para o café e confesso que foi muito difícil o trecho até o Monte de
Gozo. Ora achava que seria melhor parar, ora que o melhor seria concluir... O
trajeto tem muito asfalto e, sob um sol entre os 30 e 40 graus, passei por
Amenal, San Paio, Lavacolla, San Marcos e, enfim, Monte do Gozo, onde é
possível visualizar, pela primeira vez, as torres da Catedral de Santiago.
Ao
chegar ao Monte do Gozo e tirar as fotos junto ao monumento ao Papa Santo João
Paulo II, sentei numa cadeira do quiosque em frente à Capela de São Marcos e
pedi um bocadilho e dois Aquarius. Fiquei, como sempre, atento aos personagens
do lugar...
Antes de
ir embora, doei dois euros por um artesanato feito pelo hippie do local. Para
agradecer ele perguntou de onde eu era e disse “muito obrigado”. Ele comentou: “brasileiro”,
e um casal de jovens que estava junto sorriu... Voltei para a cadeira onde
estava, peguei a mochila, o chapéu, os dois bastões – ainda pedi mais um
sorvete e uma garrafa de água – e fui embora. Acho que neste momento meu
celular caiu do bolso da bermuda...
Descia o
Monte do Gozo quando dei pela falta do aparelho e voltei imediatamente, cerca
de dois quilômetros, pois nem havia se passado 30 minutos. Era por volta das 15
horas. No Caminho reencontrei o peregrino croata que estava no quiosque e ele
disse que nada se falou sobre achado de celular... Ao chegar ao quiosque, não
havia nenhum peregrino. A cadeira onde eu estava sentado tinha sido levada para
outro local. Ou seja, a cena havia sido alterada... A moça que me atendeu havia
sido substituída e a senhora, que disse tratar-se de sua sogra, ligou para ela
para saber se tinha encontrado meu celular. Nada.
Dois
locais apareceram para dar palpites... Ao anunciar que iria acionar a Polícia,
foi o hippie que informou o telefone de emergência, com a dona do quiosque
fazendo a ligação de seu celular – ou seja, todos colaborando de alguma forma
para resolver o “desencontro”. Já sobre o casal de jovens, o hippie passou a
dizer que não o conhecia. Não era verdade, pois se tratavam com certa
intimidade, com a moça abusando de palavrões. Da mesma forma, a funcionária do
quiosque demonstrou conhecer bem o rapaz, pois perguntou sobre sua mãe – e ele
respondeu que nada sabia sobre ela e que haviam brigado. Nem estavam se falando.
Pelo telefone, contudo, ela me disse que não conhecia o jovem, muito menos sua
namorada... Quando cheguei a Santiago de Compostela, ao registrar a ocorrência,
passei essas informações para a Polícia.
Não
fosse o “desencontro” com o celular, esta última etapa do Caminho Primitivo...
Bem, deixa pra lá, esta última etapa foi perfeita! Muito obrigado! O que
importa é o final da peregrinação... a minha quinta! Cerca de 320 quilômetros
em 13 dias de caminhada!!! Quanta emoção. Nossa! Fica difícil relatar, ainda
mais no ambiente pasteurizado de redes sociais. Gostaria de estar ao lado de
todos os amigos, cara a cara, conversando, trocando energia. Matei um pouco desse
entusiasmo ao encontrar, na Oficina de Peregrinaciones, o jornalista Bruno de
Luca e a equipe do programa “Vai Pra Onde?”, do canal brasileiro Multishow.
Estava lá para pleitear minha Compostela e fui entrevistado sobre o Caminho
Santiago, os livros que escrevi, um material que deverá ser apresentado na
próxima temporada do programa, em setembro, ou outubro...
Tendo em
mãos minha quarta Compostela (não recebi o documento ao fazer o Caminho Aragonês,
de Somport a Puente la Reina, pois é preciso, sim, chegar a Santiago...) constato
que sou Ludovicum Carolum Ferraz. Diferente do Aloisium de 2009, após o Caminho
Francês, e do Aloisium de 2013, ao final do Sanabrês..., mas o mesmo Ludovicum
de 2010, quando peregrinei o Português...
Ao
final, recordando as várias ocorrências, meu Caminho Primitivo ficou diferente
do que havia planejado, citando os quilômetros conforme as medições do site
Gronze...
1ª
Oviedo a Grado: 23,6 km
2ª Grado
a Salas: 21,6 km
3ª Salas
a Tineo: 19,8 km
Descanso
em Tineo
4ª Tineo
a Borres: 15,2 km
5ª Borres
a Berducedo: 25,8 km
6ª Berducedo
a Grandas de Salime: 19,6 km
7ª Grandas
de Salime a Padrón: 29,2 km
8ª Padrón
a O Cádavo: 23,8 km
9ª O
Cádavo a Lugo: 31 km
10ª Lugo
a Ferreira: 29,8 km
11ª Ferreira
a Melide: 20 km
12ª Melide
a Salceda: 25,2 km
13ª Salceda
a Santiago de Compostela: 28 km
Total:
312,6 km
Até a
próxima peregrinação; quem sabe, em 2021, Ano Santo Compostelano. Mas, em qual
Caminho? Minha busca continua...
#pedrasdocaminho
Dia começou iluminado com dúvidas: Monte do Gozo ou direto a Santiago?
Peregrinos em grupos: sim, o Caminho tem espaço para todo
tipo de peregrinação. Escolha o seu e “buen caminho!”
tipo de peregrinação. Escolha o seu e “buen caminho!”
Após café em Pedrouzo
(de onde sai para minha 29ª e última etapa em 2009,
ao peregrinar o Caminho
Francês), o reencontro com bosques fantásticos...
Mais peregrinos em
grupos...
Subindo ao Monte do
Gozo...
Monumento em homenagem
ao Papa Santo João Paulo II, Monte do Gozo
A bela Catedral de
Santiago, com uma das torres já restaurada
Espetáculo do botafumeiro na Missa do
Peregrino
Urna com as relíquias do
Apóstolo Santiago, na cripta da Catedral
Imagem de
Santiago no altar-mor da Catedral
Compostela diz que
sou Ludovicum Carolum Ferraz!
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