sexta-feira, 17 de julho de 2015

Em Santiago reencontro Ludovicum!

Aos pés da Catedral de Santiago: agradecer,
agradecer e agradecer...

Mantendo a estratégia revelada no post anterior, neste final de peregrinação pelo Caminho Primitivo tentei caminhar os restantes 55 quilômetros, de Melide a Santiago de Compostela com o mínimo de planejamento... Assim, em vez de três dias, consegui realizar o trecho em duas etapas: de Melide a Salceda, 25,2 quilômetros (ou seriam 21,8...), e de Salceda a Santiago de Compostela, 28 quilômetros (ou seriam 26,3...), perfazendo (considerando, afinal, as medições do site Gronze) 312,6 quilômetros (ou menos? ou mais?) desde Oviedo, embora a Oficina de Peregrinaciones da Catedral de Santiago registre que este Caminho Primitivo tem cerca de 350 quilômetros...
Na quinta-feira 18, a partir de Melide, atravessei Arzua e dei uma boa esticada até Salceda, onde fiquei no albergue turístico. Ah! Se todos fossem iguais a você... Seria esticar demais continuar até Pedrouzo.
Diz o marco oficial do Caminho, em Salceda, que deste pueblo a Santiago de Compostela a distância é de 26,3 quilômetros – quase a mesma divulgada pelos guias e sites, que afirmam, de modo geral, que o percurso tem 26,6 quilômetros, sendo 21,8 quilômetros, de Salceda ao Monte do Gozo, e mais 4,8 quilômetros, do Monte do Gozo a Santiago.
Sexta-feira 19, ainda pela manhã, cheguei a admitir fazer apenas o primeiro trecho e no dia seguinte, sábado 20, peregrinar do Monte do Gozo a Santiago, com bastante tempo para cumprir o ritual na Oficina de Peregrinaciones, visando obter minha Compostela – o diploma que certifica minha peregrinação –, e estar preparado para a missa das 12 horas, dedicada aos peregrinos, sempre finalizada com o espetáculo do botafumeiro, depois saudar o Apóstolo, visitar as relíquias na cripta da Catedral...
Mas não foi exatamente assim que aconteceu. No último dia de peregrinação foram mais de 8 horas caminhando... Iniciei por volta das 7h15, e após sair de Salceda, atravessei uma sequência de pueblos, como A Brea, Santa Irene, Pedrouzo...
Para em Pedrouzo para o café e confesso que foi muito difícil o trecho até o Monte de Gozo. Ora achava que seria melhor parar, ora que o melhor seria concluir... O trajeto tem muito asfalto e, sob um sol entre os 30 e 40 graus, passei por Amenal, San Paio, Lavacolla, San Marcos e, enfim, Monte do Gozo, onde é possível visualizar, pela primeira vez, as torres da Catedral de Santiago.
Ao chegar ao Monte do Gozo e tirar as fotos junto ao monumento ao Papa Santo João Paulo II, sentei numa cadeira do quiosque em frente à Capela de São Marcos e pedi um bocadilho e dois Aquarius. Fiquei, como sempre, atento aos personagens do lugar...
Antes de ir embora, doei dois euros por um artesanato feito pelo hippie do local. Para agradecer ele perguntou de onde eu era e disse “muito obrigado”. Ele comentou: “brasileiro”, e um casal de jovens que estava junto sorriu... Voltei para a cadeira onde estava, peguei a mochila, o chapéu, os dois bastões – ainda pedi mais um sorvete e uma garrafa de água – e fui embora. Acho que neste momento meu celular caiu do bolso da bermuda...
Descia o Monte do Gozo quando dei pela falta do aparelho e voltei imediatamente, cerca de dois quilômetros, pois nem havia se passado 30 minutos. Era por volta das 15 horas. No Caminho reencontrei o peregrino croata que estava no quiosque e ele disse que nada se falou sobre achado de celular... Ao chegar ao quiosque, não havia nenhum peregrino. A cadeira onde eu estava sentado tinha sido levada para outro local. Ou seja, a cena havia sido alterada... A moça que me atendeu havia sido substituída e a senhora, que disse tratar-se de sua sogra, ligou para ela para saber se tinha encontrado meu celular. Nada.
Dois locais apareceram para dar palpites... Ao anunciar que iria acionar a Polícia, foi o hippie que informou o telefone de emergência, com a dona do quiosque fazendo a ligação de seu celular – ou seja, todos colaborando de alguma forma para resolver o “desencontro”. Já sobre o casal de jovens, o hippie passou a dizer que não o conhecia. Não era verdade, pois se tratavam com certa intimidade, com a moça abusando de palavrões. Da mesma forma, a funcionária do quiosque demonstrou conhecer bem o rapaz, pois perguntou sobre sua mãe – e ele respondeu que nada sabia sobre ela e que haviam brigado. Nem estavam se falando. Pelo telefone, contudo, ela me disse que não conhecia o jovem, muito menos sua namorada... Quando cheguei a Santiago de Compostela, ao registrar a ocorrência, passei essas informações para a Polícia.
Não fosse o “desencontro” com o celular, esta última etapa do Caminho Primitivo... Bem, deixa pra lá, esta última etapa foi perfeita! Muito obrigado! O que importa é o final da peregrinação... a minha quinta! Cerca de 320 quilômetros em 13 dias de caminhada!!! Quanta emoção. Nossa! Fica difícil relatar, ainda mais no ambiente pasteurizado de redes sociais. Gostaria de estar ao lado de todos os amigos, cara a cara, conversando, trocando energia. Matei um pouco desse entusiasmo ao encontrar, na Oficina de Peregrinaciones, o jornalista Bruno de Luca e a equipe do programa “Vai Pra Onde?”, do canal brasileiro Multishow. Estava lá para pleitear minha Compostela e fui entrevistado sobre o Caminho Santiago, os livros que escrevi, um material que deverá ser apresentado na próxima temporada do programa, em setembro, ou outubro...
Tendo em mãos minha quarta Compostela (não recebi o documento ao fazer o Caminho Aragonês, de Somport a Puente la Reina, pois é preciso, sim, chegar a Santiago...) constato que sou Ludovicum Carolum Ferraz. Diferente do Aloisium de 2009, após o Caminho Francês, e do Aloisium de 2013, ao final do Sanabrês..., mas o mesmo Ludovicum de 2010, quando peregrinei o Português...
Ao final, recordando as várias ocorrências, meu Caminho Primitivo ficou diferente do que havia planejado, citando os quilômetros conforme as medições do site Gronze...
1ª Oviedo a Grado: 23,6 km
2ª Grado a Salas: 21,6 km
3ª Salas a Tineo: 19,8 km
Descanso em Tineo
4ª Tineo a Borres: 15,2 km
5ª Borres a Berducedo: 25,8 km
6ª Berducedo a Grandas de Salime: 19,6 km
7ª Grandas de Salime a Padrón: 29,2 km
8ª Padrón a O Cádavo: 23,8 km
9ª O Cádavo a Lugo: 31 km
10ª Lugo a Ferreira: 29,8 km
11ª Ferreira a Melide: 20 km
12ª Melide a Salceda: 25,2 km
13ª Salceda a Santiago de Compostela: 28 km
Total: 312,6 km
Até a próxima peregrinação; quem sabe, em 2021, Ano Santo Compostelano. Mas, em qual Caminho? Minha busca continua...
#pedrasdocaminho

Dia começou iluminado com dúvidas: Monte do Gozo ou direto a Santiago?

Peregrinos em grupos: sim, o Caminho tem espaço para todo
tipo de peregrinação. Escolha o seu e “buen caminho!”

Após café em Pedrouzo (de onde sai para minha 29ª e última etapa em 2009,
ao peregrinar o Caminho Francês), o reencontro com bosques fantásticos...

Mais peregrinos em grupos...

Subindo ao Monte do Gozo...

Monumento em homenagem ao Papa Santo João Paulo II, Monte do Gozo

A bela Catedral de Santiago, com uma das torres já restaurada

Espetáculo do botafumeiro na Missa do Peregrino

Urna com as relíquias do Apóstolo Santiago, na cripta da Catedral

Imagem de Santiago no altar-mor da Catedral

Compostela diz que sou Ludovicum Carolum Ferraz!

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