sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Caminho no meu corpo...

Marcador de livro: presente
de minha irmã Carmen, de
Santiago de Compostela

– Mas, corro o risco de me quebrar?
– Não!
A resposta, assim mesmo seca, peremptória, como costuma ser a troca de informações com alguns médicos – sempre a exigir uma terceira, quarta, ou quinta opinião... –, aparentemente me aquietou e fortaleceu em mim a convicção de que peregrinarei sim, em junho próximo, o Caminho Primitivo, desde a Catedral de San Salvador de Oviedo, até as relíquias do apóstolo de Jesus, Tiago o Maior, guardadas na cripta da Catedral de Santiago de Compostela.
A resposta, é bem verdade, mais do que simplesmente reiterou meu ânimo, considerando que há algum tempo pesquiso e avalio as opções para, além de definir a data, traçar em quantas etapas será o meu Caminho Primitivo. Na penúltima avaliação, levando em conta os cerca de 320 quilômetros do trajeto, estava prevendo atravessá-lo em 19 (!!!!), sim, 19 etapas, cada uma delas com minguados 16,8 km...
Agora, contudo, ao praticamente cristalizar meu projeto, refiz os cálculos e minha pretensão é percorrer o Caminho Primitivo em 15 etapas, cada com cerca de 21 km, o que, convenhamos, fará uma diferença e tanto. E acho mesmo que é possível! Basta lembrar que caminhei os mais de 420 km do Sanabrês em 16 etapas, cada uma com cerca de 26 km. Tudo bem, mas isso foi há dois anos, em junho de 2013! O que falar então de quatro anos antes, em 2009, quando peregrinei os 800 km do Caminho Francês em 29 dias, com média diária de 27,5 km...
Sim, o inexorável tempo agindo sobre o meu corpo!
Não, não vou me quebrar! Isto também é uma questão de fé. Mas vai doer; sim, vai doer a coluna, com uma série de complicações, e vai doer o quadril, com outras tantas... Mas nada que um bom analgésico ou anti-inflamatório não resolva. O grande problema dessas drogas é tomá-las em dose exagerada e de forma contínua. E não será o caso. Um comprimido de 100 mg de aceclofenaco por dia, num lapso de 15, no máximo 20 dias, está dentro na margem de segurança. Ou não?
– O que o dr. acha? – pondero ao ortopedista que me escuta.
– Sim! – concorda, acrescentando de forma surpreendente: “Prefira o analgésico”.
Minha saúde, enfim, é questão crucial que me preocupa nesses tempos em que me preparo para retornar ao Caminho de Santiago. Uma questão que encontro tempo para aprofundar, compartilhar com as tarefas profissionais e me dedicar à organização do evento que acontecerá dentro de exato 1 mês (mas não 30 dias, considerando que este fevereiro terá 28 dias...), ou de exatos 28 dias, no qual estarei reunindo irmãos, amigos, peregrinos, parceiros, enfim, o povo em geral, para lançar mais dois livros de minha autoria sobre o Caminho de Santiago: “Busca sem fim”, que encerra a trilogia Pedras do Caminho, e “Descobrindo novos Caminhos”, que dá continuidade aos relatos de minhas peregrinações pelos Caminhos que levam a Santiago de Compostela.

“Mas não estaria de bom tamanho lançar um livro de cada vez?”, alguém insiste em me perguntar. Talvez. Não, acho que não. No prefácio de “Descobrindo novos Caminhos” tento esmiuçar a questão da trilogia, da simbologia do 3, numa tentativa, talvez vã, de explicar que o quarto volume, ao dar singela continuidade ao projeto perfeito de Pedras do Caminho, consolidado nas três fases propostas – do encontro comigo, da espiritualidade e do conhecimento –, na verdade não usurpa esta perfeição, mas se integra a ela e ao mesmo tempo oferece uma nova perspectiva, um novo olhar, confirmando que sim, essa busca pelo autoconhecimento, pela espiritualidade, pelo conhecimento... essa busca é mesmo sem fim. Buen Camino!

Nenhum comentário:

Postar um comentário