domingo, 29 de março de 2015

De volta ao começo...

                                                Foto Leandro Ayres
“Santiago é Aqui!”, na Pinacoteca Benedicto
Calixto, em Santos: mais um bom sinal...
Valorizando os sinais que me interessam, ao mesmo tempo em que reduzo a importância daqueles que podem me induzir ao erro, refletindo quase que imediatamente uma forma de manipulá-los e, antes de qualquer estrago, desclassificá-los como tal, levando ao exagero a máxima de me fixar sempre no lado bom dos fenômenos, fiquei extremamente feliz com a resposta que obtive, ainda que esteja baseado no feedback de parentes e amigos, no lançamento de dois novos livros sobre o Caminho de Santiago – já referidos no post anterior, mas que vale a pena lembrar, até para facilitar quem acessa este blog pela primeira vez e... quer saber, também para corrigir informações divulgadas de forma equivocada, talvez mal compreendidas, tantos são os detalhes que envolvem o Caminho de Santiago, e, entre os quais, que fique bem claro: Santiago de Compostela não se localiza no Chile, mas na Espanha!
Dos dois títulos lançados no sábado 14 de março, no belo casarão branco da Pinacoteca Benedicto Calixto, na orla da praia do Boqueirão, em Santos, “Busca sem fim”, o terceiro da trilogia “Pedras do Caminho” (os dois primeiros foram lançados em 2013 e em 2014), relata a peregrinação que realizei em 2012 nos quase 190 quilômetros do Caminho Aragonês, vencidos em oito dias, iniciado em Somport, na fronteira entre França e Espanha, até Puente la Reina, quando ele se encontra... (o que na verdade hoje acontece em Obanos!)... com o Caminho Francês. Sou suspeito, mas considero o conteúdo deste livro fantástico, à altura do que ele representa na trilogia proposta e na revelação singela de que a busca por autoconhecimento, por também exigir a aquisição de conhecimento geral, ainda que no âmbito da simbologia do Caminho – que pode ser considerada uma parábola da vida –, é mesmo sem fim...
“Descobrindo novos Caminhos” reafirma a constatação de que essa busca é realmente sem fim e enfatiza o fiapo de coerência (como se uma eventual coerência fosse necessariamente importante...) que me fez retornar à Península Ibérica no ano seguinte, 2013, para reencontrar Santiago e peregrinar o Caminho Sanabrês – optando para iniciá-lo em Zamora, ainda na Vía de la Plata, e desviar à Oeste em Granja de Moreruela, percorrendo cerca de 420 quilômetros em 16 dias. Um Caminho maravilhoso e que, me sentindo amadurecido pelo conhecimento dos três Caminhos anteriores, me fez adotar a rota alternativa por Verín, junto aos pueblos e aldeias raianas do Norte de Portugal, e depois desviar do Caminho tradicional e ir ao encontro do Monastério de Oseira, enfim, agregar ainda mais valor à peregrinação.
Não tenho dúvidas de que o contexto do evento da Pinacoteca é um bom sinal, tanto pelas coisas boas que aconteceram antes, que permitiram sua viabilização, e mesmo com os percalços, ainda mais neste momento econômico em que está mergulhado o Brasil, estes apenas serviram de bons ensinamentos e fazem parte de todo e qualquer Caminho; como pelas que aconteceram durante, pela presença efetiva de amigos, parentes e pessoas que, para mim desconhecidas, atenderam ao chamado de se surpreender com a mística do Caminho de Santiago, e, inclusive, este é o momento de celebrar a chuva que caiu (em Santiago de Compostela “la lluvia es arte”) e não interferiu na disposição das pessoas que realmente desejavam participar...; e até pelas coisas que ocorreram após, e continuam a me impressionar, seja pela repercussão que o encontro ainda projeta na mídia, seja entre as pessoas que não tiveram a oportunidade de comparecer e lamentam, ah! como gostariam, e que demonstram isso por meio de mensagens pessoais e nas redes sociais, ou através da efetiva compra dos livros.
Assim, na esteira de tantos bons sinais, que, como tentei relacionar, continuam a me perseguir – aliado ao efetivo ânimo pelo lento, mas constante, fortalecimento físico, o que é fundamental, ao lado da saúde mental –, decidi programar para logo meu reencontro com Santiago, especialmente, mas também comigo mesmo, em mais uma peregrinação a Santiago de Compostela. Como se sabe, no ano passado adiei o projeto da quinta peregrinação para viajar com minha amada Sandra, sob o pretexto de comemorar os 30 anos de nossa união e, claro, aproveitar para celebrar a peregrinação de Francisco, de Assis a Santiago de Compostela, realizada em 1214, portanto, há 800 anos – que, aliás, tem sido e ainda será, até julho próximo, motivo de festa e muito júbilo no Caminho de Santiago. Afinal, iniciar minha Sandra nos mistérios de Santiago me proporcionou uma imensa alegria, que agradeço a cada manhã ao acordar, e toda noite quando oro e me preparo para sonhar e descansar.
Mas – pondera alguém e, às vezes, eu mesmo –, há tanto países para conhecer e você vai voltar para a Espanha? E outra vez para o Caminho de Santiago?
De tão singela que é minha convicção, às vezes me parece difícil explicar mais uma vez a dimensão do que representa a fé na peregrinação, ainda que só para mim – apesar de que a experiência é universal e, portanto, capaz de transformar quem quer que esteja disposto. Tento novamente com paciência e me cobro a exigir moderação, e meu interlocutor (ainda que seja eu), que ousa me questionar, parece que não quer entender, ou parece que não consigo me fazer compreender. Então, evito o entusiasmo, não deixo transparecer a agonia, controlo minha ansiedade, e insisto em tentar sorrir – como se meu sorriso fosse capaz de me auxiliar nesta tarefa, quem sabe missão, compromisso, comprometimento, de me inspirar e inspirar pessoas à peregrinação pelos Caminhos de Santiago.
Enfim, o que você ganha com isso? – teima o, o, o..., o demônio.
Nada, ora! – respondo, logo me contrariando: Não, não, não... Ganho tudo, tudo, tudo!!!
E o abismo entre o nada e o tudo se apresenta inexorável, ou apenas se complementa, como o yin e o yang na representação do Princípio Único da Vida. O movimento é muito tênue, reconheço, mas insisto na metáfora de que, me melhorando, ou seja, me lapidando, e cada qual se melhorando – perseguindo o melhor modelo a seu modo e assim envolvendo e influindo a quem possa convencer –, o mundo será melhor. Como uma onda, que não parará jamais... Em última análise, esta é a base do que hoje considero o sentido da vida.
Sim, já adquiri os bilhetes e volto ao “meu deserto” em junho para peregrinar o Caminho Primitivo, desde Oviedo, percorrendo a primeira rota de peregrinação às relíquias de Santiago, que foi inaugurada por Afonso II, o Casto (759/760 – 842), Rei das Astúrias de 791 a 842. Conta a tradição que em 813, ao ser informado pelo eremita Pelayo, a quem foram revelados sinais no céu... na região que viria a ser chamada de Campus Stelae, ou Compostela, o bispo Teodomiro, de Iria Flávia, anunciou o achado a Afonso II, que, acompanhado de seu séquito, deixou a capital do reino, em Oviedo, e rumou ao local indicado, onde mandou construir uma igreja, hoje a fantástica Catedral – dando início ao fenômeno das peregrinações...
Sim, estou de volta ao começo.
Sim, desde já, passo a evocar meu mantra: Santiago, passa à frente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário